ALFABETIZAÇÃO: MÉTODOS DE CONTOS  (Primeira Parte)

ALFABETIZAÇÃO: MÉTODOS DE CONTOS (Primeira Parte)

                       Não é recente a ideia de alfabetizar a partir de textos. Por volta do final do século XIX, educadores norte-americanos – conhecedores do interesse da criança pelas narrativas e de sua capacidade para memorizar rapidamente as historietas ouvidas – criaram o método da historieta ou do conto. Com a ajuda do professor, os alunos criavam um texto para relatar um fato interessante ou para contar uma história. Geralmente, o professor lançava mão de desenhos para ilustrar as sucessivas frases e assim facilitar a atribuição dos possíveis significados. A partir desse texto, chegava-se à análise das frases, das palavras, das sílabas e, finalmente, as letras.

            2 – Nas primeiras décadas do século XX, o educador francês Célestin Freinet criou e divulgou o seu método de alfabetização a partir do texto, conhecido como Método Natural Freinet.

                   Professor primário durante toda a vida, trabalhando com crianças pobres do meio rural, Freinet combatia a pedagogia tradicional, buscava novas soluções, teorizava e escrevia sobre a própria experiência. Costumava sair com os alunos pela aldeia ou pelos campos, atividade que denominava “aula-passeio”. De volta à escola, escrevia no quadro pequenos textos para registrar o que tinham observado.

            O método natural pressupõe que a criança se familiariza com a escrita por imersão na escrita. Ela aprende a ler lendo, a escrever, escrevendo.

                  “(...) Pelo método natural a criança consegue ler, sem lição especial, e sem b a ba, pela vida, pelo meio escolar e social, servida e refletida pela imprensa, pela correspondência, pelo desenho e pela expressão sob todas as suas formas. Suprimimos assim as fastidiosas sessões de repetição que os educadores usam tanto com os alunos; dominamos o sentimento de impotência da criança que aprende muito cedo a traduzir em textos impressos, o seu próprio pensamento”. (FREINET, CÉLESTIN, 1977, p. 57).

                 2.2 – Para entendermos o andamento do método, podemos consultar a descrição e análise do processo de alfabetização da filha única do casal Freinet (a esposa de Freinet, Elise, era também professora e militante).

      “A menina que a princípio se expressava pelo desenho, passou a “assiná-los”, depois atravessou uma etapa de rabiscos que imitavam letras, em seguida começou a produzir algumas palavras com ortografia convencional, em bilhetes para os pais e outros escritos sociais. Pode-se concluir que a criança, vivendo num ambiente letrado, observou a escrita à sua volta, possivelmente fez perguntas, inferências, adivinhações, enfim, empreendeu esforços para compreender o sistema de escrita e construiu suas hipóteses, como diriam hoje os construtivistas”. (FREINET, Elise, 1977, p. 77).

            O ensino da língua materna, para Freinet, deve desenvolver-se em situações sociais de uso da leitura e da escrita. Além da imprensa escolar, outras técnicas criadas e aperfeiçoadas por ele foram a correspondência entre alunos de diferentes turmas e escolas, o jornal escolar, a biblioteca – centro de documentação (não apenas com livros, mas com variados tipos de material impresso). Tudo isso revelava a concepção do autor de que a escrita e a leitura têm um significado social, existem para servir ao homem em suas lutas, no seu trabalho, na expressão de suas idéias. Em lugar de atividades puramente formais, propunha que os alunos, desde tenra idade, escrevessem e lessem para serem compreendidas e para entrar em relação com os outros.

No Brasil, o método de contos não chegou a ser aplicado em ampla escala, a não ser em Minas Gerais, com o apoio do governo do estado ao tempo da Reforma Francisco Campos.

            A professora Lúcia Casasanta, que ensinava metodologia da linguagem na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Minas Gerais, foi a grande divulgadora do Método Global de Contos. Durante cinco décadas (de 1920 a 1970) formou várias gerações de alfabetizadores que consideraram o método de contos como “o mais adequado para a aprendizagem inicial da leitura para crianças”. (Professora V.C.W. – Orlândia-SP, Brasil).

            Casasanta (citada por Maciel, 2000) assim descreveu as etapas do método: 1ª) fase do conto; 2º) fase da sentenciação; 3º) fase das porções de sentido; 4º) fase da palavração; 5º) fase da silabação.

O método não previa a utilização de livro didático, o que constituía uma dificuldade para muitos professores que, apesar de receberem orientação e supervisão sentiam-se inseguros no que diz respeito à seleção de textos a serem trabalhados.

            Atualmente, no sistema educacional brasileiro, encontramos educadores que optam pelo método de contos para realizar o processo de alfabetização. É importante que tal método seja atualizado, ressignificado e adequado à realidade escolar e da sala de aula.

Profª Drª Elaine Assolini

Referências Bibliográficas

BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1991.

CLAPARÈD, Edouard. Lê développement mental. Neuchâtel / Paris: Delachaux e Niestlé, 1946,

FREINET, Célestin. O método natural I : a aprendizagem da língua. Neuchâtel: Delachaux et Niestle, 1968. (Lisboa: Estampa, 1977).

MACIEL, Francisca. Alfabetização em Minas Gerais. Adesão e resistência ao método global. Lições de Minas – 70 anos da Secretaria de Educação, Set/2000, p. 144-166. Belo Horizonte.

 

 

 

 

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