ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA E A POSIÇÃO DE INTÉRPRETE-HISTORICIZADO

ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA E A POSIÇÃO DE INTÉRPRETE-HISTORICIZADO

Introdução

O ensino de línguas vem se tornando de suma importância para os profissionais de diversos países. Tanto na área profissional quanto na área de lazer, a língua inglesa vem cada vez mais ganhando força; a globalização, as tecnologias vindas de países que falam esta língua (e até mesmo países que não falam, mas traduzem manuais para essa língua), fazem com que o inglês se torne importantíssimo.

Inúmeros métodos foram criados para que seu aprendizado seja feito de forma mais rápida ou natural, e é notório o crescente número de escolas de inglês no mundo todo, alunos da América do Sul e da Ásia têm uma presença marcante nas escolas de imersão, ou seja, estudar inglês em um país que o fale, há também alguns métodos que devem ser enfatizados na busca pela aquisição de uma nova língua. Segundo Larsen-Freeman (2013, p.46, tradução nossa), “Como o método de tradução gramatical não era muito eficaz na preparação dos alunos para usar a língua-alvo de forma comunicativa, o método direto tornou-se popular”.

Há alguns métodos de ensino de línguas que devem ser salientados.

           

O Método Tradicional (ou Método da Gramática – Tradução)

O método da gramatica - tradução é o que permite com que o aluno leia na língua-alvo. Nesse tipo de método, a pronúncia e os exercícios de audição não são importantes e as traduções para a língua materna são permitidas. Ele foi, a princípio, usado para que houvesse o aumento intelectual de cada aluno, segundo Larsen-Freeman ( 2013, p.39):

Muitas vezes o que eles traduzem são leituras na língua-alvo sobre algum aspecto da cultura da comunidade do idioma alvo. Os alunos estudam a gramática de forma dedutiva; Ou seja, as regras e exemplos gramaticais são dados, são instruídos a memorizá-los e pede-se para aplicar as regras a outros exemplos. Eles também aprendem paradigmas gramaticais tais como conjugações verbais. Eles memorizam equivalentes de idioma nativo para palavras do vocabulário do idioma.

Nesse tipo de estudo, se o aluno não acerta a resposta, então cabe ao professor dar a resposta mais plausível: “Se o aluno não acertar cabe ao professor fornecer a resposta certa” (LARSEN-FREEMAN, 2013, p. 40).

 

Método Direto

Nesse tipo de método a tradução não é permitida, o aluno deve buscar o significado da palavra dentro da língua alvo. Assim, quando ele pensar em uma palavra ou verbo, ele pensará a língua alvo e não na sua língua nativa. Segundo Larsen-Freeman (2013, p.46), o método direto tem uma regra importante: “a tradução não é permitida”, e segue dizendo: “a palavra deve ser apresentada com a ideia da língua alvo”.

Esse método também apresenta duas características muito importantes que são a autocorreção dos alunos e não haver hierarquia dentro da sala de aula, professores e alunos trabalham juntos no processo de significar em outra língua, professores buscam que os alunos vejam onde está o erro, e o aluno não é tão passivo nessa relação de aprender ensinar (LARSEN-FREEMAN, 2013).

 

Método Audiolingual

Nesse método o aluno deve responder a perguntas de acordo com o condicionamento. Algumas frases são decoradas e, assim, o aluno teria uma base para falar a língua. Segundo Larsen-Freeman (2013 p.70), “o aluno deve repetir várias vezes, assim, quando ele for falar, ele não precisa parar para pensar, eles formam novos hábitos de fala”. Nesse modelo os alunos imitam o que o professor diz e não há espaço para autoria, os professores têm que evitar ao máximo os erros dos alunos, eles têm que condicionar o aluno a falar da maneira correta. Trata-se de um método de bases behavioristas.

 

Importância do método direto

Segundo Bollela (2002), aqueles alunos que buscam o curso de inglês e já têm o conhecimento prévio, geralmente estão insatisfeitos com sua pronúncia e compreensão oral do idioma, e os professores também ficam inseguros com a sua pronúncia. É nesse sentido que se faz importante o método direto pois a confiança gerada nesse no sentido de propiciar a autoria do aluno, em que ele pode se comunicar sem que ele fale assim como os nativos da língua, fazem dele um método de suma importância no trabalho do professor e, assim, o aluno ganharia mais confiança para usar a língua.

O método direto tem a importância de fazer com que a pessoa seja a autora das próprias frases, muito diferente de outros métodos que usam somente leitura e repetições para instrumentalizar de forma básica para situações ideais, e nós entendemos que as situações cotidianas fogem das situações ordinárias, do previsível.

Schaden (2015) nos traz que Assolini, em trabalhos compreendidos entre 2003 e 2014, desenvolve a noção de “intérprete-historicizadado” afirmando que, para aprender, o sujeito deve superar a repetição, e começar a interpretar e se posicionar como autor. Ainda segundo Assolini, “(...) o “intérprete” é o sujeito reprodutor dos sentidos que ilusoriamente se entende como origem dos sentidos e defende a relação direta entre palavra e sentido (...)” (SCHADEN 2015, p. 119)

A perspectiva da Análise de Discurso (AD), procura entender como o homem fala, o percurso da língua, as mudanças, a linguagem como intermediadora entre o homem e a linguagem natural e social; trabalha com maneiras de significar, ciências sociais e linguística (ORLANDI, 2009).

Quando trabalhamos o método direto devemos nos atentar à importância dele para a posição do sujeito, onde ele possa ser autor/intérprete de uma situação, e não apenas um reprodutor de um enunciado.

 

Considerações finais

Quando aprendemos outras línguas é importantíssimo que olhemos como as pessoas se situam dentro de situações presenciadas e vividas, para que assim elas possam implementar isso dentro de seu cotidiano.

O olhar discursivo da AD, com o qual ainda estamos tomando contato, pode colaborar para fazer reflexões a respeito do método direto como oportunidade para que o sujeito busque a língua alvo na posição de intérprete-historicizado, aquelas situações em que ele possa de uma forma satisfatória reconhecer dentro do que ele viveu, e responder de acordo com a sua vivência.

O método direto oportuniza, para a pessoa que almeja a língua alvo, o senso de independência; dá ao sujeito a liberdade para se expressar, pois ele não ficará condicionado a meras repetições, ele poderá criar as próprias frases a partir daquilo que ele acredita, das suas sensações do mundo; é um método menos automatizado, por isso, é de suma importância que os profissionais da área de ensino de línguas busquem recursos para que o aluno aprenda a enxergar a língua como algo alcançável e não como, simplesmente, algo que ele somente reproduz.

O aluno pode, sim, ser o autor das suas frases, ele deve elaborar e fazer parte do conhecimento, ele deve ser um sujeito ativo nessa situação, assim teremos um melhor aprendizado e uma melhor inserção dentro da cultura da língua alvo.

Por isso, intentamos empreender uma pesquisa com maior profundidade sobre o método direto enquanto possibilitador da assunção da posição de intérprete-historicizado, investigando as ideologias e discursos que podem atravessar e sustentar certas práticas de ensino de línguas.

 

Fernando Del Grande

Elaine Assolini

 

Referências

BOLLELA, M. F. de F. P. Uma proposta de ensino da pronúncia da língua inglesa com ênfase nos processos rítmicos de redução vocálica. Araraquara, 2002. 308 p. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Ciências e Letras, Câmpus de Araraquara, Universidade Estadual Paulista ― Júlio de Mesquita Filho, Araraquara, 2002.

CELCE-MURCIA, M. (ed.). Teaching English as a second or foreign language. USA: Heinle & Heinle, 2001.

LARSEN-FREEMAN, D. Technique and language principles in language teaching. 3° ed. London: Oxford, 2013.

RICHARDS, J. C.; RODGERS, T. S. Aproaches and methods in language teaching. United Kingdon: Cambridge University Press, 2001.

 SCHADEN, É. M. As (im)possibilidades de graduandos do curso de Pedagogia constituírem-se como sujeitos intérpretes-historicizados: uma análise sobre os estágios curriculares supervisionados. 2015. 299f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2015.

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