ESPAÇOS DISCURSIVOS: Possibilidades de o professor "falar de si".

ESPAÇOS DISCURSIVOS: Possibilidades de o professor "falar de si".

Venho defendendo a importância de os cursos de formação inicial, especialmente os que se destinam à formação de professores que irão atuar tanto na Educação Infantil quanto no Ensino Fundamental, terem a oportunidade de vivenciarem o que venho denominando ESPAÇOS DISCURSIVOS. Esses espaços ofereceriam condições adequadas de produção para que o futuro professor pudesse expressar sua subjetividade, por meio do “falar de si”. Assim, por meio de narrativas orais e escritas, depoimentos, entrevistas, rodas de conversa, vídeos, os professores expressariam sentimentos, emoções, argumentos e contra-argumentos, a respeito de diferentes assuntos, problemas e questões acadêmicas ou não.

O “falar de si”, em condições de produção marcadas minimamente por censuras e interdições, permitiria também ao professor escutar as vozes que o constituem, bem como os seus próprios sentimentos, angústias e queixas. Em outras palavras, aprenderia a escutar a si próprio, o outro (o semelhante), e também o Outro (a cultura, a tradição, normas e regras), que o constituem.

Um dos motivos pelos quais vimos defendendo a relevância de serem construídos e organizados esses ESPAÇOS DISCURSIVOS tem a ver com o entendimento segundo o qual professores que não conhecem a si mesmos, que não aprenderam a se ouvir, a se escutar, dificilmente conseguirão escutar os estudantes pelos quais são ou serão responsáveis. Além disso, o “falar de si” possibilita ao professor organizar a sua subjetividade, cuidar dela, condição importante para uma docência que promova não apenas o desenvolvimento cognitivo, intelectual e escolar do estudante, mas também o desenvolvimento afetivo e emocional.

De um ponto de vista prático, no caso de cursos de graduação, especificamente os de licenciatura, responsáveis pela formação de professores, poderiam ser oferecidas disciplinas optativas, livres, ou seja, aquelas que são escolhidas pelos licenciados, a partir de seu próprio interesse.

Mas, as disciplinas denominadas “obrigatórias”, ou seja, aquelas que devem necessariamente ser cursadas pelos licenciandos nos cursos de graduação, também podem concretizar os espaços discursivos, por meio de atividades didático-pedagógicas que dessem voz ao estudante.

O “falar de si” permite um trabalho com o processo identitário, no sentido de o professor aprender que as identidades não são fixas, estáveis, não permanecem estagnadas. Ao contrário, são móveis e estão ininterruptamente sendo reconstruídas e ressignificadas, mesmo que não venhamos a nos dar conta disso.

Os ESPAÇOS DISCURSIVOS, portanto, constituem uma alternativa viável para que o futuro professor reconheça seus sentimentos e emoções, aprendendo que eles repercutem e impactam seus saberes educacionais e práticas pedagógicas.

Profa. Dra. Elaine Assolini

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