ESCOLHAS QUE NOS DEFINEM

ESCOLHAS QUE NOS DEFINEM

Maria Luiza Collares Canassa

Profa. Dra. Elaine Assolini

A vida é feita de escolhas - a cada passo que damos, escolhemos algo que revela  o nosso modo de pensar e de nos posicionar diante das mais diversas situações, seja referente a algum comportamento ou opinião. Dentro desse contexto, hoje vivemos uma situação única para nossa geração: uma pandemia em que somos instruídos e encorajados a ficarmos dentro de casa. Essa recomendação não era uma das nossas escolhas mais difíceis até que acontecimentos recentes trouxeram à tona um preconceito enraizado, estrutural, que revela o fato de que algumas vidas são descartáveis e outras valem muito em nossa sociedade.

Esses acontecimentos se tornaram mais gritantes com o brutal assassinato de George Floyd, nos EUA. Esse homem foi morto devido ao sufocamento durante quase 10 minutos por quatro policiais, um ajoelhado em sua garganta e os outros ao seu redor. Não há motivos aceitáveis para tal ataque e violência, o que fez com que a população, especialmente a norte-americana, se visse diante de uma escolha decisiva: ficar em casa e a salvo do vírus tão temido ou ir para as ruas lutar contra a injustiça de uma polícia que, muitas vezes, age como se vidas não importassem. Essa luta se tornou ainda mais importante pois Floyd foi assassinado devido à sua cor de pele; por ser negro, aqueles policiais acharam que sua vida valia menos – caracterizando um odioso e brutal crime de racismo.

No mundo todo, muitos aderiram à luta contra o racismo e colocaram sua própria vida e as dos que os rodeiam em risco para lutar por um direito tão básico de sermos considerados iguais, independentemente da nossa cor de pele. O Brasil não ficou de fora dessa luta, potencializada com a morte recente de duas crianças negras - uma fuzilada em sua casa e a outra morta por negligência de cuidados. Como decidiremos como agir, diante desses fatos? Protestos serão suficientes para mostrar que não será aceito esse tipo de injustiça e preconceito? Algo na consciência humana tem que mudar, pois uma grande parte da sociedade brasileira considera sua vida mais valiosa que a de outrem, seja por preconceito racial ou social. Enquanto algumas vidas valerem mais que outras, não estaremos livres de preconceito. Devemos nos reeducar, social e emocionalmente, e realmente refletirmos sobre o valor que damos às vidas que nos cercam. Empatia e consciência social, nesse processo, são as palavras-chave.  

Lembremos também que algumas pessoas, por questões de saúde e cuidado com os que estão perto, não terão o privilégio dessa escolha entre manter-se no isolamento ou ir aos protestos. Contudo, mesmo nesses casos, é possível escolher como agir em pequenas mudanças cotidianas, inclusive nos meios virtuais, como ao refletir antes de reagir com uma linguagem discriminatória e atitudes preconceituosas. Não podemos esperar mais pessoas morrerem para não tolerarmos os preconceitos e a desigualdade social: hoje devemos escolher nos definir por sermos ativos nessa luta em todas as situações do nosso dia a dia.

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