EDUCAR PELA PESQUISA

EDUCAR PELA PESQUISA

O título deste artigo remete ao conhecido livro do sociólogo Pedro Demo: Educar pela Pesquisa. Nessa obra, o autor defende que o professor para exercer o seu ofício deve posicionar-se, antes de tudo, como pesquisador. Vale dizer que a tese principal e as idéias que dela decorreram, postuladas pelo sociólogo, vêm sendo amplamente difundidas, no meio educacional, desde meados dos anos noventa, quando foi lançado o livro, acima destacado.

Concordamos com o autor. De fato, a pesquisa é condição basilar para a docência responsável, que envolve práticas pedagógicas que respondam às demandas dos estudantes e aos desafios da sociedade contemporânea, marcada por transformações diárias, às quais muitas vezes a escola não dá conta de acompanhar.

A curiosidade, o desejo de saber, a inquietação diante dos fatos, o estranhamento frente aos acontecimentos, a dúvida em relação àquilo que parece natural e evidente, desencadeiam e instigam à formulação de perguntas, primeira etapa de uma pesquisa.

Alguns estudiosos, como Stenhouse, por exemplo, destacam que a pesquisa deveria ser a base da formação inicial e continuada de professores. De acordo com esse estudioso, a formação em pesquisa permite ao professor desenvolver consciência crítica de suas ações, deslocando-se da posição de executor de idéias e propostas alheias para a de sujeito capaz de pensar sobre os seus saberes e fazeres educacionais e pedagógicos.  

É interessante mencionar que pesquisadores como Schon, Tardif, Gimeno Sacristan,  Pimenta, Nóvoa, dentre outros, também destacam a importância de o professor aprender a pesquisar a sua própria prática educativa, o que significa dizer que os fenômenos e situações cotidianas da escola e da sala de aula serão atentamente observados, analisados, (re)pensados, (re)significados, tanto à luz de teorias quanto a partir das experiências de vida, vivências profissionais e saberes acumulados pelo professor.

Educar pela pesquisa, portanto, como propõe Pedro Demo, requer, a nosso ver que o professor aprenda, desde o início do curso de graduação a realizar investigações tanto acadêmico-científicas (função da universidade) quanto a respeito de como se dá a sua própria formação profissional e pessoal, que, ao final das contas, são indissociáveis, como nos mostra o educador português António Nóvoa.

Acredito que sem passar pela experiência de investigar, pesquisar, buscar responder às perguntas e inquietações que lhe angustiam, o futuro professor não conseguirá proporcionar experiências semelhantes e melhores para os estudantes pelos quais  será responsável. Nesse sentido, venho defendendo que os cursos de formação inicial (graduação) deveriam oferecer aos estudantes o que denomino de “espaços discursivos”. São espaços que possibilitam ao jovem estudante universitário (se) dizer, (se) repensar, “falar de si”, como sugere o filósofo francês Michel Foucault.

Em um mundo onde predominam o efêmero, o consumismo, o distanciamento e a frieza entre as pessoas, pensar sobre si e ações realizadas ou não, pode ser um passo importante rumo à educação que, de fato, contribua para a aprendizagem não apenas de conteúdos escolares, mas também para melhor convivência, respeito e solidariedade entre os sujeitos.

 

Elaine Assolini

 

 

 

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