A DOR DE APRENDER

A DOR DE APRENDER

Aprender dói. Dói porque nos deparamos com as nossas próprias ignorâncias, desconhecimentos, limitações. Ao nos depararmos com o nosso desconhecimento, somos levados a refletir sobre as nossas impossibilidades. Entendo como sendo muito bom quando uma pessoa chega à conclusão de que é limitada, de que não pode saber tudo ou mesmo dominar todos os conhecimentos, como a sociedade pós-moderna nos faz pensar.

Ao nos darmos conta de que a ignorância nos constitui, por mais que estudemos, leiamos, nos informemos ou nos atualizemos, podemos trilhar o caminho da humildade e descobrir que não basta acumular conhecimentos e informações. É preciso dar-lhes um destino sócio-histórico-cultural, ou pessoal. E, para além disso, é preciso transformar informações e conhecimentos em saber, em saberes, em sabedoria.

Essa me parece ser uma das grandes dificuldades do homem contemporâneo, qual seja, optar pelo saber, pelos saberes e pela sabedoria. Há o entendimento vigente de que basta ir ao Google para encontrarmos todas as informações de que precisamos. Ledo engano. Nem todos os conhecimentos estão disponíveis no Google, posto que vivemos em uma sociedade capitalista, de classes, globalizada e neoliberal. E em uma sociedade com essas características, a empresa multinacional americana, fundada por Larry Page e Sergei Brin, a Google, disponibiliza o que quiser, se quiser e para quem quiser.

Construir saberes não é mesmo tarefa fácil, pois exige leituras, pensamentos críticos a respeito do que foi lido, discussão, interpretações e análises que ultrapassem a evidência de sentidos. Todas essas ações são requintadas e muito sofisticadas, devendo ser trabalhadas desde a educação infantil, desde a tenra idade do sujeito, e aperfeiçoadas ao longo de sua vida.

Construir a capacidade de ler e analisar criticamente um texto – analisá-lo com profundidade, refletir sobre a enxurrada de notícias e informações que são despejadas nas nossas timelines, nos folhetos que nos são entregues quando paramos no sinaleiro, na TV, no rádio – exige tomada de posição, no sentido de o sujeito separar o que vale a pena ser lido, escutado e internalizado daquilo que pode ser desprezado. Ocorre que, pelo fato de sermos todos, indistintamente, capturados ideologicamente, muitas vezes tratamos como essencial o que é secundário, periférico, desprezível. Esse aprendizado também é doloroso porque exige leitura, interpretação, senso crítico, capacidade de separar o joio do trigo. E, muitas vezes, para demonstrar ou fazer parecer que tudo sabemos, reproduzimos informações, comentários, análises, posts que nada acrescentam, nada somam, nada transformam.

Adquirir sabedoria dói ainda mais. É, de fato, uma dor profunda, que afeta a nossa alma e o espaço mais escondido do nosso coração. Isso porque a sabedoria não vem apenas dos livros, do grau de escolaridade ou dos títulos acumulados. É lógico que todos esses fatores ajudam e promovem sujeitos altamente letrados, mas não bastam. A sabedoria vem da nossa sensibilidade em relação aos problemas diários que nos desafiam, aprendendo com eles. A sabedoria vem das ressignificações que fazemos de nossas dores, angústias, queixas, problemas. A sabedoria vem quando percebemos que somos constituídos por muitos e muitos sujeitos que, no presente, nos cercam, que nos antecederam e também aqueles com os quais não temos amizade ou relação alguma. A sabedoria advém da consciência de que nossas dores, dificuldades e anseios não são únicos; há mais de sete bilhões de habitantes no planeta Terra. Não estamos sozinhos. Olhemos para o outro. Olhemos para trás. Esse aprendizado é, também, doloroso, mas belo, porque nos engrandece e nos faz seres humanos melhores, mais sábios.

É pertinente destacar, por fim, que a palavra sabedoria vem do latim sapere, que significa sabor, gosto. É interessante, posto que o gosto – o sabor da vida, do amor, das amizades, do nosso trabalho, das relações amorosas – é outro, é melhor, é diferente quando adquirimos sabedoria.

Aprender dói, mas é também um processo belo, poético, político, que pode nos elevar, fazer-nos crescer e incentivar-nos a buscar, humildemente, a sabedoria.

Desejo, sinceramente, que as nossas escolas preparem os estudantes para se tornarem sujeitos muito bem informados, capazes de acumular muitos conhecimentos e, sobretudo, sábios. Quem sabe esses jovens poderão ajudar a construir uma sociedade menos violenta e mais humana.

 

Profa. Dra. Elaine Assolini

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