A EDUCAÇÃO BILÍNGUE

A EDUCAÇÃO BILÍNGUE

A noção de bilinguismo tornou-se cada vez mais ampla e difícil de conceituar a partir do século XX. Aparentemente, definir o bilinguismo não parece ser uma tarefa difícil, no entanto, os sentidos do termo produzem muitas implicâncias. De acordo com o dicionário Oxford (2000 p. 117), bilíngue é definido como: “ser capaz de falar duas línguas igualmente bem porque as utiliza desde muito jovem”.

Na visão popular, ser bilíngue é o mesmo que ser capaz de falar duas línguas perfeitamente. Opondo-se a esta visão que inclui apenas os chamados “bilíngues perfeitos”, Macnamara propõe que “um indivíduo bilíngue é alguém que possui competência mínima em uma das quatro habilidades linguísticas (falar, ouvir, ler e escrever) em uma língua diferente de sua língua nativa” (MACNAMARA, 1967 apud HARMERS;  BLANC, 2000, p. 6).

Historicamente, a educação bilíngue foi vista por educadores como prejudicial para o desenvolvimento da criança. Até meados da década de 1960, os pesquisadores apontavam que o bilinguismo traria prejuízos e malefícios em relação ao desenvolvimento cognitivo da criança. Após 1960, já são encontrados inúmeros trabalhos favoráveis ao bilinguismo.

Um estudo da referida década, feito no Canadá, revelou que a habilidade de falar dois idiomas não prejudica o desenvolvimento em geral, pelo contrário, ela estimula a flexibilidade do pensamento. Bialistok (2005 apud NOBRE; HODGES 2010, p. 186) defende que o bilinguismo traz contribuições sobre a alfabetização:

Para a autora, uma primeira vantagem do bilinguismo é ajudar a criança a desenvolver uma compreensão geral da leitura e suas bases em um sistema de escrita simbólico; isso quer dizer que o bilíngue tende a compreender mais rapidamente que o monolíngue como o sistema escrito funciona e como fazer sentido da decodificação da linguagem. Não menos importante, a outra contribuição do bilinguismo ressaltada pela autora é o potencial de transferência dos princípios de leitura de um sistema para o outro, ou seja, as estratégias que a criança desenvolve em uma língua podem ser transferidas para a outra.

Atualmente, a ideia de inserir uma nova língua na vida das crianças se tornou um atrativo e tanto para os pais, que visam oferecer um ensino de qualidade para os filhos desde a infância. Além das questões óbvias, dominar outra língua também reflete em aspectos singulares de cada sujeito, possibilitando o desenvolvimento de jovens mais confiantes e atentos. Por isso, a educação bilíngue tem rompido barreiras e conquistado, cada vez mais, a atenção no universo escolar. O ensino de línguas vem se tornando de suma importância e a língua inglesa vem ganhando cada vez mais força tanto no campo profissional quanto no do entretenimento. Com isso, o número de escolas bilíngues tem crescido bastante.

Mas não se pode confundir escola internacional com escola bilíngue. Enquanto a primeira utilizada como base o currículo e a proposta pedagógica de outro país, a escola bilíngue usa o currículo brasileiro e, como a educação se dá simultaneamente em duas línguas, a alfabetização é ao mesmo tempo única e mista. Por isso, as crianças não só aprendem uma segunda língua, mas a adotam como forma de comunicação natural, transitando do português para o segundo idioma quase sem perceber. Na maioria das escolas que seguem o método bilíngue, na educação infantil, a rotina escolar é toda em inglês e a exposição ao idioma acontece em situações contextualizadas e significativas. Assim, aprendem de uma forma natural algo que poderia ser desgastante. No ensino fundamental a rotina escolar envolve aulas em português e em inglês.

O ensino bilíngue é mais do que dominar uma segunda língua, é aprender a pensar em duas línguas, o que trabalha também a atenção e memória dos alunos. A imersão no idioma facilita a aquisição da língua, além de proporcionar uma formação cultural muito mais rica, tornando o sujeito mais apto a transformações e novas perspectivas. A aprendizagem acontece de forma significativa e a partir da importância de trabalhar focando não só na aquisição da linguagem, mas sim no significado dessa linguagem, seja a língua portuguesa como na língua inglesa.

 

Isadora Guarda

Elaine Assolini

 

Referências

BIALYSTOK, E.; LUK, G.; KWAN, E. (2005). Bilingualism, biliteracy and learning to read: interactions among languages and writing systems. Scientific Studies Reading. 9, 43-61.

MACKEY, W. The Description of Bilingualism. In: Li Wei, The Bilingualism Reader. London ; New York : Routledge, 2000.

MEGALE, Antonieta Heyden. Bilinguismo e educação bilíngue – discutindo conceitos. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL. V. 3, n. 5, agosto de 2005. ISSN 1678-8931 [www.revel.inf.br].

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