ADOLESCER

ADOLESCER

Donald Winnicott, profissional que dedicou sua vida a acompanhar crianças e jovens, falando sobre as mudanças que, já na década de 60, se observavam na adolescência, considera que há algo permanente que nos habilita a falar dessa fase em diferentes meios socioeconômicos e culturais do mundo atual, apesar de suas transformações. “Na atualidade, os púberes de ambos os sexos podem experimentar a adolescência como um período de maturação, em companhia de quem está passando pelo mesmo transe; e a difícil tarefa de discriminar o que corresponde à saúde do que corresponde à enfermidade da adolescência deveu-se enfrentar essencialmente no período de pós-guerra…”.

Quem era criança durante a Segunda Guerra Mundial, quando chega à puberdade se vê aproximando-se à idade em que seus pais e irmãos maiores voltavam mutilados da guerra ou lá haviam terminado sua vida (em nome de quê?). Esses púberes, que abandonavam sua infância na década de 50 e inícios de 60, precisavam passar da puberdade diretamente a serem adultos jovens. Então, iniciavam uma grande transformação: vivenciavam um tempo em que o adoecer (padecer) poderia ser um tempo para adolescer (crescer).

Pensando na relação entre a situação de pós-guerra e a necessidade daqueles púberes de adoecer-adolescer para se fazerem adultos, e dos adultos de então (vazios de ofertas de vida e frustrados ante o triunfo), de consentir-lhes esse tempo de adolescer, podemos nos perguntar: em que medida os complexos contextos atuais colocam a nossos adolescentes diante da necessidade de inventar outras adolescências, outros modos de adolescer?

Durante as chamadas “Guerras mundiais”, a situação de guerra estava explícita. Atualmente, o mundo está devastado por outros tipos de guerras, chamadas “humanitárias”, que usam bombas chamadas “inteligentes”. Guerras cujos mísseis interferem na subjetividade, criando impotência, vazio, falta de esperança, terror…

É certo que precisamos nos lembrar de nós mesmos, adolescentes, mas, ao mesmo tempo, devemos situar a nossa adolescência no momento histórico em que se deu, muito diferente do momento atual. “O passar do tempo é importante mas não deve ser tratado como se estivesse enfermo. Isso, no entanto, não significa negar que possa haver enfermidade na adolescência... Alguns sofrem muitíssimo, de modo que seria cruel não lhes oferecer ajuda.” - reflexão de Winnicott em uma conferência proferida em 1967.

 Os adolescentes precisam tolerar a interação de vários fenômenos díspares: sua própria imaturidade, as mudanças que a puberdade traz, sua ideia sobre o sentido da vida, suas aspirações, ao que se acrescenta a desilusão pessoal a respeito do mundo dos adultos que, para eles, é essencialmente um mundo de arranjos, de valores falsos e de desatenção ao que realmente importa. Entendendo esses processos psíquicos, estaremos mais preparados para escutá-los e assim encontrar o melhor modo de acompanhá-los.

Quando superam essa etapa, os adolescentes começam a se sentirem reais, adquirem um sentido de “self” e um sentido de “ser”. Do ser deriva o fazer, pois não pode haver um “eu faço” antes de um “ eu sou”, e essa é a mensagem que nos transmitem…”

Que, assim, possam adolescer com saúde!

 

*Baseado no Curso: Pubertad y adolescencia en los contextos actuales- EPSIBA (Espaço Psicopedagógico Brasil/Argentina)Profs. Alicia Fernández y Jorge Goncalves da Cruz

 

Solange Silveira Garcia 

Elaine Assolini

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