QUEBRANDO UM “TABU”: uma conversa necessária sobre drogas ilícitas

QUEBRANDO UM “TABU”: uma conversa necessária sobre drogas ilícitas

Me. Caio Henrique Pinke Rodrigues

Profa. Dra. Elaine Assolini

Não é difícil encontrar na televisão programas que intencionam praticar um jornalismo investigativo, nos quais são mostradas pessoas que consomem substâncias psicoativas, genericamente conhecidas como “drogas”, seus efeitos deletérios e ainda a violência causada por essas pessoas. As histórias contadas sempre têm um tom mais apelativo, pejorativo e mostram um certo escárnio de uma sociedade que coexiste com uma ferida que não recebe a atenção devida.

Nesse contexto, a quantidade de informações relativas à violência, drogas, diversos crimes e a “marginalidade” podem nos assustar, criando uma repulsa inicial para dialogarmos abertamente sobre sua presença em nossa sociedade. Ainda, estamos sujeitos a repreender, julgar e punir socialmente outras pessoas, apenas pelo que a televisão nos mostra. Isto se tornou um entretenimento para alguns, pois “se não acontece comigo ou minha família, então está tudo bem” ou ainda “eu não faço uso de nenhuma dessas substâncias, eu zelo pela minha família e esse tipo de comportamento jamais chegaria perto dela”, mas é justamente nesse ponto que você, leitor, pode estar enganado.

Peço que você pense naquele docinho ou cafezinho que é sagrado, peço que pense naquela roupa que a cada coleção você vai correndo comprar, no lanche daquela rede de fast-food que toda semana você consome, nas cervejas que compartilha com os colegas após o trabalho. Cada um tem uma dependência, o ponto é que algumas delas são lícitas, mas não menos perigosas. A verdade é que criamos uma falsa ilusão, pois, quando falamos no assunto “drogas ilícitas”, criamos um bloqueio, um “tabu” e optamos por não conversar sobre. Todavia, esse tipo de assunto percorre os corredores e grupos de adolescentes com a mesma rapidez que essas substâncias podem ser disseminadas pelo mundo.

Voltando nossas atenções para o espaço escolar, encontramos adolescentes que estão se descobrindo, formando sua personalidade, com curiosidade aflorada e em um quadro de vulnerabilidade (RIBEIRO-JÚNIOR, 2016). Diante de todos esses estímulos e vários outros que não caberiam aqui, eles se encontram “no escuro”, sem informações ou diálogo sobre drogas.

Segundo Moreira (2006), existem três estratégias que podem ser aplicadas visando a prevenção da relação desses indivíduos com drogas: “1) diminuir a oferta do produto; 2) diminuir a demanda por parte do usuário; e 3) influir sobre as circunstâncias favorecedoras da oferta e da procura”. A primeira se relaciona com medidas punitivas/repressivas, em especial os artigos 28 e 33 da Lei 11.3434/2006, conhecida como “Lei de Drogas”, estando intimamente ligadas com a “guerra às drogas”. A segunda tem seus pilares nas ações educativas de caráter pedagógico, direcionadas para políticas de redução de danos. Por fim, a terceira estratégia visa alterar os contextos onde esse ciclo vicioso é perpetuado; uma intervenção para minimizar ou neutralizar os impactos dessas substâncias.

No Brasil, utilizando como pano de fundo a segunda estratégia, tivemos o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), desenvolvido por policiais. Entretanto, como esse programa foi importado e adaptado de um programa norte-americano, não surtiu o efeito pretendido em nosso contexto social, virando apenas “piada” entre os adolescentes.

 Com uma abordagem diferente, a Organização Mundial da Saúde estimula o desenvolvimento do conceito de Escola Promotora de Saúde (EPS), em que são abordados aspectos como: equidade de gênero; natureza integral da saúde; envolvimento da comunidade acadêmica e medidas que ampliem as habilidades cognitivas e socioemocionais dos envolvidos (MOREIRA, 2006).  Nessa direção, destacamos que com educação em saúde e medidas voltadas para redução de danos, podemos encontrar algo que atinja de maneira mais significativa esses alunos.

Observa-se, finalmente, que essas políticas seguem os preceitos de reduzir os prejuízos oriundos do uso dessas substâncias pautadas no respeito, no não julgamento ou estigmatização do indivíduo e no pragmatismo, para que possamos criar um ambiente saudável, acolhedor e empático de trocas de informações e conscientização, colocando os jovens como protagonistas dessas mudanças.

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REFERÊNCIAS

MOREIRA, Fernanda Gonçalves; SILVEIRA, Dartiu Xavier da; ANDREOLI, Sérgio Baxter. Redução de danos do uso indevido de drogas no contexto da escola promotora de saúde. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2006, vol.11, n.3, pp.807-816. ISSN 1413-8123.  https://doi.org/10.1590/S1413-81232006000300028.

RIBEIRO-JÚNIOR, Welton Alves; DE SOUZA, Robécia Graciano; DA CRUZ, Elaine Regina Batista; LEITE, Anileide Gomes; ALMEIDA, Lúcia Maria. PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS NO AMBIENTE ESCOLAR ATRAVÉS DO PROCESSO DE SENSIBILIZAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO. Carpe Diem: Revista Cultural e Científica do UNIFACEX. 2016, vol. 14, n. 1, pp.31-42. ISSN: 2237 – 8685. https://periodicos.unifacex.com.br/Revista/article/view/694

DA SILVEIRA, Ricardo Wagner Machado; DOS SANTOS, Thalita Mara; ESCOLA DE REDUÇÃO DE DANOS: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE. Rev. Nufen: Phenom. Interd. 2017, vol.9, n.3, pp.220-233. https://doi.org/ 10.26823/Revista do NUFEN. vol.09.n.03rex24

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