CURADORIA DE CONTEÚDOS NA ESCOLA

CURADORIA DE CONTEÚDOS NA ESCOLA

Joster Lopes

 

É vertiginosa a velocidade com que as informações são produzidas. Hoje é impossível acompanharmos e nos apropriarmos de tudo o que é lançado nas redes sociais, nos jornais eletrônicos e nos noticiários de forma geral. São tantas informações, que acabamos vivendo a era da desinformação, por isso, quem vende informação, cada vez mais, desenvolve técnicas para que os leitores possam consumi-la, dada a capacidade limitada que temos de abstrair tudo que nos é ofertado.

Com tanta informação, surge a necessidade da segurança epistêmica, que vem assegurar as informações consumidas, bem como suas fontes e sua veracidade, evitando, dessa forma, que consumamos notícias falsas e construamos conhecimentos errôneos. Sobre isso, Isabel Alarcão (2003), diz que a sociedade da informação, constitui-se num sistema aberto e global, com diferenças de acesso à informação que causam a exclusão. Nesse contexto, o grande desafio da escola é promover a construção de competências, para que os alunos possam filtrar informações e estejam preparados para a vida em sociedade.

Assim, a escola surge como uma grande guardiã dos conhecimentos, porque deve fazer o tratamento da informação a ser trabalhada com os alunos, bem como construir as competências necessárias neles para que eles possam: criticar, sintetizar e avaliar o que deve ser consumido em termos de informação, transformando-a, consequentemente, em conhecimento.

Diante disso, Rasquilha e Veras (2018), desenharam um cenário de grandes transformações na década de 2020 a 2030 e, dentro desse cenário, definiram dezoito predições para o futuro da sociedade e da educação nessa década. Dentre essas predições, uma versa sobre a instantaneidade, o imediatismo e a impaciência, pois o tempo é cada vez mais precioso e, por isso, cada momento de espera precisa ser recompensado com algo absolutamente único e relevante, sem tempo para perder, buscamos pelo mais rápido, que muitas vezes não é o melhor. As predições trazem, também, a reflexão sobre a cultura da inovação e a inovação disruptiva, em que a inovação passa a ser vista como algo capaz de transformar ecossistemas empresariais e educacionais, sendo responsabilidade de todos que coabitam-nos, além de exigir soluções coletivas a partir de problemas.

Todo esse panorama, assim desenhado, impõe à escola a necessidade de repensar o processo de ensino, aprendizagem, o fazer docente em sala de aula, bem como a forma de fazer a gestão da escola, não só de forma democrática, mas também com soluções cocriadas, construídas no coletivo. Tal perspectiva, também nos leva a uma quantidade imensa de conteúdos e ferramentas de ensino. Então, a pergunta que se coloca aqui é: qual a atuação do professor nessa nova escola?

Como a terceira década do século 21, iniciou com um acelerador de futuro, uma pandemia que trouxe transformações irreversíveis para toda a humanidade, as mudanças que ocorreriam a médio e longo prazo, aconteceram em tempo curto. A escola, que precisou adaptar-se de uma forma complexa às novas formas de ensinar e aprender, nunca será como antes, muito menos, o professor será o mesmo. Entramos em um caminho sem volta, e vamos ter que nos adequar a essas mudanças e às novas mudanças que virão.

Sendo assim, Franco e Veras (2020), trazem algumas tendências para a educação do futuro, dentre elas: o empoderamento, que colocará o aluno no protagonismo e com acesso fácil a muitas informações que necessitam ser curadas por meio de outras metodologias de aprendizagem. Ainda, segundo os autores, as aulas expositivas, serão substituídas por aulas cada vez mais dinâmicas e pautadas na experiência, o aprender fazendo, com ênfase na importância da curadoria de conteúdos, como um novo papel do professor no processo de ensino e aprendizagem. Segundo Bhaskar (2020), a curadoria ocorre quando as práticas de seleção e arranjo somam valor e cujos efeitos são: refinar, simplificar, explicar e contextualizar, em uma só atividade.

Assim, o professor curador deve pesquisar o aluno, compreender o seu momento, o seu estilo de aprendizagem e suas dificuldades, mas, principalmente, o contexto no qual esse aluno está inserido, para que possa selecionar atividades e metodologias significativas para o processo pedagógico.

Para Freire (2003), ensinar exige pesquisa. Pesquisar aquilo que se ensina, é comprometer-se com a qualificação do conteúdo ensinado e respeitar as condições do educando. Para o autor, o simples ato de qualificar o conhecimento dos educandos enquanto instrumento de ampliação destes saberes, somados ao saber do educador, é ato “si ne qua non” de uma prática que exige e constrói o próprio educando como o processo de aprendizagem.

Na curadoria de conteúdos, tendo como objetivo a construção do protagonismo do aluno, o professor deve se apropriar das metodologias ativas, do ensino híbrido como forma de personalização da aprendizagem, rumando para subsidiar a construção do projeto de vida do aluno em uma sociedade cada vez mais veloz na produção de conhecimento e inovação.

Conforme Bacich (et. al, 2015), um projeto de vida deve promover cada vez mais a convergência, os interesses e paixões de cada aluno, seus talentos, sua história e seu contexto. Compreender o aluno, fazer a leitura do contexto social dele, entender suas relações com o objeto do conhecimento, fornece dados valiosos para o professor curador de conteúdo, de modo a trazer a realidade fora da escola, para dentro, dando significados ao processo de ensino aprendizagem e construindo nos alunos memórias de médio e longo prazo, que serão utilizadas em situações práticas do dia a dia.

Contudo, os desafios nessa educação marcada pela tecnologia, pela vertiginosa velocidade da informação, pelas metodologias ativas, o metaverso e tantos outros desafios que são colocados, exigirá cada vez mais do professor: estudo, inovação e abertura ao novo.

 

Referências Bibliográficas

Alarcão, Isabel Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

Bhaskar, Michael. Curadoria: o poder da seleção no mundo do excesso. 1. ed. São Paulo: Sesc Edições, 2020.

Franco, Max, Veras, Marcelo Método 3: o protagonismo na educação. 1.ed. Campinas: Unitá Editora, 2020.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004.

Bacich, Lilian et al Ensino Híbrido: personalização e tecnologias na educação. 1. ed. Porto Alegre: Editora Penso, 2015

Rasquilha, Luis, Veras, Marcelo Educação 4.0: o mundo, a escola e o aluno na década 2020-2030. 1 ed. Campinas: Unitá Editora, 2018.

 

 

 

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