FEBRE COLORIDA: papel, lápis de cor e imaginação

FEBRE COLORIDA: papel, lápis de cor e imaginação

Os livros de colorir, que antes pareciam atraentes apenas para crianças, ganharam atenção dos adultos, e se tornaram passatempo preferido para muitos, que dedicam alguns minutos ou horas de seu dia à pintura de desenhos trazidos por esses livros.

O começo da febre foi o lançamento do livro “Jardim Secreto: livro de colorir”, de Johanna Basford, no fim do ano passado. Em seguida, veio “Caça ao Tesouro Antiestresse”, que propõe além das pinturas propriamente ditas, alguns desafios, como, por exemplo, encontrar todos os tipos de criaturas e curiosidades que estão escondidos: besouros, pássaros, borboletas e até um tubarão. Além de colorir, é possível completar algumas páginas cujos desenhos estão em aberto.

O sucesso imediato desses livros rendeu a sequência intitulada “Floresta Mágica”. Segundo dados da Editora Sextante, “Jardim” Secreto” foi o terceiro livro mais vendido no mês de março; quase 23.000. 00 exemplares. A Editora  não se cansa de comemorar o sucesso editorial e propagar novos lançamentos.

A ideia inicial da proposta de livros de colorir foi da australiana Ana Elisa Soares Scott, que se valeu desse material para trabalhar com uma cliente, acometida por Alzheimer. Habilidades como atenção, concentração, percepção visual e coordenação motora podem ser mobilizadas e aperfeiçoadas, a partir da atividade de colorir, concluiu a pesquisadora.

É preciso mencionar aqui que o lúdico de maneira ampla, a arte e as atividades artísticas manuais desestabilizam-nos, pois subvertem o que se nos apresenta como óbvio e natural, instigando-nos a olharmos para além do que parece evidente. Olhar e ver é condição basilar para o desenvolvimento da sensibilidade e, por conseguinte, para a criação do novo e do diferente.

As teses segundo as quais esses livros funcionam como válvula de escape para rotinas estressantes, trazendo sensação de prazer e de bem-estar têm sido amplamente divulgadas e, quando perguntados sobre a paixão que esses livros despertam, os adultos comentam: “pintar é sempre bom, por que alivia, acalma, distrai e tranquiliza”; “adoro lidar com lápis de cor e fazer minhas mandalas, uma mais linda que a outra”; “depois de um dia tenso, exaustivo, não vejo a hora de me encontrar com os meus filhos e pegar os meus livros e pintar, do jeito que eu quiser”, “ pra  mim, pintar traz descanso para a alma”

As ações de escolher as cores, organizá-las, combiná-las, ver o produto final, belo e colorido, após algumas horas ou dias de dedicação trazem a satisfação de algo construído, a partir de condições e tempos próprios.

 Em seu texto “Escritores Criativos e Devaneios”, Sigmund Freud diz que, ao crescer, paramos de brincar e renunciamos ao prazer que obtínhamos a partir dessa atividade. Contudo, como explica o psicanalista, é dolorosa a experiência de abdicarmos de algo que nos dá imenso prazer. Ainda segundo ele, não renunciamos, apenas trocamos uma coisa por outra. Crescidos, não paramos de brincar, mas fantasiamos. Fazemos “castelos no ar” e criamos nossos “devaneios”.

Em um mundo onde nossas mentes são ocupadas ininterruptamente por problemas, e, alguns casos, percepções negativas e sentimentos desesperançosos frente à realidade, colorir desenhos parece ser alternativa que coloca a fantasia e a imaginação em lugar nobre.

A febre e o êxito dos livros de colorir parecem indicar o quanto necessitamos desses recursos, fantasia e da imaginação, para (re)significarmos os sentidos da vida e construirmos alternativas para os desafios que nos aguardam.

Que a escola não se esqueça que uma de suas tarefas é a formação de sujeitos inventivos. O lúdico parece ser excelente caminho para isso. Não esperemos nossos alunos chegarem à idade adulta para descobrirem que são capazes de imaginar e criar.

 Foto livro: Ibraim Leão

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