GERAÇÃO DIGITAL E O USO DE CELULARES EM SALA DE AULA

GERAÇÃO DIGITAL E O USO DE CELULARES EM SALA DE AULA

A Câmara Legislativa do Distrito Federal aprovou, em maio de 2008, uma lei que proíbe alunos de usarem celulares e aparelhos eletrônicos como MP3 players e videogames em escolas públicas e privadas da Educação Básica. A utilização foi liberada nos intervalos e horários de recreio, fora da sala de aula, cabendo ao professor encaminhar o aluno que descumprir a regra à direção da escola, para orientações ou até punições, em alguns casos.

O projeto de Lei que originou a norma diz que o uso de telefone pode desviar a atenção dos estudantes, possibilitar fraudes durante as avaliações e provocar conflitos entre professores e estudantes e estudantes entre si, influenciando negativamente o aproveitamento e rendimento escolar.

As observações do cotidiano escolar indicam que a lei parece não ter conseguido coibir o uso de celular. Não faltam queixas de professores, que afirmam não conseguirem nem impedir nem controlar o uso do celular pelos alunos em sala de aula.  Reclamam do uso indiscriminado das redes sociais e whatsapp para bate-papos não relacionados ao assunto da aula, do Ctrl C-Ctrl V para o ‘copia e cola’ em atividades de pesquisa, por exemplo, da navegação indistinta por sites e blogs, também indiferentes aos conteúdos pedagógicos em pauta.

Ouvi, nessa semana, três diferentes professores de escolas públicas que me disseram o seguinte: “Quando levo meus alunos para o laboratório de informática, a principal pergunta é: posso usar o facebook”?”; “ Vá trabalhar em uma sala de aula, com 40-50 alunos, por turma, e, cada um desses alunos aparelhados e municiados com esses infernais celulares, enquanto você se desdobra a frente deles, para passar o conteúdo da melhor maneira possível”; “ Eu me sinto agredido, ofendido, me tira o chão, quando estou dando aulas e o garoto está à minha frente conversando com a mãe, namorada ou colega ao lado, não sei mesmo o que fazer”.

Se considerarmos as contribuições de estudos e de pesquisas que vêm sendo realizados nos últimos trinta anos sobre interação de crianças e jovens com as tecnologias digitais, poderemos pensar no quão desafiador é o exercício da docência, nos dias atuais.

Assim, ainda que não questionem abertamente as bases da pedagogia bancária de ensino-aprendizagem, as crianças e adolescentes que estão se auto-letrando pela internet desafiam os sistemas educacionais tradicionais e propõem, pelo uso constante da rede mundial de computadores, um “jeito novo de aprender”. Essa nova forma de aprendizagem se caracteriza por ser mais dinâmica, participativa, descentralizada (da figura do professor) e pautada na independência, na autonomia, nas necessidades e interesses imediatos de cada dos aprendizes que são usuários frequentes das tecnologias de comunicação digital.

O estudioso Don Tascott (1999) destaca que a geração que tem crescido na rede de computadores tende a desenvolver habilidades como: independência e autonomia na aprendizagem; abertura emocional e intelectual; preocupação pelos acontecimentos globais; liberdade de expressão e convicções firmes; curiosidade e faro investigativo; imediatismo e instantaneidade na busca de soluções; senso de contestação; tolerância ao diferente.

Entretanto, não basta que os estudantes acessem informações. Eles precisam ter a habilidade e o desejo de utilizá-las, saber relacioná-las, sintetizá-las, analisá-las e avaliá-las. Quando os alunos se esforçam para ir além de respostas simples, quando desafiam ideias e conclusões, quando aprendem a estabelecer relações, a aprendizagem se torna interessante e significativa, podendo também ser utilizada no dia a dia das situações da vida real.

Para acompanhar esses aprendizes audaciosos da geração digital, o professor também precisa mudar o seu perfil e sua prática pedagógica. O mestre, de agora, precisa ser: pesquisador, não mais repetidor de informações; articulador do saber, não mais fornecedor único do conhecimento; gestor de aprendizagens não mais instrutor de regras; consultor que sugere, não mais chefe autoritário que manda; motivador da “aprendizagem pela descoberta” não mais avaliador de informações empacotadas, a serem assimiladas e reproduzidas pelo aluno.:

É insubstituível o papel do professor para dar significado a essa enorme e fantástica porta que se abre para o universo do conhecimento da humanidade. Sem a mediação do professor, a internet, os equipamentos e software podem se resumir a modismos adestradores de mercado consumidor, perdendo-se, assim, a oportunidade de promover efetiva mudança na área de ensino.

Nesse quadro, todos nós educadores, da Educação Infantil à Pós-Graduação temos a responsabilidade de nos adaptarmos às novas transformações e assumirmos um lugar de ponta nesse processo, instigante e pr

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