(Re)pensando...

(Re)pensando...

Profa. Dra. Leny Pimenta

 

Estas são apenas algumas pequenas reflexões, à cerca desse tão importante tema: IDENTIDADE CULTURAL e SUSTENTABILIDADE ao qual, no afã de buscar fios para uma tex/tessitura temática, lançamo-nos ao preâmbulo, esperando que haja por parte dos leitores, novos fios, possivelmente entrelaçados, a verterem outros modos de pensar...

Sabemos que em todas as sociedades, ao longo do tempo, sedimentamos nossas formações ao criar um conjunto de valores, hábitos, rituais, atitudes, enfim, um patrimônio simbólico histórico, que represente a identidade de cada grupo. Em maior ou menor grau, os membros de uma sociedade compartilham desse patrimônio, estabelecem uma sólida comunhão, que certamente irá caracterizar aquele grupamento.

No entanto, a forma como a humanidade evolui, muitas vezes fragmenta essa identidade cultural. É notório que atualmente os acontecimentos são acelerados e as distâncias são encurtadas, pois a navegação eletrônica rompe facilmente os limites de tempo e espaço. As novas informações de um mundo globalizado são capazes de transformar rapidamente as sociedades, interferindo profundamente na leitura e interpretação de seus valores tradicionais. Essa mesma sociedade é, muitas vezes, incapaz de acompanhar a velocidade com que as transformações operam, colocando o sujeito, que dela faz parte, diante de várias leituras e interpretações, que o obrigam constantemente a (re)configurar seus valores e se submeter/aceitar uma nova cultura.

Percebemos, assim, que esse novo e admirável “mundo novo” exige sujeitos com posturas mais ágeis e criativas, que se apropriem e sintam-se inclusos na cultura trans mundial, na qual a força dos efeitos da globalização faz-nos sentirmos oprimindo/extirpando culturas locais, até mesmo nos lugares mais distantes em que a informatização alcança. As diferenças culturais (étnicas, regionais, religiosas, folclóricas e outras), até então, de certa forma, não ostensivas, agora se (re)configuram, ao mesmo tempo global e localmente. Modismos atravessam o mundo em instantes, e o biopoder ganha espaço criando estereótipos e “clones” quase instantaneamente: o modo de falar, vestir, cantar, usar adereços, tatuagens, rapidamente invadem uma comunidade, corrompendo sua identidade cultural, massificando rapidamente os sujeitos e alienando-os.

Portanto, para que possamos preservar nosso patrimônio cultural, devemos reaprender a olhar para ele como lastro de uma cultura, de uma conjuntura histórica, a própria exaltação de um povo na sustentação de sua identidade, rastros de memórias que nos constituem e que nos fazem singulares. Para superarmos esse processo de massificação que a globalização impõe-nos, podemos vislumbrar frestas que (d)enunciam um passado vivo nas formas de expressão das manifestações culturais, estudando e reaprendendo comportamentos, ao bom estilo foucaultiano de uma governamentalidade que possa promover o retorno à essência, à subjetividade e à singularidade.

Possíveis estratégias provocadoras da sustentabilidade implicam desenvolvimento de ações culturais, que podem e devem ser conduzidas pelos nossos governantes, legisladores, escolas, entidades não governamentais e é claro, por nós mesmos. Sem falar que, a instituição escolar tem um papel preponderante, pois é capaz de produzir uma educação para além dos conteúdos, uma educação libertária, emancipatória que visa à harmonia da natureza física e humana, à luz da história, da literatura, da arte, da filosofia e da biodiversidade, do multiculturalismo como fontes estruturais de sobrevivência humana.

Como exemplo, podemos citar o movimento Ribeirão Cultural, que ocorre aberto à comunidade anualmente. Trata-se, sem dúvida, de um movimento cultural que resgata a memória histórica, que valoriza nosso folclore, nossas tradições, nossa literatura, nacionalidade e nossa inventividade.  Atitudes simples como composições poéticas, literárias, artísticas e até mesmo uma reverência que fazemos à natureza, ao plantar árvores típicas do cerrado, é um belo exemplo de exaltação a um de nossos mais belos ecossistemas (quase extinto) e representa exemplos de atitudes garantidoras de sustentabilidade.

A realidade que está aí constituída deve ser uma preocupação coletiva, as atitudes para garantir a sustentabilidade de nossa identidade cultural cabem a cada um de nós. Com criatividade e ousadia, somos capazes de gerar ideias e posturas que nos permitam preservar tão valioso patrimônio, ancorados no comprometimento com o bem-estar social. 

Devemos encarar o risco de perda de nossa identidade cultural como o risco de perda da “alma” de um povo. A preservação de nossa história não deve se restringir apenas aos aspectos econômicos, mas também aos aspectos sociais, éticos, estéticos, morais e culturais, pois um povo sem lastro histórico não tem raízes para se impor como um segmento importante da sociedade em um mundo globalizado.  Deixamos a você, caro leitor, a célebre pergunta foucaultiana, “quem somos nós hoje?”

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