ESTAMOS PERDENDO A CAPACIDADE DE OLHAR E ESCUTAR O OUTRO....

Elaine Assolini

03 Mar 2020 15:25

                                                                      Elci A. R. Patti

Leny Pimenta

Sem dúvida os avanços das tecnologias digitais e o acelerado uso (não consciente) dos celulares têm ocupado grande parte da nossa memória visual/sonora de forma exacerbada, a ponto de a maioria das pessoas não distinguirem o que está acontecendo fisicamente à sua volta, em seu entorno. É comum notar pessoas realizando outras tarefas enquanto mexem no celular. Dessa forma, cérebro tornou-se multitarefa e está constantemente sob estresse.

Além de forçar o campo visual para uma única direção, os estímulos gerados pelas imagens e sons sobrecarregam o cérebro, pois o excesso de informação e estímulos visuais e sonoros reduzem a velocidade do funcionamento cerebral acelerando-o, com isso maior dificuldade de atenção, concentração e relaxamento. Segundo pesquisadores da neurociência, isso pode causar alterações no humor como irritação, impulsividade e, até mesmo, comportamento mais agressivo. Segundo o psiquiatra Spanemberg, citado em um artigo publicado com o título "Uso abusivo dos smartphones está causando uma epidemia de ansiedade, depressão e dores[1]" nos alerta para o que leva as pessoas a quase não desgrudarem dos celulares é uma espécie de vício.

O vício em tecnologia é parecido com o da dependência química, porque ele atua nos mesmos circuitos cerebrais de recompensa, causa síndrome de abstinência e, quando utilizado, libera dopamina, um neurotransmissor responsável pela regulação do humor, da memória e do prazer.

Ressaltamos que, atualmente, é necessário reaprender a escutar e a olhar, diferentemente de ouvir e ver que estão relacionados aos órgãos do sentido (ouvido e olho). Quantas vezes dificultamos ou perdemos a oportunidade de manter relacionamentos significativos com colegas, amigos e familiares por não saber olhar atentamente e escutá-los? 

O olhar atento para o outro e o escutar é fundamental para construirmos relações saudáveis e éticas. Lembrando que o ser humano se constitui através de uma relação próxima com o outro desde sua fecundação e, após o nascimento precisamos do olhar, da fala, da escuta e do afeto de um outro ser humano para se humanizar. Ao crescer, o ser humano sempre terá esta demanda de estar próximo a outro ser semelhante, e isso será constante durante a vida. Se houver muita ausência deste outro ser semelhante com seu olhar, escuta e afetos, várias degenerações e desestruturações acontecerão e tomarão conta do sujeito impedindo-o de ter uma Vida saudável.

Salientamos que ainda somos seres humanos e não ciborgues, portanto, necessitamos das trocas de gestos afetuosos no ato gentil e consciente de escutar, de olhar para o outro, consequentemente para si mesmo. Portanto, não se transforme em um autômato incapaz de ser sensível à escuta do outro, ao olhar do outro, seu filho(a), familiares, amigos e outros, faça valer o humano que o caracteriza e o dignifica!