ALFABETIZAÇÃO: BREVE REFLEXÃO SOBRE OS PRINCIPAIS MÉTODOS E A PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA

ALFABETIZAÇÃO: BREVE REFLEXÃO SOBRE OS PRINCIPAIS MÉTODOS E A PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA

Com base nos estudos realizados por Tfouni (1995, 1999, 2007, 2008, 2010...2016)  Ferreiro (1993), Ferreiro e Teberosky (1988), Assolini (2003, 2010), Sebra e Dias (2011) e Mortatti (2014), discorreremos brevemente, sobre o histórico das maneiras de alfabetização, com a finalidade de mostrar como vêm sendo historicamente concebidas.

Um dos principais processos dos anos iniciais do Ensino Fundamental é a alfabetização que pode ser entendida como aquisição individual de habilidades requeridas para a leitura e a escrita, de acordo com Tfouni (1995). Uma característica sua é a incompletude, já que se trata de um processo individual, de acordo com a Teoria Sócio-Histórica do Letramento à qual nos filiamos. Trata-se de um processo que não se finda, uma vez que a sociedade está em constante mudança. A alfabetização está fortemente ligada à instrução formal, ou seja, às instituições e práticas escolares (TFOUNI, 1995, p.15).

De acordo com a pesquisadora Mortatti (2008, 2014), ainda se fazem presentes nas salas de aula métodos de alfabetizar que surgiram há tempos, os quais se dividem em analíticos e sintéticos. Dentre os métodos sintéticos estão: fonético, alfabético e silábico e, entre os analíticos, a palavração, sentenciação e o método de textos.

Segundo Mortatti (2008), essas três maneiras de alfabetizar (soletração, fônica e silábica) formam o grupo dos métodos sintéticos que partem de uma unidade menor rumo a uma maior. Ou seja, partem das letras que formam as sílabas, depois formam as palavras rumo ao todo (texto). Esses métodos, dependendo de como são desenvolvidos em sala de aula pelo professor, podem se limitar a dar ênfase à leitura e à escrita apenas como codificação e decodificação, pois almejam ensinar sem levar em conta o contexto dos alunos e a finalidade social das práticas de ler e escrever.

Como os métodos sintéticos apoiam-se, em alguns casos, apenas na prática de codificação/decodificação do código escrito, esses não abrem espaço para que os alunos interpretem e criem sentidos sobre suas leituras. Dessa forma, ler significa tornar sonoro determinado código escrito. Podemos considerar que esse tipo de leitura nas salas de aula, em alguns casos promove “(...) bloqueio à criatividade e à espontaneidade do educando, passividade repetitiva, submissão à leitura absoluta (...) características da leitura parafrástica” (ASSOLINI, 2003, p.2).

Esses modos de alfabetizar (sintéticos), a depender do trabalho do professor, podem não levar em conta o interdiscurso dos estudantes, concebendo a língua como transparente, objetiva, geradora de sentidos únicos e desconsiderando os múltiplos sentidos produzidos a partir de diferentes posições de sujeito.

Tais métodos partem do pressuposto de que o aluno não possui nenhum conhecimento sobre sua própria língua, e tentam ensiná-la de forma solta e descontextualizada, tornando, assim, a língua materna estranha para seus falantes nativos (CORACINI, 2007). Quando se despreza o conhecimento que o aluno já construiu, o seu interdiscurso, o educando torna-se menos confiante e perde a vontade de participar das aulas e aprender.

Refletindo sobre os métodos analíticos palavração, sentenciação e de textos, podemos destacar que esses oferecem ao educando maiores possibilidades de construir e atribuir sentidos ao longo do processo de alfabetização, visto que não se apegam a técnicas e didáticas mecânicas e repetitivas. Entendemos que essas alternativas, por meio dos métodos analíticos, criam condições favoráveis de produção para que os estudantes possam ocupar o lugar de autores de seus próprios dizeres.

Além dos métodos, a Psicogênese da Língua Escrita foi um importante estudo para tal campo da alfabetização. Essa contribuição, trazida por Ferreiro e Teberosky (1988), apresentou-nos um aparato teórico, a Psicogênese, para entendermos os processos e meios pelos quais as crianças aprendem a ler e a escrever.

Ferreiro (1993) afirma que a alfabetização percorre etapas evolutivas, caracterizadas por níveis, começando no nível pré-silábico e chegando até o nível alfabético. Nesse trabalho, o processo é entendido como o caminho que a criança deverá percorrer, para compreender as características, o valor da escrita e a sua função, desde que a escrita lhe seja colocada como um problema de aprendizagem.

Dentro dessa perspectiva, a criança palmilha um percurso para desenvolver seu sistema de escrita, formulando hipóteses a respeito do código escrito. Esse caminho corresponde a determinados níveis: o pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético. Cada nível possui suas características e particularidades em relação à aprendizagem da criança e, quando essa atinge o nível alfabético, teoricamente seria uma criança alfabetizada.

As contribuições de Ferreiro e Teberosky (1988) trouxeram muitos avanços e reflexões em relação à alfabetização.  Porém, se levarmos em conta os postulados de Tfouni (1995, 1999, 2007, 2008, 2010...2016), a alfabetização não pode se prender ao caminho da Psicogênese, já que esta é um processo que se finda ao chegar à hipótese alfabética.

 Para Tfouni (1995), com que concordamos, a alfabetização seria parte de um processo mais amplo, o letramento, que também nunca se acaba, já que a sociedade letrada está em constante mudança e, portanto, trazendo-nos sempre novas demandas e exigências, as quais precisamos (co)responder para sobreviver, e desconfiar do que nos é diariamente impingido como natural ou óbvio. Sem dúvida alguma, saber ler e escrever diferencia as pessoas, tornando-as capazes de pensar minimamente sobre o mundo no qual estão inseridas.

 

Prof.ª Dr.ª Elaine Assolini

Letícia Moraes Souza– Estudante de Iniciação Científica.

Compartilhar: