Mario Zan, existe preconceito contra DJ Digital? 

Mario Zan, existe preconceito contra DJ Digital? 

O auge dos DJs brasileiros começou com os famosos Vinis ou Bolachas, quando talentosos profissionais surgiram com suas performances incríveis sobre dois toca-discos chamados, quase por religião, de Pick Ups Technics MK2. Todo DJ tinha que ter um par destas, lendárias, incomparáveis e caríssimas. Elas foram, por muito tempo, referência de tecnologia para quem era ou não era DJ. 

Ninguém que tocava CD era bem visto, todos eram quase apedrejados em praça pública e, mesmo assim, foi lançado o primeiro aparelho de CD com Pitch, da marca Denon e, mais tarde, a Pioneer chegou com o aparelho que inovaria ainda mais com o famoso CDJ 100 com efeitos incríveis. 

A guerra estava declarada, mas os amantes do vinil começaram a perder feio e, com isso, a magia dos scratchs e back spins começou a desaparecer. Muitos profissionais da Europa se juntaram e forçaram as empresas a fazerem alguma coisa para que os vinis voltassem, para que essa magia voltasse. Elas se mexeram rapidamente. Foi uma corrida contra o tempo, porque a cada dia que passava, os digitais iam ganhando mais espaço e os analógicos estavam sumindo. 

Convidamos o Dj Mario Zan, residente do Zucker Club e Salz em Ribeirão Preto/SP para um bate-papo incrível. Existe preconceito contra DJ Digital? 

Zan nos contou que essa ação é gerada por artistas que tem medo de perder o seu espaço no mercado de trabalho por conta da alta tecnologia, foi o que ocorreu na guerra Vinil versus CD. A tecnologia no ramo da música eletrônica, sempre foi um assunto bem polêmico e que divide opiniões. Há aqueles que entendem categoricamente que a tecnologia ajuda a criação de “pseudo profissionais”, pela facilidade de “manuseio” dos equipamentos, que acabam quase por “fazer tudo sozinhos”, com um simples aperto de botão. Outros, já levam para o lado da evolução no sentido de agregar novas e interessantes possibilidades ao ramo. 

A discussão sobre o assunto é bem acirrada. Mario, conta que há aqueles que entendem das duas formas... mas como? Ele explica... "Realmente como tudo na vida, a “discotecagem”, assim por dizer, também evolui e novas tecnologias, equipamentos e softwares surgem a todo o momento. Porém, a questão (pelo menos para mim) é: O profissional não pode se acomodar diante das facilidades que estas novas tecnologias trazem ao mercado e à profissão de Dj. Realmente vemos muitos que se limitam de tal maneira à apenas certa tecnologia que, quando ela não está presente, o então “profissional” sequer consegue se apresentar e fazer o trabalho que se predispôs a fazer. Estranho? Sim, e muito comum inclusive! Sempre defendi a ideia de tecnologia, mas como um complemento ao conhecimento adquirido de maneira correta, não se limitando a apenas isso ou aquilo, a determinado aparelho ou software, mas como uma forma de evolução até para que não se “pare no tempo”. O que quero dizer com isso... Em uma analogia simples, seria: “Não adianta tanto aprender apenas a dirigir um veículo automático... pois uma hora outra terá que trocar uma marcha!”. 

Mario começou sua carreira há 20 anos, e não teve muitos recursos eletrônicos na escola musical para lhe ajudar na hora de discotecar, senão o próprio ouvido e sua sensibilidade musical. 

Hoje, existe uma porção de botões que praticamente suprem essas necessidades primordiais que faz um bom Dj, o que facilitou o surgimento de “pseudo profissionais” e, nesse sentido, a resposta seria SIM, a tecnologia atrapalhou, principalmente porque o público de hoje em dia passou a dar mais valor à outros aspectos (publicidade, fama, virtualidade) e esqueceu um pouco a qualidade musical... Mas é claro que não se pode generalizar, pois ainda há muita gente que dá real valor... Mas como dito, se a tecnologia é usada de forma a agregar e não limitar, acho muito válido, completou Zan. 

Dou mais um exemplo: “Há muitos anos, quando ainda os discos de vinil eram a maioria entre os Djs, surgiu uma tecnologia e que logo passei a usar em que usávamos as músicas de um noteboook, porém, tocávamos em discos de vinil, pois tudo era interligado, ou seja, as músicas vinham do notebook, porém a “sistemática”de discotecagem eram os discos de vinil. Isso surgiu pois discos de vinil sempre foram caros, e essa tecnologia (Final Scratch/Traktor) surgiu para a redução de custos, facilidade e melhor transporte (carregar 80 discos de vinil por noite é mega pesado, rs) e possibilidade de se tocar uma infinita gama de músicas em vinil, sem tê-los fisicamente.

Como tudo na vida, a tecnologia deve ser usada de maneira racional, a não limitar o profissional e ao mesmo tempo, fazer com que ele apresente sempre algo diferente, interessante e empolgante. Não se esqueça sempre do principal e mais importante elemento disso tudo - A MÚSICA!” Mario Zan.

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