A INFLUÊNCIA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO CONTEXTO ESCOLAR: EDUCAÇÃO OU DISTRAÇÃO?

A INFLUÊNCIA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO CONTEXTO ESCOLAR: EDUCAÇÃO OU DISTRAÇÃO?

Podemos observar que em alguns casos, durante a vida escolar, o aluno mantém uma relação “distanciada” com a leitura, de maneira incompleta, fragmentada, tendo por opção apenas um ou outro gênero literário para utilizar ao longo de sua vida escolar sem que haja oportunidades de acesso à diferentes gêneros linguísticos, podendo ser este um grande entrave, como também da disponibilidade da escola de acesso a outros gêneros com os quais possa identificar-se, podendo este ser um grande entrave no reconhecimento do prazer na leitura. Se antes a leitura era apenas vista como um meio de entender determinada mensagem, hoje ela é concebida, por diferentes teóricos e estudiosos, como um processo de constituição de sentidos em que o sujeito-leitor – e podemos entender aqui como aquele que assume uma postura crítica em relação aquilo que lê, onde não apenas memoriza informações, mas também compreende e analisa a mensagem contida no texto - vai além da simples decodificação e assume uma posição ativa com relação às suas ideias e reflexões; a leitura, de acordo com Orlandi (1988, p.45), é entendida como “uma questão linguística, pedagógica e social ao mesmo tempo”.

As HQs, tal como conhecemos hoje, surgiram em meados da metade do século XIX na Suíça, com “Les Amours de Monsieur Vieux-Bois” de Rodolphe Topffer (1799-1846). No Brasil, as HQs começaram a ser publicadas, também, em meados do século XIX, aproximadamente 1869, sendo Ângelo Agostini (1843-1910) seu precursor.

Assim, podemos pensar as Histórias em Quadrinhos (HQs) como uma das maiores formas de expressão, criatividade e imaginação; e, segundo Calil, Dikson e Vergueiro (2013, p.31), se configuram como um sistema narrativo composto por dois códigos que atuam em constante interação: o visual e o verbal. É através dessa união de imagens e textos, que a criança identifica-se com este mundo, próximo a sua realidade, o que facilita o processo de (des)envolvimento da leitura, onde ela significa e (re)cria seu próprio acervo enquanto leitor. Dessa forma, podemos entender que esta se mostra se materializa e se apresenta como uma linguagem que dialoga com o imaginário da criança, e acaba se tornando um campo inesgotável de possibilidades quando trabalhadas no ambiente escolar.

A linguagem das HQs, com ações divididas em quadros e pequenos textos onde as linguagens escritas e verbais encontram-se, é narrativamente sustentada, e vai ganhando espaço gradativamente. É pela junção dessas linguagens que é possível a principal característica do gênero: a condição visual, com ou sem conversação, tão importante para a constituição de sentidos.

Logo, o trabalho pedagógico tendo o aporte dos quadrinhos, contribui para que o aluno possa entender sua lógica, aprimorando sua bagagem linguística e cultural. Concordamos com Demartini (2015, p.9), ao afirmar que é preciso, primeiramente, alfabetizar-se na linguagem das histórias em quadrinhos, nas suas especificidades, sendo elas geralmente imagens e escrita, conhecer seus limites e possibilidades para que possa trabalhar-se na melhor forma.

Contudo, há ainda uma valorização de outros gêneros literários (romances, contos, poesias, fábulas etc.) em detrimento das HQs, por serem consideradas unicamente “coisas infantis”, mas é preciso reconhecê-la como parte integrante de um fenômeno, como produção cultural, e, portanto, um modo de linguagem criada pelo homem, como forma de significar o mundo a sua volta, as HQs contribuem para o desenvolvimento da imaginação, da criatividade e da ampliação do vocabulário, além disso,

as histórias em quadrinhos, com sua força verbal e pictórica, podem ser uma forma de expressão filosófica, pois apresentam condições para provocar o espírito crítico, a imaginação e o pensar próprio, ainda que a argumentação, a defesa de uma ideia ou a proposição de um problema, via de regra, sejam feitas de maneira diferente daquela do discurso acadêmico. (SANTOS; NETO, 2015, p.21)

Trabalhá-las no contexto escolar é de suma importância, pois carregam em si sentidos e possibilidades de reflexão e aprendizado sobre o mundo em que se está inserido, assim como estímulos à criação, imaginação e socialização. As HQs são fundamentais em sala de aula para a construção social e sua compreensão de outras formas de linguagem, uma vez que possuem uma comunicação própria, o que leva a um enriquecimento da bagagem cultural, indispensável para a formação social do aluno.

Além disso, novamente, Orlandi (2001) salienta que não é necessariamente o acesso ao instrumento em si que muda as relações sociais, mas o modo com que se apropria do mesmo.

Portanto, defendemos aqui que a formação do sujeito-leitor deve ser estimulada desde a infância, e a prática da leitura, e em especial das HQs, como instrumento para se refletir sobre a realidade, tornando-a um valioso recurso pedagógico em sala de aula, que pode e deve ser usada como meio e não apenas fim do processo educacional, pois é possível observar como as Histórias em Quadrinhos relacionam-se com os alunos e suas contribuições para que estes, futuros sujeitos-leitores, possam desenvolver-se na sua integralidade.

Bárbara Arcanjo

Prof.ª Elaine Assolini

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