ENSINO HÍBRIDO, ENSINO REMOTO: Onde fica a aprendizagem?

ENSINO HÍBRIDO, ENSINO REMOTO: Onde fica a aprendizagem?

Precy Anne Gabriel Ferreira

Thaís Coutinho Barbosa

Profª. Drª.Elaine Assolini

 

O mundo foi surpreendido pela pandemia da COVID-19, em março de 2020, com isso, a vida social foi sacudida pela imposição de novas rotinas e protocolos. Por consequência, deparou-se com condições inéditas de trabalho, produção, relações humanas e distanciamento.

Como parte desse cenário, a escola também mudou, inaugurando outras realidades de ensino, dentre elas o ensino híbrido e o ensino remoto, mas com isso, como fica a aprendizagem? Como essas atividades que alteraram o modo de ensino proporcionaram (im)possibilidades para aprendizagem?

Com base na teoria da pedagogia histórico-crítica, de Saviani (2003), o papel da escola é proporcionar a socialização do saber sistematizado[1], ou seja, a escola deve trabalhar com o conhecimento objetivado nas suas formas mais ricas e mais desenvolvidas, saindo do senso comum para a consciência filosófica.

Cabe ressaltar que, a teoria supracitada tem embasamento no conhecimento teórico[2], porém o relacionando com o social, buscando, assim, elevar o nível cultural da população. No entanto, tais condições tornaram-se limitadas com a nova realidade e os novos modelos de ensino, visto que, neles, a comunicação, muitas vezes, é unidirecional e as trocas não são completamente humanizadas, tornando assim o aluno, por diversos momentos, um mero receptor de conhecimentos.

No que diz respeito à aprendizagem, para que ela se efetive, segundo Saviani, é necessário que cada sujeito-aluno se aproprie dos conhecimentos, com base no que tem de mais desenvolvido e rico, como mencionado anteriormente, porém, para que essa apropriação aconteça é preciso que a escola “ensine”, que o professor consiga exercer de modo efetivo o seu papel, ou seja, que possa ensinar, que possa proporcionar as práticas, as trocas, as experiências, entre outras atividades necessárias para que o conhecimento torne-se objeto de aprendizagem pelos alunos.

Sendo assim, não se pode negar que o ensino mais humanizado é indispensável para a efetivação da aprendizagem e do aprofundamento nos processos cognitivos do aluno, uma vez que, as trocas ocorridas nas relações aluno-aluno e professor-aluno, durante o ensino e pelas atividades - rodas de conversas, processos de construção em grupo, em duplas e entre outros -, contribuem ativamente na formação dos saberes pessoais, relacionando-os com outras perspectivas e conhecimentos que, em sua prática cotidiana, servem de referência para a rotina formativa.

Dessa forma, os atuais modelos de ensino vão ao encontro das práticas relacionadas anteriormente e parecem favoráveis, a uma sociedade digital, com os comportamentos movidos pela tecnologia, em que o indivíduo é considerado um multitarefa, capaz de realizar diversas atividades ao mesmo tempo, quando na verdade o indivíduo não as faz, mas sim, alterna rapidamente seu cérebro entre os afazeres (KHOURY, 2020), provocando um equívoco em relação ao seu comportamento e/ ou aproveitamento.

Posto isso, pode-se dizer que, por estarmos rodeados de inúmeras notificações e ações que podem provocar a desatenção, os novos modelos de ensino impedem um aprofundar nos conhecimentos necessários para o desenvolvimento, originando uma sociedade de raciocínios breves, rápidos e superficiais.

Assim sendo, esses modelos de ensino, mesmo que possibilitem diversas trocas, faz com que a aprendizagem permaneça na base do imediatismo, não sendo, então, o ensino remoto e ensino híbrido, favoráveis para o processo de ensino-aprendizagem. Pois estes, são modos de ensino adequados ao objetivo de manter as pessoas em um nível bastante superficial de conhecimento.

Pontuamos que a educação tem uma relação de conteúdos e formas, ou seja, a forma pela qual são trabalhados os conteúdos pode ser a forma que impulsiona um domínio mais aprofundado ou que leve a um domínio superficial dos conceitos, desse modo, faz-se necessário pensar em propostas que os alunos, partilhem de ambientes onde as barreiras se estreitam e haja aproximação entre os mesmos, ocasionando o encontro, e que a partir desse encontro possa haver a expressão da aprendizagem para a promoção de uma relação mais humana, mais crítica e mais formativa, na qual os alunos se desenvolvam uns com os outros.

Conclui-se, dessa maneira, que não basta estarmos enriquecidos por uma variedade de ferramentas e recursos digitais, pois se estes não proporcionarem experiências e/ ou trocas efetivas aos estudantes, a aprendizagem e o conhecimento não se desenvolverão de modo que explique a essência da realidade e, consequentemente, acarrete em sujeitos críticos. Mas, sim, torne o ensino em um ensino pragmático, ou seja, pautado em mera resolução de problemas cotidianos, tornando, assim, as ferramentas digitais, apenas ferramentas para se cumprirem os protocolos.

 

Referências

KHOURY, Karim. O mito do comportamento multitarefa. Revista Revista Administrador Profissional – ADM PRO. São Paulo. Ago. 2020. Disponível em: https://crasp.gov.br/admpro/site/artigos/o-mito-do-comportamento-multitarefa. Acesso em: 23 nov. 2021.

 

SAVIANI, Demerval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 8. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2003. (Col. Educação contemporânea).

 


[1] Segundo Saviani (2003) o saber, o conhecimento sistematizado, deve deixar de ser dominado por algumas poucas pessoas e/ ou grupos sociais e passar a ser patrimônio de todos, de modo a estar disponível para ser incorporado à vida, à individualidade, às práticas de todos, sendo assim, a socialização do saber se opõe à privatização do saber.

[2] Conhecimentos estes organizados em: Ciências da natureza, Ciências da sociedade, na arte e na filosofia, teorias essas que, segundo Saviani, são fundamentais para transformarmos a realidade e construir o pensamento crítico.

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