A ESCOLA DE ONTEM E A ESCOLA QUE QUEREMOS

A ESCOLA DE ONTEM E A ESCOLA QUE QUEREMOS

A escola do passado era uma escola para poucos e seu principal dever era completar a educação básica garantida pelas famílias. Os alunos que entravam nela, especialmente aqueles que mais adiante seguiam em sua jornada acadêmica, procediam de famílias de posse, cultas e com expectativas de que seus filhos ocupassem importantes lugares profissionais e cargos públicos.

 

Os poucos privilegiados que conseguiam ter lugar nos bancos escolares chegavam à escola já motivados, recebendo estímulo e incentivo familiares, o que contribuía para sua inserção, adaptação e permanência em um contexto educacional que buscava levar a todos a um nível preestabelecido de conhecimentos e cultura gerais, além de lhes ensinar conteúdos excêntricos, com, por exemplo, caligrafia artística, oratória, noções básicas de desenho arquitetônico. Tratava-se de uma escola conteudística, de transmissão e repetição, cujo centro do processo ensino-aprendizagem era o professor.

 

A segunda metade do século XX, depois das grandes ditaduras, das guerras civis e da Segunda Guerra Mundial, garantiu a todas as crianças o direito à educação, inscrevendo-a com letras maiúsculas nas cartas institucionais. Na verdade, hoje, na maior parte dos países desenvolvidos, a totalidade dos pequenos cidadãos não apenas tem acesso à escola, mas também, na maioria dos casos, completa o ciclo formativo obrigatório.

 

Apesar de tudo, “a grande revolução democrática” (Imbérnon, 2010, Sacristán, 2011, Delors, 2011,) ainda não foi capaz de transformar a escola de forma coerente, de modo que a escola atual ainda continua sendo, em essência, para poucos.

 

Imaginemos a seguinte situação pedagógica: já no primeiro dia de aula, privilegia-se especificamente o ensino da linguagem escrita. Para aquelas crianças que precedem de famílias em que não há livros, revistas, jornais, em que ninguém lê ou escreve, em que não há entendimento mínimo nem valorização alguma das funções sociais da leitura e da escrita, corremos o risco de assistir a conflitos entre o que a escola se propõe a ensinar e a história de vida, interesses e processos identificatórios do estudante. Suponhamos lições de geografia do mundo a alunos que sequer conhecem o bairro onde residem. Outros embates e distanciamentos entre escola e alunos, que, em alguns casos, acabam abandonando as salas de aula. Pensemos em professores que dizem aos pais: “Sinto-muito, mas seu filho não aprende, não segue o ritmo da aula”, ou “  Seu filho não se empenha como deveria” . Imaginemos, por um momento, que um médico de hospital dissesse a uma mãe: “sinto muito, senhora, seu filho está doente, não sei o que fazer. Se estivesse com saúde, seria diferente”. Ora, se estivesse saudável, não teria tido que ir ao hospital, e o que esperamos de um hospital são justamente bons médicos, capazes de curar os doentes.

 

Não estamos dizendo que a escola não deve cumprir o seu papel de transmitir a cultura sócio-historicamente construída e acumulada. O que buscamos explicitar é que necessitamos de boas escolas, capazes de incluir e de educar crianças e jovens e, para tanto, é imprescindível o respeito às suas diferentes histórias de vida, singularidades e potencialidades, angústias e sonhos.

 

É urgente que se criem novas práticas de aula e de gestão escolar, capazes de instigar o estudante a entender novas coisas, a entrar em outro mundo, o da cultura, o do saber, das artes, da ciência, da palavra, do debate, da afetividade e do respeito ao semelhante.

 

A sociedade contemporânea clama por uma escola que faça frente às formas violentas de exclusão, incapazes de responder às promessas constitucionais, muito menos à exigências sociais.

 

A responsabilidade pela construção de uma escola inclusiva e que ao menos esteja sintonizada com o mundo atual é de todos nós.  Arregacemos as mangas e colaboremos, de um jeito ou de outro.

 

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