PODE(R) DA PALAVRA: TORNAR-NOS NÓS!

PODE(R) DA PALAVRA: TORNAR-NOS NÓS!

 

Laura Pilotto de Arruda Campos

Fabiana de Oliveira Ribeiro

Filomena Elaine Paiva Assolini

 

        O que nos diferencia das outras espécies é nossa capacidade de comunicação avançada, fruto da habilidade de raciocínio que só os humanos são capazes de experimentar e, graças, também, a um aparelho fonador que nos permite articular as palavras. A Palavra que no início já era, que depois, habitou entre nós, sem a qual nada do que foi feito se fez. A Palavra que é divina, mas por ser, também, tão corriqueira, perde seu prestígio em meio da insensibilidade que a vida diária impõe sobre nós.

 Todavia, quando reflito sobre o poder da palavra, como professora, vem-me à cabeça meus alunos de quatro a cinco anos que estão começando a descobrir as letras. Eles falam o que querem, conseguem explicar as coisas e o mundo com seu próprio vocabulário e olhares sobre a vida. Entre eles se destacam três, pois conquistaram meu amor com suas particularidades: Victor, autista e surdo; Dudu, com fala atrasada; Guilherme, também autista. Todos, mesmo sem falar da forma convencional, conseguem se comunicar por outros meios, sejam gestos, olhares, sons, carinhos, que também não deixam de ser uma comunicação poderosa! 

       Penso, ainda, no pessoal da limpeza. Eles trabalharam a vida toda em escolas, mas, num paradoxo cruel, muitas vezes, nem são alfabetizados. Ou os caseiros que trabalham com meu avô, que não puderam ser habilitados a dirigir por não saberem ler e escrever. Todos, em suas limitações, comunicam-se, expressam-se, cantam, vivem em sociedade e são felizes. Porém, olhando para eles, vejo que o direito pleno do uso da palavra, por meio da escrita, não é acessível a todos, cerceando o acesso ao conhecimento,  tirando a liberdade, (in)formação e oportunidades de muitos…

             Em minha vida, desde a infância, apesar de não ter sido uma grande leitora, pude ler as cartas que minha avó me enviava. Eu morava na fazenda, era difícil a comunicação via ligações telefônicas, então, a escrita para mim começou como meio de comunicação, evoluiu para os CD’s de músicas infantis que eu amava! Ao ouvir “Arca de noé” de Vinícius de Moraes, ainda nem sabia que estava apreciando um artista das palavras que, assim como as cantigas da minha mãe, ainda não alfabetizada na época, deixaram marcas afetivas escritas em mim. Então descubro, de repente: somos uma folha, quiçá, um livro que vai deixando de estar em branco ao longo da vida, porque os outros humanos vão escrevendo em nós com suas palavras e humanizando-nos. A escrita mudou a história e continua com o mesmo poder de mudar histórias.

No entanto, não é só a escrita que abre nossos horizontes, a oralidade é tão importante quanto! O fato de a maioria das relações humanas usarem a oralidade, é um aviso da necessidade das práticas docentes investirem na fala. Mas, na fala libertadora do pensamento,  com autoria e consciência do quão vasto e incontrolável são os sentidos e sua complexidade.  

Pela oralidade as pessoas podem influenciar outras, podem comunicar de forma eficaz, clara, abrindo portas em muitas áreas da vida, desde relacionamentos pessoais até oportunidades profissionais. Pessoas que se expressam bem tendem a ser mais persuasivas, a transmitir suas ideias de maneira mais eficiente e a construir conexões mais fortes. 

Na tessitura da existência humana, a palavra escrita ou falada é o fio que nos une, entrelaçando corações e mentes. Como uma chama eterna, ilumina a escuridão da ignorância, aquecendo almas com a luz do conhecimento e da empatia. Cada sílaba pronunciada e cada letra escrita são específicas, como uma flor (do Lácio) que desabrocha, espalhando um perfume: a compreensão.

A palavra é o eco da nossa essência, ressoando através do tempo e do espaço, construindo pontes entre mundos distantes e desfazendo os nós do isolamento. Na poesia dos encontros, na melodia dos diálogos, encontramos a força para transformar o caos em harmonia, o silêncio em canção.

Assim, honremos a palavra, a guardiã dos nossos sonhos e das verdades, como o tesouro sagrado que é. Pois, em sua delicada/agressiva simplicidade/complexidade, reside o poder de moldar destinos, de sobreviver na eternidade como histórias que definem nossa humanidade.

 

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