ESCRITA E AUTORIA NA ESCOLA

ESCRITA E AUTORIA NA ESCOLA

Na escola atual, ainda há espaço para a escrita instrumental, mecânica, esvaziada de sentido, que se limita à mera codificação.

Entretanto, a sociedade contemporânea, marcada por demandas e exigências diárias das “novas” tecnologias, transformações sociais ininterruptas e novas práticas culturais, requerem que o estudante, mas também o professor, ultrapassem o nível da codificação que, dentre outras consequências negativas, coloca-os na posição de enunciadores de discursos que, em muitos casos, não lhe afetam de forma alguma.

Desinteresse, desmotivação, indisciplina e tédio são algumas das consequências que, podem ser observadas em sala de aula, quando o processo pedagógico não possibilita ao estudante aprender o valor social e ideológico da escrita e sua relevância na construção de um cidadão cujos dizeres possam romper com a homogeneização e silenciamento de sentidos, ainda presentes na sociedade e na escola.

Nessa linha de pensamento, tenho defendido, em meus estudos, a importância de a escola oferecer aos estudantes recursos adequados para que se constituam como autor de seu próprio dizer. Esse lugar, o de autor, opõe-se à prática do “copia e cola”, que vem se naturalizando, indiscriminadamente.

Para ocupar o lugar de autor, o educando precisa, inicialmente, interpretar, o que lhe

exige diferentes operações mentais, como, por exemplo, analisar, antecipar e estabelecer relações.

Nesse processo, o professor tem relevante papel, visto que precisa saber escutar as interpretações dos estudantes, mesmo que, à primeira vista, pareçam estranhas, incoerentes e caóticas. É válido lembrar que a imposição de sentidos únicos, legitimados, considerados “corretos” e “ verdadeiros”, por parte do professor ou de autores de livros didáticos, reduz as zonas de sentido que poderiam circular na sala de aula e impede a  produção de outras.

Ocupar o lugar de autor envolve responsabilizar-se pelo seu dizer, tanto pelo aspecto jurídico da escrita e da assinatura, como mostra o filósofo Michel Foucault (2004), quanto pelas marcas subjetivas que deixamos, queiramos ou não, tenhamos consciência disso ou não.

De um ponto de vista discursivo, ocupar o lugar de autor implica cuidar do texto de maneira que lhes sejam asseguradas coesão, coerência e concatenação de ideias.  Àquele que deseja ocupar tal lugar deve retomar o seu texto, relendo-o de modo a tentar preencher as brechas e lacunas que o constituem. Brechas e lacunas sempre irão existir, visto que a incompletude e o silenciamento são características do dizer. Necessárias, elas integram o processo interpretativo.

Por fim, o lugar de autor pode ser entendido como aquele que organiza e modifica o já-dito, dando-lhe a ilusão de originalidade. Mais uma vez, o professor tem função e papel relevantes, pois sua mediação poderá fazer emergir o que os estudantes (des) conhecem.

Proporcionar ao educando situações de ensino-aprendizagem, favoráveis e instigantes, que lhes permitam posicionarem-se como autores de seu próprio dizer pode ser alternativa viável para um ensino no qual a escrita se efetive enquanto ex-scripta, ou seja, movimento para fora, que busca afetar o outro, mas, também, como in-scripta , movimento para dentro, que nos permitirá aproximarmo-nos de nós mesmo, condição basilar para a aquisição de  novos conhecimentos.  

Compartilhar: