AVALIAÇÃO FORMATIVA EM TEMPOS DE PANDEMIA: um instrumento de apoio no processo de alfabetização

AVALIAÇÃO FORMATIVA EM TEMPOS DE PANDEMIA: um instrumento de apoio no processo de alfabetização

Carla Gianezi

 

No cenário atual da educação brasileira na qual o ensino remoto está presente, instalada desde março de 2020 aqui no Brasil, devido ao Novo Coronavírus, muitos conceitos sobre avaliação passaram a ser discutidos e repensados no ambiente (virtual) escolar. O professor teve que se reinventar assim como reconstruir novas práticas de ensino, e, sobre “como verificar a aprendizagem”, não seria diferente.                 

Professores e alunos acostumados a sala de aula presencial, tiveram que ser transportados para um outro ambiente, o virtual, em que ficam separados pela tela de um notebook ou aparelho celular. Para o professor, inevitavelmente, uma transformação rústica, em que teve que buscar ferramentas e reaprender o seu fazer docente, replanejando suas aulas, seus conceitos e metodologias. 

As plataformas digitais têm sido alternativas positivas no uso mais frequente entre professores e alunos, fazendo com que a aprendizagem   aconteça, através de aulas online, programas que permitem que o professor desenvolva seus conteúdos e atividades reflexivas, a oralidade entre os alunos, como por exemplo o google meet, o classroom e zoom.

Ferramentas que permitem total autonomia do professor, no planejamento e execução de suas aulas, possibilitando a personalização do ambiente virtual, assim também, como a configuração das postagens para que fique de acordo com seu plano de aula. Garantindo também que essas aulas fiquem gravadas para que os alunos tenham acesso quando quiserem.

Todas essas propostas acontecem para que haja menor o impacto possível na aprendizagem das crianças, até que as aulas presenciais voltem ao normal. Não dá para ficar de braços cruzados esperando tudo isso acabar, portanto a preocupação sobre o que ensinar e como avaliar é algo constante no dia a dia do professor.

Tais tarefas não têm sido tão fáceis assim por parte dos professores: proporcionar um ambiente acolhedor e desafiador. A busca constante de dar essas condições aos educandos é algo que deve estar presente em todas as aulas e atividades.

Vale ressaltar que a avaliação, há algumas décadas, era vista apenas como provas, notas, conceitos, boletins, recuperação e reprovação. Sua principal função era julgamento de resultados, (in) capacidades dos alunos e classifica-los de acordo com seus desempenhos.

Esse era apenas o único conceito que as escolas seguiam, rotulando através de notas, alunos “bons” e alunos ruins”, pois esse tipo de avaliação verificava os conteúdos até então ensinados, em cada bimestre e por consequência, o professor cobrava esses conteúdos através de provas escritas.

Sendo assim, nas situações citadas acima, o aluno estudava através de memorização de conteúdo, a repetição da fala do professor e de textos, decorava perguntas e respostas (questionário) após ser dado um texto para que futuramente em provas que pudessem reproduzir tudo que foi dado durante o bimestre.

Esse olhar historicamente construído sobre avaliação, percorreu por muitos séculos até que finalmente surgiram novos conceitos, transformando essa ferramenta em algo útil, a favor do professor como uma reflexão da ação docente, quebrando o paradigma defendido até então, e também é favorável ao aluno, pois são avaliados a partir de conhecimentos adquiridos ou não.

 “Como avaliar” e “o que” nas crianças que se encontram no processo de alfabetização através do ensino remoto? Essas são questões que muitos professores tem enfrentado em sua nova rotina sendo ações constantes e pertinentes.

Segundo HOFFMANN (2017) para que se construa o significado da ação avaliativa, é necessário revitaliza-la no dinamismo que encerra de ação-reflexão-ação no dia a dia das salas de aula. Ou seja, uma observação permanente no sentido de descobrir possibilidades de aprendizagem de cada aluno, no seu processo de aprendizagem. Uma tarefa nada fácil no ensino remoto, mas possível e necessária para que realmente a avaliação seja de fato positiva.

A avaliação em tempos atuais, de acordo com suas funções, é classificada em três modalidades, segundo ( SANT´ANNA):

 ● Diagnóstica - busca identificar a presença ou ausência de determinados conhecimentos ou habilidades e pré-requisitos para novas experiências permitindo um planejamento de caminhos a serem traçados e retorno dos objetivos não alcançados. Deve ocorrer no ciclo inicial de estudos.

● Formativa - realizada com o objetivo de informar ao professor e aluno sobre os resultados encontrados durante o processo de aprendizagem. “É chamada de formativa no sentido que indica como os alunos estão se modificando em direção aos objetivos.

Somativa - Tem a função de classificar quantitativamente o aluno ao final da unidade, considerando o nível de aproveitamento dos conteúdos. Esta é realizada apenas ao final de cada ciclo de ensino.

A partir dessa reflexão da autora sobre os tipos de avaliação, a formativa é a que mais está adequada ao ensino remoto, quando se parte do princípio de encontrar ou confirmar pistas sobre a aprendizagem dos alunos, verificando o que já conseguiram aprender, através de reflexões, sendo subsídios importantes eficazes nas ações significativas e na percepção por parte do professor, sobre as dificuldades dos alunos.

Essa avaliação permite a reformulação da prática e ação pedagógica, fortalece a intervenção do professor que é a de mediador na transformação do sujeito. Uma ferramenta sensata tendo em vista o cenário atual em que as aulas passaram a ser remotas.

Valorizar os conhecimentos já construídos pelos alunos e traçar novas metas para cumprir o que ainda falta. Ao invés de apontar “certo ou errado” e de atribuir pontos e conceitos, auxiliar os alunos em suas dificuldades, fazer comentários construtivos que levem a reflexão de seus “erros”, e oferecer-lhes oportunidades de descobrirem melhores caminhos para chegar a possíveis soluções, são de fato imprescindíveis ao professor.

Assim sendo, as atividades avaliativas que contribuem para o aprendizado e verificação de aprendizagem são aquelas feitas a partir de debates entre os alunos sobre um assunto ou tema de um texto através de leitura compartilhada, em que os alunos têm a oportunidade de expressarem suas opiniões, trocarem ideias e experiências, construindo novos conceitos e reflexões.

O ensino baseado em gêneros textuais será sempre consolidado numa avaliação formativa do processo ensino aprendizagem, através de hipóteses, reformulação de ideias, questionamentos por parte dos alunos e também do professor.

Para consolidar a importância do estudo com textos, Orlandi (2020), afirma que o que chamamos de historicidade é o acontecimento do texto como discurso, o trabalho de sentidos nele. Sem dúvida há uma ligação entre a história externa e a historicidade do texto (tramas de sentido nele), mas essa ligação não é direta, nem automática, nem funciona com uma relação de causa e efeito. ( ORLANDI, p.66, 2020).

Deste modo,  dentro dos texto não há algo pronto e acabado e sim um universo rico de muitas possibilidades de descobrimento e reflexões cabendo ao professor, fazer relações com a exterioridade desse texto, de acordo com as situações e contextos em que os alunos estão inseridos, como por exemplo,  temas e discussões que estejam interligados , fazendo a interface com o objeto de estudo, os sentidos produzidos a partir de um determinado trecho, a linguagem empregada e sua historicidade e das relações dele com o mundo.

Diante dessa reflexão da autora, avaliar a partir dessa prática de leitura   evidencia os reais aprendizados dessas crianças, pois tais processos de interlocução há sujeitos se constituindo, que tem em si conhecimentos já construídos e outros a serem descobertos.

 Para Assolini (2003) enxergar-se como um sujeito capaz de (re)criar sentidos, desenvolver uma escuta atenta, fazendo cortes e intervenções na materialidade linguístico-discursiva podem ser alternativas para o aprimoramento da condição de intérprete.

Assim sendo, o professor deve estar sempre atento para provocar nesses sujeitos questões a serem discutidas, a partir de suas experiências, dúvidas e opiniões ali presentes durante a escuta de um texto, contribuindo para que também seja um momento de avaliação formativa, verificando a participação e posicionamentos frente a essa situação proposta.

A produção de texto, seja ela escrita ou oral, também é um momento em que o professor poderá avaliar como o aluno tem aprendido, através de suas escritas e também do discurso oral, como por exemplo reconto de histórias já lidas durante a aula, verificando seus avanços e dificuldades.

As formações discursivas presentes em tais produções sejam orais ou escritas disponibiliza uma formação de sentidos, pois tudo que dizemos ou escrevemos representada a partir da linguagem, sua ideologia, produz seus efeitos, a partir de uma posição dada e uma construção sócio histórica.

Para HOFFMANN (2018) a avaliação como acompanhamento do processo de construção do conhecimento ocorre ao longo do processo educativo, nunca ao final. Registros significativos de avaliação, portanto, são construídos pelo professor ao longo do processo.

Nesse sentido, o professor deve observar, planejar, registrar os avanços de seus alunos assim como dificuldades vistas por ele, reorganizar suas aulas e seus objetivos, traçar novas metas, reelaborar novas metodologias e traçar novos planos, por isso a avaliação formativa é tão importante nesse processo para que o aluno chegue ao conhecimento.

Portanto, conclui-se que a avaliação formativa sob um aspecto de construção revela-se, então, como um olhar atento dessa modalidade de ensino e aprendizagem, na qual há a valorização do processo de aprendizagem em relação ao produto final, relacionando-se ao formar sujeitos, e, assim, potencializar os fatores que corroboram a defesa da construção do conhecimento em práticas pedagógicas.

 

REFERÊNCIAS

ASSOLINI, F.E.P. 2003. Interpretação e letramento: pilares de sustentação da autoria. Ribeirão Preto, SP. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 269 p.

HOFFMANN, Jussara. Avaliação: Mito e desafio uma perspectiva construtivista. 45º edição, Porto Alegre, RS: Mediação, 2017.

________________. Avaliação Mediadora: Uma prática em construção da pré escola à universidade. 34ª edição, Porto Alegre, RS: Mediação, 2018.

ORLANDI, P.ENI. Análise de discurso.13ª edição, Campinas, SP: Pontes, 2020

SANT’ANNA, Ilza Martins. Por que avaliar? Como avaliar? Critérios e instrumentos. 11ª Edição, Petrópolis, RJ: Vozes, 2005

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