A palavra em (dis)curso

A palavra em (dis)curso

 

Gabrielle Garcia Cardoso

Fabiana de Oliveira Ribeiro

Filomena Elaine Paiva Assolini

 

Da transposição de indivíduo para sujeito, a palavra nos  é fundamental como processo de desenvolvimento, permitindo às pessoas acessarem novas etapas. Como ocorre desde que somos bebês, quando nos comunicamos pelo choro, balbucios e sons inexprimíveis que exprimem muito, mas não substituem a palavra, já que quando falamos a primeira damos motivo de festa para nossa família, pois estamos passando para outra etapa: a verbal.

Assim, o discurso é uma das ferramentas mais poderosas à disposição da humanidade, por isso começamos a usá-lo desde a primeira infância. Por ele expressamos nossos pensamentos, compartilhamos nossas histórias e influenciamos o mundo ao nosso redor. No entanto, a importância do discurso vai muito além da simples comunicação. Ele molda nossas percepções, constrói nossas identidades e define os limites do que é possível imaginar e realizar.

Sendo assim, as palavras, como uma das matérias-primas do discurso, possuem flexibilidade de meios para serem proferidas, como a oralidade, a escrita e são o meio mais eficiente comunicação, por serem capazes de transmitir sentimentos, anseios, ensinamentos e assumir uma papel fundamental dentro das relações dos seres humanos. Ao assumirem sua função dentro da linguagem, passam a ser detentoras de poder, à medida que geram impactos positivos e negativos nas relações sociais e interpessoais dos sujeitos. 

Partindo desse pressuposto, é preciso valorar o quão a palavra está intrinsecamente ligada à alfabetização e ao letramento. Aquele que consegue se comunicar através da escrita se sobrepõe economicamente na sociedade, já dizia a Grande Divisão. Polêmicas à parte, há uma certa hierarquia preconceituosa entre alfabetização e letramento, pois este talvez não seja tão valorizado se o cidadão não for alfabético. 

Além disso, “uma palavra mal dita é igual a uma flecha, uma vez lançada e atingido o alvo marcará para sempre”. O que é posto por Karoline Domingos, ilustra como a palavra assume um papel definidor nas relações: quando dita, não tem como ser apagada, além de gerar interpretações diversas que podem acarretar discussões e frustrações ou aproximar as pessoas. Na verdade, ela é um reflexo do que somos.

Uma vez que em sua essência, o discurso é uma forma de poder, mesmo que seja uma ilusão que haja algum controle das palavras,  das narrativas, e do pensamento coletivo. Portanto, é crucial que sejamos críticos em relação ao discurso que consumimos e produzimos. Devemos questionar quem se beneficia das histórias que nos são contadas e quem é marginalizado ou silenciado por elas. Isso é ideologia!

Assim, a palavra exerce poder em todas as instâncias: ela pode hierarquizar as pessoas dentro da sociedade ou deixá-las à margem dos direitos. Infelizmente, nem todo discurso é construtivo ou inclusivo. Muitas vezes, ele é usado como uma ferramenta de opressão, discriminando grupos marginalizados, promovendo estereótipos prejudiciais e justificando injustiças sociais. Diante disso, é responsabilidade de cada um de nós desafiar e resistir a discursos que perpetuam a desigualdade e a injustiça.

No entanto, o poder do verbo também pode ser utilizado para o bem. Ele pode ser uma ferramenta para promover a empatia, inspirar a mudança social e construir um mundo justo e igualitário. Quando usamos nossas palavras para amplificar vozes subalternizadas, desafiar normas opressivas e criar espaços para a diversidade e a inclusão, estamos contribuindo para a construção de uma sociedade. 

Sem falar que, a linguagem desempenha um papel fundamental na formação de comunidades e na construção de identidades coletivas. Através do compartilhamento de histórias, valores e tradições, o discurso nos une e nos ajuda a encontrar um senso de pertencimento e propósito em um mundo cada vez mais fragmentado e isolado.

Portanto, ao refletir sobre o poder da palavra\discurso, é essencial reconhecer tanto seu potencial transformador quanto suas limitações. Devemos estar conscientes do impacto das palavras que escolhemos usar e buscar sempre promover a compaixão, a justiça e a igualdade em nossas interações. Somente assim poderemos construir um futuro no qual a língua seja verdadeiramente uma força para o bem comum.

 

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