Lizandra Bruna Simões de Oliveira

Profa. Dra. Elaine Assolini

O conceito de interdisciplinaridade é a cooperação de várias disciplinas para que haja interação entre professor, aluno e cotidiano. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais para ensino médio, o conceito não possui o propósito de diluir as disciplinas, e sim manter sua individualidade, além de integrá-las a partir da compreensão de diversos fatores e causas do cotidiano trabalhando todas as linguagens necessárias para construção de conhecimentos.

A necessidade de contextualização em sala de aula é notória e os conteúdos  não farão sentido para o aluno, se ele não puder perguntar: “para que vou utilizar isso na minha vida?”. O ensino não deve ser voltado somente para passar no vestibular, ou para a conclusão de um curso de graduação. Dessa forma, contrapomo-nos aos princípios e metodologias que buscam tornar o aluno uma máquina de decorar conteúdos para passar nos exames e avaliações. Visto isso, há a necessidade de trabalhar com o cotidiano em cada disciplina e mesclá-las, pois, cada uma é parte da divisão de um todo, cada uma possui sua individualidade, mas todas são correlacionadas na vida.

A base do ensino deve salientar o protagonismo do aluno em sua aprendizagem, ao professor cabe fazer adequações e adaptações, e não o contrário. Essa dinâmica auxilia no aprendizado escolar, possibilitando ao aluno ter visão maior sobre a relevância das informações obtidas na escola e como elas vão ser utilizadas concomitantemente no cotidiano.

É importante destacar que a interdisciplinaridade difere da multidisciplinaridade. Multidisciplinaridade aborda diferentes áreas do conhecimento sem uma interação entre elas, já a interdisciplinaridade aborda diferentes áreas do conhecimento interagindo entre elas em relação a um determinado assunto (JAPIASSU, 1976; FAZENDA, 2001 apud OLIVEIRA, 2019). Assim, a interdisciplinaridade é uma proposta viável no contexto pedagógico atual, considerando o diálogo e a combinação de diferentes áreas do conhecimento, permitindo ao aluno desenvolver seu aprendizado, relacionar o conteúdo com a sua vida, e interessar-se pelo que é estudado.

A professora Monique Gonçalves, filiada ao Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro, apresentou uma palestra no Congresso Online Nacional de Química (CONDEQUI) denominada “Inclusão no Ensino de Química: Elaboração de Recursos Acessíveis com Uso de Materiais de Baixo Custo”, na qual enfatiza a necessidade da interdisciplinaridade, contextualização e humanização do ensino para ensinar a todos, inclusive os alunos com necessidade educacionais especiais (NEE).

Humanizar o ensino é ensinar, partindo do que o aluno já conhece e não existe aluno que não saiba nada, todos possuem vivências e podem se apropriar daquilo para aprender novos conteúdos. Assim, é importante trazer projetos interdisciplinares e temáticos, que façam os alunos se comunicarem e cooperarem juntos, para que todos trabalhem em conjunto, ajudem-se, inclusive os alunos com Necessidades Educacionais Especiais, NEE.

O psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934), em sua obra “Pensamento e Linguagem”, destaca a importância da linguagem, que é uma ferramenta de transformação e deve ser utilizada no ensino. Assim, fazer com que os alunos trabalhem em cooperação, comunicando-se e interagindo, transforma o ambiente escolar em um ambiente de acolhimento, independente das suas limitações, fazendo com que todos se sintam parte de um todo.

A escola pode e deve utilizar de diferentes métodos para ensinar e acolher todos os alunos, não só os que apresentam NEE, podendo ser utilizadas experimentações e tecnologias assistivas. Como consequência, podemos conseguir um ambiente e espaços favoráveis para formar cidadãos críticos, pensantes e com autonomia, cumprindo o objetivo inicial da escola: formar cidadãos críticos e autônomos.

Em BONATTO (2012), é salientado que o professor deve ser capacitado para inovar no ensino, buscando técnicas qualificadas e não focar apenas em conteúdo, além de ser essencial ter um bom relacionamento com os alunos, facilitando a aprendizagem sobre como conviver em sociedade. Assim, a interdisciplinaridade ocorre naturalmente na contextualização sensível, mas fazê-la demanda trabalho e dedicação por parte dos educadores.

Portanto, eles, os educadores, devem ter interesse em ensinar significativamente e abrir mão do ego de que sua disciplina é única, pois devem trabalhar em cooperação com outras matérias, que irão auxiliar no processo de aprendizagem. Lembramos que a ciência como um todo, dividiu-se em disciplinas no fim do século XIX, mas essas não podem perder o diálogo entre si, pois são parte de um mesmo assunto (PEREIRA, 2009). A construção do conhecimento é influenciada não só pelo professor, mas também pelo ambiente, pela comunicação. Assim, trabalhar com problemáticas atuais, explorando ideias que refletem a realidade é de grande relevância para que o aluno construa suas relações consigo mesmo, capacitando-o a aprender (BONATTO et al, 2012).

Assim, a utilização de métodos e projetos interdisciplinares complementam as disciplinas, garantindo visão maior por parte dos alunos e professores. Os educandos conhecerão o mundo em que vivem por meio de várias áreas de conhecimento, observando que todos estão interligados e são importantes. Não se faz medicina sem a filosofia da vida, não se faz engenharia sem a matemática dos cálculos, sem a geografia do terreno, sem a arte do arquiteto, tudo está  interligado, interpenetrado, e, quando se aprende que as matérias possuem relação, o aprendizado se torna interessante, gratificante e desperta o interesse do aluno.