EXPERIÊNCIA DOCENTE: aspectos positivos em ser professor de Matemática

EXPERIÊNCIA DOCENTE: aspectos positivos em ser professor de Matemática

Prof. Fábio Oliveira

Profa. Dra. Elaine Assolini

 Na caminhada de minha trajetória profissional segui por onde me levaram meus passos e posso dizer que a cada um desses passos, uma série de acontecimentos importantes e marcantes influenciou em minha formação de professor. Falar da minha trajetória de minha formação e das experiências que vivi me remete a falar de memórias que acabam remexendo o passado e dele surgem lembranças, palavras, emoções.

Assim foi a minha procura em compreender as características positivas de um bom professor de Matemática.

Em meu estágio, no curso de graduação, em minhas observações fui percebendo que os alunos se sentiam intimidados diante da disciplina de Matemática. Preconceito, talvez! Percebi a grande fragilidade do currículo e o quanto é antiquado, não permitindo a livre expressão do aluno represando a criatividade do professor quando o aprisiona a burocracias e ensinamentos estéreis, com a simples preocupação do cumprimento de prazos para entrega de notas mesmo que o aluno não tenha aprendido..

 Quanto mais caminhava em minhas observações e estudos mais sentia a necessidade de construir uma tessitura nas relações professor/aluno buscando compreender os motivos de tantas resistências em relação à Matemática. Essa busca contribuiu para ampliar minhas experiências e vivências tanto no campo teórico como no prático.

Percebi a necessidade de o professor e aluno compartilharem unidos no processo de construção e reconstrução do conhecimento sem deixar de valorizar as vivências do aluno para que suas aprendizagens tivessem sentido. Pude assim ratificar o quanto é importante para o aluno a relação com o conhecimento e o envolvimento das pessoas nessa construção.

 As propostas curriculares de matemática indicam a necessidade de um novo profissional docente, determinado por um conjunto de competências que só podem ser construídas na prática e, sobretudo na reflexão coletiva sobre a prática. Foi com esse escopo que fui construindo meu exercício docente. Hoje sou professor na rede pública de ensino. Cresci muito nesse período.  A cada dia sinto que a experiência é muito mais ampla e importante do que se imagina. Ela tem que ser vivida, vivenciada, analisada, reconstruída e ressignificada sempre.  Deve aproximar ambas as partes (professor e alunos) e no vai e vem dessa experiência acontecem as trocas com diferentes abordagens, perspectivas teóricas e metodológicas cuja disparidade  se justifica e se torna importante à medida que entendemos que a docência não é uma profissão simples, que se institui em espaços distintos, e sobre o qual tem interferência de múltiplos fatores. .

Descobri, ainda que os professores devem perceber que não são a única fonte detentora do conhecimento Sei que diante de um mundo globalizado e com novas tecnologias que surgem a cada segundo, se faz necessário que o professor faça adaptações à realidade social de cada aluno embora reconhecendo as dificuldades que as instituições educacionais enfrentam nos dias de hoje. A par disso reconheço que o professor tem certa autonomia, flexibilidade para desenvolver suas aulas, vários recursos tecnológicos e materiais básicos que, se adaptados e inseridos ao projeto político-pedagógico, propiciam e facilitam tanto o ensino como a aprendizagem.

Também a troca de experiências trabalho em equipe e muita dedicação profissional, direcionam o professor oportunizando-o e favorecendo-o fundamentalmente para um ambiente rico em aprendizagem. Com muitos recursos tecnológicos em mãos, cada aula torna-se um momento ímpar e único na vida profissional e particular de cada professor e de cada aluno. A relação professor-aluno é essencial neste processo. E, a cada aula, novas experiências podem ser aprimoradas, criadas e recriadas significativamente de modo a fazer sentido na vida do aluno.

Assim como diz o educador português António Nóvoa (2015, p):

O professor tem de ajudar o aluno a transformar a informação em conhecimento. O que define a aprendizagem não é saber muito, é compreender bem aquilo que se sabe. É preciso desenvolver nos alunos a capacidade de estudar, de procurar, de pesquisar, de selecionar, de comunicar. Para isso, o professor é insubstituível.

Ser professor é compreender os sentidos da instituição escolar, integrar-se numa profissão, aprender com os colegas mais experientes. É na escola e no diálogo com os outros professores que se aprende a profissão. O registo das práticas, a reflexão sobre o trabalho e o exercício da avaliação são elementos centrais para o aperfeiçoamento e a inovação. São estas rotinas que fazem avançar a profissão.

 

Lecionar matemática não é uma rotina fácil! Muitos alunos consideram a disciplina matemática a "ovelha negra". Por isso, é necessário dar sentido às noções ensinadas. É uma disciplina que trabalha com o abstrato, o cálculo de área de uma figura ou forma que não está ali. Este processo, por exemplo, torna-se difícil aos alunos a assimilação do conteúdo. Buscar situações com atividades concretas relacionadas ao cotidiano, à realidade de cada um e a comunidade local, facilita o processo, ainda mais quando realizamos planejamentos diários. É uma grande recompensa quando oferecemos oportunidade de os alunos entenderem a abstração e a complexidade dos exercícios matemáticos. É um trabalho que exige muito

Pensando assim, descobri que o trabalho em equipe com os alunos é uma alternativa bastante viável. Equalizando o conhecimento dos alunos dentro do grupo, fica notória a importância da troca de experiências no momento de autoria. É essencial escutá-los e que esse momento seja de reciprocidade no ensino e aprendizagem. É necessário oportunizar momentos de protagonismo aos alunos saindo do modelo tradicional de ensino que não prioriza a construção do saber crítico do estudante. Tenho para mim que o objetivo do ensino, não incide em transmissão de verdades, informações ou modelos, mas sim que o aluno aprenda por si próprio, com o monitoramento do professor, que o incentiva a desenvolver suas habilidades e capacidades. Dar vez e voz aos alunos é propício para que novas experiências nos toquem. Novas situações de aprendizagem surgem inesperadamente, assim fica visível, notificado e concretizado o quanto o ambiente da sala de aula é rico nestas situações. Desse modo, me identifiquei com uma frase de Freire em que diz que o educador deve perceber o potencial de cada aluno, valorizando o conhecimento previamente adquirido. E muitas vezes, tem no professor o exemplo a ser seguido, é preciso conquistar a confiança, desenvolver um laço afetivo com este educando. Freire (1996, p 47) então propõe: "às vezes, mal se imagina o que pode passar a representar na vida de um aluno um simples gesto do professor [...]".

Foi aí, pelas minhas observações e aporte teórico, por minha vontade de fazer algo produtivo pelos meus alunos, para que se sintam atraídos pela Matemática, descobri que ensinar carece, além de tudo afeto na relação com o aluno para que ele aprenda. A prática pedagógica demanda que o professor leve em conta os sentimentos, as emoções do aluno. É preciso ter empatia já que pode favorecer, ou não, o seu desenvolvimento cognitivo. Desse modo, acredito que contribuo para um cenário educacional, onde o afeto se constitui em um instrumento de importância basilar no cotidiano escolar principalmente nas salas de aula.

Assim acredito que a profissão de professor, seja de Matemática ou qualquer outra área do conhecimento, não pode e não deve ser constituída tão somente ao seu período da formação inicial. A constituição profissional docente é um processo contínuo e sempre inconclusivo, cingido por extensões subjetivas e sócio-culturais que influenciam o modo de vir a ser de cada professor.

 

Referências Bibliográficas

CHARLOT, Bernard. Relação com o saber, formação dos professores e globalização: questões para a educação hoje. Porto Alegre: ARTMED, 2005.

CUNHA, Merielen. A (im)possibilidade da escuta significativa no contexto educacional. Ribeirão Preto, 2018 110 p. : il. ; 30 cm. Dissertação de mestrado. USP: Ribeirão Preto, SP: 2018.

FREIRE, Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 22a.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

NÓVOA, António.  Aprendizagem não é saber muito. 27 de Abril de 2015. Disponível em:  https://www.cartaeducacao.com.br/entrevistas/antonio-novoa-aprendizagem-nao-e-saber-muito/. Acesso em : 08 de Maio de 2019.

NÓVOA, Antônio. Para uma formação de professores construída dentro da profissão. Disponível em: https://www.revistaeducacion.educacion.es/re350/re350_09por.pdf. Acesso em: 06 de Maio de 2019.

CHARLOT, Bernard. O professor na sociedade contemporânea: um trabalhador da contradição. Disponível em: https://www.janehaddad.com.br/arquivos/Bernard_Charlot.pdf. Acesso em: 04 de Maio de 2019.

BONDÍA, Jorge Larrosa. 2002. Disponível em:  https://www.scielo.br/pdf/rbedu/n19/n19a02.pdf. Acesso em: 04 de Maio de 2019.

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