POR QUE TRABALHAR COM PROJETOS

POR QUE TRABALHAR COM PROJETOS

Apesar de não ser novidade no meio educacional, em especial nas ciências da educação, a pedagogia de projetos ainda não é plenamente utilizada pelos educadores. Neste artigo, apresentamos alguns motivos pelos quais defendemos o trabalho pedagógico por meio de projetos.

A aprendizagem baseada em projetos possibilita ao estudante ter voz, isto é, poder sugerir temas a serem estudados. Ao ser chamado para sugerir um tema, o estudante torna-se copartícipe na proposta de trabalho e, dessa forma, fica ciente de que é corresponsável pelo desenvolvimento do projeto. O professor, por sua, vez, pode afastar-se de cartilhas, livros didáticos e materiais oficiais de ensino, desenvolvendo um trabalho pedagógico, a partir de um tema singular, que também seja de seu interesse.

A organização didática por projetos de trabalho possibilita ao professor criar condições favoráveis de produção para um trabalho interdisciplinar, facilitando ao estudante a percepção de como as diferentes áreas do conhecimento e disciplinas podem dialogar entre si e relacionar-se umas com as outras. O trabalho pedagógico com projetos promove, assim, condições e situações que se contrapõem a um ensino estanque, individualista e solitário.

A construção de conhecimentos a partir da pedagogia de projetos dá-se individual e coletivamente, pois, nessa organização didática, as atividades são realizadas em dupla ou, preferencialmente, em grupo, em equipe. Sendo assim, além dos conteúdos estudados, os alunos aprendem também como relacionar-se com os colegas, como partilhar seus saberes, como revê-los e ressignificá-los, como escutar o outro, como e por que ceder, enfim, aprendizados importantes para a constituição de sua identidade e formação escolar.

Outra característica importante dessa pedagogia diz respeito ao fato de um projeto ser uma atividade orientada por um objetivo que dará sentido a várias atividades, as quais serão desenvolvidas pelo grupo. Para isso, os grupos envolvidos traçam planos, refletem individual e coletivamente acerca da produção de algo que terá características diversas, como o somatório das características do grupo. Ter um objetivo em mente nascido a partir de diálogos e discussão com a classe instiga tanto estudantes quanto professor a concentrar-se nas ações que compõem o projeto, as quais devem ser articuladas e justificadas. O objetivo em comum pode contribuir para que a relação dos estudantes entre si e com o professor seja estreitada, uma vez que todos buscam atingir o mesmo objetivo.

A pedagogia de projetos requer que estudantes e professores ocupem a posição de sujeitos-pesquisadores, visto que a investigação cuidadosa e aprofundada a respeito de um tema é um dos pilares de sustentação do projeto. Nessa pedagogia, temos ações menos informativas e mais investigativas, como propõe Hernández (1998). Um motivo importante pelo qual vimos defendendo a pedagogia de projetos tem a ver com a possibilidade de o professor envolver todos os alunos da classe, pois, como a realização do projeto envolve várias etapas, diferentes atividades e ações diversificadas, existem oportunidades para o engajamento de todos os alunos.

Nessa linha de raciocínio, destacamos a questão do tempo. O tempo de desenvolvimento do projeto é flexível e dependerá dos objetivos a que o grupo se propôs alcançar. É possível respeitar o tempo dos estudantes, considerando as diferenças entre os ritmos e estilos de aprendizagem. Outra vantagem da pedagogia de projetos diz respeito às diferentes linguagens que podem ser acionadas e utilizadas, tais como a linguagem oral, a cinematográfica, a pictórica, a imagética, a cartográfica, bem como a musical, a teatral e a linguagem da dança. Podemos mobilizar e colocar em ação linguagens até então nunca estudadas e levadas para a sala de aula. A multiplicidade de linguagens contribui para que todos os estudantes participem do projeto, de uma forma ou de outra.

Podemos perceber que a pedagogia de projetos tem caráter inclusivo, no sentido de que, dada a variedade de atividades (tarefas, sequências didáticas, confecção de materiais, produção de conteúdos), todos os estudantes têm participação garantida nos trabalhos desenvolvidos. Assim, aquele que não se sente atraído ou motivado para confeccionar uma maquete, por exemplo, pode dedicar-se à pesquisa de conteúdos inerentes ao tema em questão, aquele que adora desenhar pode ser chamado para fazer ilustrações e aquele outro que jamais dançou ou brincou de dançar pode sentir-se motivado, a partir do convite de um colega, a integrar um grupo de dança, por exemplo.

É preciso lembrar que, além da etapa de planejamento, a concretização de um projeto envolve as etapas de sistematização, de divulgação e de avaliação. A etapa de sistematização envolve a organização de todas as etapas do projeto, de modo que responda às questões problematizadoras iniciais, bem como àquelas que surgem ao longo do percurso. Essa tarefa cabe ao professor que deve ter a visão do “todo” desde o início do projeto. A sistematização é importante também porque permite a todos visualizar as lacunas, as brechas, o que não foi respondido ou concretizado. Nessa etapa é possível verificar os passos que foram dados, os avanços conquistados e as mudanças de rota, caso tenham ocorrido. É fundamental que o professor não se perca nessa etapa, pois, caso isso aconteça, todo o trabalho realizado pode ser negativamente comprometido.

A etapa de avaliação, por sua vez, ocorre ao final do processo. É importante que o projeto em todas as suas etapas seja avaliado tanto por professor e alunos como por educadores externos à sala de aula, uma vez que poderão fazer avaliações mais ou menos objetivas. É também nessa etapa que os sujeitos participantes do projeto avaliam uns aos outros e realizam uma autoavaliação.

Outra etapa importante é a que diz respeito à divulgação do projeto. É imprescindível que um projeto tenha um “fecho”, uma finalização. Se essa etapa não se efetiva, não há a percepção de finalização, isto é, de que o projeto chegou ao fim. Cabe ao professor cuidar dessa etapa pois, nessa organização didática, a pedagogia dos projetos, ele é o “maestro” que conduzirá os passos da “orquestra” pela qual é responsável. A divulgação pode ser feita inicialmente dentro da própria escola, a fim de que todos os professores, alunos, coordenadores pedagógicos e gestores conheçam o projeto desenvolvido, bem como no bairro onde a unidade escolar está inserida e em espaços públicos da cidade. É pertinente que órgãos como a diretoria de ensino e a secretaria da educação sejam informados a respeito do projeto efetivado. Os inúmeros recursos virtuais também podem ajudar na divulgação do projeto, atingindo grande número de pessoas.

Salientamos que a pedagogia de projetos requer do professor descolar-se da posição de “dono do saber” para a posição de sujeito-aprendente, pois conteúdos novos, perguntas inusitadas, problematizações não previstas são presentes nessa forma de organização didática. A escola, por sua vez, precisa estar aberta e ser flexível, no sentido de que a pedagogia de projetos não pressupõe uma sala de aula onde as carteiras são militarmente posicionadas, ou uma escola onde os gestores não permitem que os estudantes realizem atividades no pátio e em outros espaços.

O trabalho com projetos justifica-se também pelo desenvolvimento nos estudantes de capacidades e competências como autonomia, criatividade, capacidade analítica e de síntese, além do poder de decisão. Ressaltamos que a pedagogia de projetos pode ser o primeiro passo rumo a uma escola inclusiva e democrática.

Prof.ª Dr.ª Elaine Assolini[1]

 

[1]Docente do Departamento de Educação, Informação e Comunicação (DEDIC), da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP).

Referências

HERNÁNDEZ, F.; VENTURA, M. A organização do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: Artmed, 1998.

BARBOSA, E. F.; MOURA, D. G. Trabalhando com projetos – planejamento e gestão de projetos educacionais. Petrópolis: Vozes, 2014.

 

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