ALFABETIZAÇÃO: MÉTODO DE CONTOS (Segunda Parte)

ALFABETIZAÇÃO: MÉTODO DE CONTOS (Segunda Parte)

Um dos mais conhecidos métodos globais, o ideovisual, foi criado no início do século XX por Ovide Decroly (1871-1932), médico, psicólogo e educador belga. Pioneiro da Escola Nova, fundou em Bruxelas um instituto para crianças com dificuldades de aprendizagem e, mais tarde, uma escola regular que alcançou grande notoriedade. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) perturbou a marcha de seus trabalhos, mas, após o fim do conflito, as autoridades educacionais belgas adotaram suas idéias pedagógicas.

As bases de sua filosofia de educação podem ser encontradas em Rousseau e suas idéias estão muito próximas às de John Dewey, Kilpatrick e Claparèd e outros adeptos da Escola Nova: respeito à personalidade da criança, a seus interesses, a seu ritmo natural e modos peculiares de ver o mundo. Como os demais escolanovistas, pregava a importância da atividade, da ação e da cooperação.

Decroly propôs que o ensino se desenvolvesse por centros de interesse, e não por matérias isoladas, como se fazia nas escolas tradicionais.

                No desenvolvimento dos centros de interesse, a criança passava por três grandes fases de pensamento: 1ª) observação; 2ª) associação; 3ª) expressão.

                 Em todas essas fases, a linguagem ocupa um lugar especial.

Decroly entendia a leitura como inseparável das atividades de expressão, de observação e de criação. Em colaboração com uma professora primária, experimentou um método de leitura que punha em jogo o que chamava “função de globalização”. Essa função, que explicava a capacidade da criança de captar as formas globalmente, justificaria começar a aprendizagem por frases (unidades de sentido) em lugar de letras (elementos gráficos isolados sem significação).

As primeiras experiências pedagógicas de Decroly foram feitas com crianças com deficiência de visão, audição ou outras. Em parceria com uma professora primária, em 1907 alcançou êxito na alfabetização de um menino surdo, que aprendeu a ler a partir de frases relacionadas com ações da vida cotidiana. Nessas frases, eram utilizados verbos no presente do indicativo ou no imperativo, sugerindo ações que a criança deveria executar para demonstrar compreensão.

         O aluno reconhecia a forma, o desenho total, a imagem gráfica da frase. Em seguida, aprendia a distinguir as palavras por meio de semelhanças e diferenças entre elas; em seguida as sílabas, depois as letras. Esse foi o método ideovisual criado pelo autor.

         Para a criança surda, executar a ação sugerida pela frase – “vá à janela – era a demonstração de que ela (a criança) havia compreendido o enunciado. Não era necessário ler em voz alta, bastava a leitura mental (assim Decroly denominava o que hoje chamamos leitura silenciosa).

          O pesquisador recomendava também o ensino globalizado de palavras que fizessem sentido dentro da realidade da criança. Uma das atividades por ele proposta que mais agradava as crianças eram os jogos de palavras e materiais pedagógicos bonitos e lúdicos, como por exemplo, caixinhas com etiquetas que continham produtos como açúcar, café, chocolate, sal, etc. A criança olhava a etiqueta, provava o produto e associava a escrita ao significado.

         O método ideovisual, também conhecido como método Decroly, foi adaptado por educadores de escolas regulares; destinando-se a todas as crianças em fase de alfabetização.

Para terminar, lembramos que as frases que servem como ponto de partida são tiradas de histórias, canções, parlendas e poesias, ou mesmo produzidas e ilustradas pelas crianças.

É recomendável que o método seja atualizado, ressignificado e adequado à realidade escolar, e, em especial a sala de aula.

É importantíssimo também que o professor estude, prepare-se e se organize para o trabalho pedagógico com a alfabetização.

Profª Drª Elaine Assolini

Referências Bibliográficas

BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1991.

CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e letrar: um diálogo entre a teoria e a prática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

DECROLY, Ovide. Problemas de psicología y pedagogía. Madri: Francisco Beltran, 1929.

 

 

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