LA CASA DE PAPEL: popularidade e resistência

LA CASA DE PAPEL: popularidade e resistência

As séries constituem uma materialidade linguístico-discursiva que representa, nas telas, os dramas (conscientes e inconscientes), os desejos e acontecimentos da vida, levando-nos à identificação com o enredo representado. Uma das séries mais visualizadas na Netflix, La Casa de Papel, acaba de divulgar o trailer da sua terceira temporada causando euforia entre os espectadores. Por que o enredo cativou um público de idades, culturas e países tão diferentes?

A história (fictícia) acontece dentro da Casa da Moeda da Espanha, quando um grupo com oito “assaltantes” invade o local, mantendo estudantes, funcionários e visitantes como reféns. Fortemente armados, os assaltantes bloqueiam as entradas do prédio e, ao longo de dias, executam o trabalho.

Criada pela emissora Antena 3, da Espanha, mas adquirida e transmitida pela Netflix, a série ultrapassa as fronteiras do país conquistando cada vez mais popularidade e atenção de diferentes grupos sociais e culturais, além de ser bem avaliada pelos críticos do ramo. Numa história repleta de reviravoltas, amor, ódio, tensões e magistralmente planejada, a série vai ganhando espaço e visualizações. O personagem interpretado pelo ator Álvaro Morte, chamado Professor, surpreende a cada episódio – um homem a princípio misterioso, mas com grande desejo de realizar o maior assalto do século em memória de seu pai, também assaltante, que morreu sem conseguir tal feito.

O Professor monta sua equipe com pessoas que viviam à margem da sociedade, representando um grupo bem específico que precisa sobreviver e, para isso, comete delitos. A equipe é liderada por ele, que ocupa a posição de mestre ao orientar cada um dos integrantes sobre tudo – sobre todos os passos a serem dados, bem como as respostas. O plano é maravilhosamente planejado, mas como qualquer relação humana, há dificuldades, impasses e problemas que exigem um redirecionamento o tempo todo a fim de que o objetivo seja atingido. Para isso o professor dá “um banho” de (re)planejamento, moral e persistência ao longo dos episódios.

O drama se passa nas relações pessoais estabelecidas durante o “assalto”, momento em que o espectador começa a torcer para que os assaltantes obtenham sucesso, pois um dos princípios morais que os rege é não matar ninguém, então eles são vistos como “mocinhos” da história. O cerne do enredo provoca empatia dos seguidores porque os assaltantes não estão de fato roubando, mas sim imprimindo o dinheiro. Eles passam dias imprimindo bilhões de euros que serão retirados (ou não) do local. Nenhum valor foi roubado, mas sim produzido. Com isso, os espectadores se (re)conhecem, afinal, quem nunca desejou produzir cédulas de dinheiro para uso pessoal?

O que a princípio parecia um assalto, torna-se um acontecimento de resistência, isto é, um símbolo de resistência contra um governo espanhol que favorece aqueles que têm mais recursos em detrimento dos que têm menos. Nessa linha tênue, os assaltantes vão se constituindo enquanto heróis de uma comunidade que apoia a ação.

Embalados por Bella Ciao, os atores marcam a resistência vestidos com macacões da cor vermelha e máscaras com o rosto de Salvador Dali. O vestuário tornou-se um símbolo mundialmente comercializado. No Brasil, a música Bella Ciao ganhou força no período eleitoral, com diferentes versões, associando-a ao símbolo de resistência na vida real a partir das ideologias que permeavam a série.

Na certeza de que La Casa de Papel ganhou fãs que esperam ansiosos o lançamento da terceira temporada, esperaremos refletindo: até que ponto uma série marca ideologicamente uma comunidade? Como a atual educação brasileira necessita de “assaltantes” como os da série para resistir a um governo que nos sucateia cada dia mais! Pensemos...

Prof.ª Jéssica Vidal Damaceno

Profa. Dra. Elaine Assolini

Compartilhar: