(RE)PENSAR A INFÂNCIA: UMA (DE)CISÃO DO ONTEM, HOJE E AMANHÃ

(RE)PENSAR A INFÂNCIA: UMA (DE)CISÃO DO ONTEM, HOJE E AMANHÃ

No correr da história, a criança foi vista de maneiras muito diferentes, e estas diferenças perpassam épocas e culturas de determinados povos. A infância compreende a representação que os adultos fazem sobre o período inicial da vida ou o período vivido pela criança em determinada fase.

Foi Rousseau (1995, p. 16), considerado um dos primeiros pedagogos da história que começou a ver a criança de maneira diferenciada, propôs uma educação infantil sem juízes, sem prisões e sem exércitos, uma educação em que a criança pudesse vivenciar “todos os acidentes da vida humana”. A criança, segundo Rousseau, deveria experimentar, vivenciar situações para que pudesse (re)significar seus aprendizados, dando sentido aos conceitos e atividades propostas pelos educadores e presentes em todos os ambientes nos quais a criança convive.

Ainda entendendo as diferentes maneiras com que a humanidade lida com a fase da infância, Nascimento (2008, p. 8) aponta que Durkheim (1978), foi quem primeiro buscou tecer os fios da infância aos fios da escola com objetivos de “moralizar” e disciplinar a criança. Durkheim afirmou em 1911 (2010, p. 15), em seu texto “A Educação, Sua Natureza e Seu Papel”, que “cada sociedade considera, num determinado momento histórico, o seu desenvolvimento, o seu sistema de educação, que se impõe aos indivíduos”. Cada sociedade fixa certo “ideal do homem”, do que ele deve ser, do ponto de vista intelectual, físico e moral, sendo esse ideal o próprio polo que norteia a educação. Durkheim, define que a educação ideal não deve ser como uma receita pronta, como em um texto instrucional, mas deve ser mediada a partir de conceitos e realidades de acordo com o tempo e as regiões.

Entretanto, não podemos negar que o sistema educacional de uma sociedade é, em sua maior parte, produto das gerações anteriores, de criação coletiva e não individual. Ele depende da religião, da organização política, da ciência, da indústria etc.

Buscando uma reflexão a partir de ideias, conceitos e genéricos discursivos sobre a infância e a criança, podemos nos perguntar sobre como a escola pode contribuir para a formação do sujeito-criança nos aspectos sociais, psicológicos, pedagógicos e afetivos.

Convém destacar que Coelho (2007, p. 5) coloca a noção relativa à infância e aos serviços organizados para o seu atendimento como construções culturalmente situadas e a ideia de que não existe “uma infância”, mas diversas imagens de infância, as quais são socialmente interpretadas e reconstruídas no seio dos grupos e dos processos sociais que lhes dão origem.

 Os profissionais da área da educação ocupam o lugar de mediadores culturais e sociais, ou seja, o educador ocupa o lugar de interlocutor da sociedade que rodeia o sujeito-criança, que pelos discursos que lhe atravessa constrói uma visão de si a partir da visão que o outro lhe proporciona, a escola funciona, assim, como um Aparelho Ideológico de Estado (AIE)¹(ALTHUSSER, 1970, p. 47), na ânsia de estandardização das práticas educativas.

Trazendo ainda a ideia de Coelho (2007, p. 9): (...) o reconhecimento do outro na sua diferença e na sua responsabilidade, permite encarar a educação das primeiras idades como uma estratégia em favor da tolerância e da diversidade, reforçando o papel dos educadores e dos professores como ativistas sociais.

Para Rousseau, os homens são todos iguais, tendo como vocação o estado de homem e a verdadeira educação é aquela voltada para a essência do homem, a qual não permitirá que este desempenhe-se mal em seu relacionamento com os outros. A criança que, ao tornar-se adulto, melhor souber suportar os bens e os males desta vida é, segundo o autor, a mais bem educada, decorrendo daí que a verdadeira educação consiste menos em preceitos do que em exercícios. Nossas instruções acerca da educação iniciam-se quando nascemos. O sujeito bem educado poderá seguir a carreira militar, a eclesiástica ou a advocacia, isso não terá a menor importância, pois primeiramente deverá ser um homem. Tudo que um homem deve ser, ele o saberá, se necessário, tão bem quanto quem quer que seja, e por mais que o destino o faça mudar, ele estará sempre em seu lugar (ROUSSEAU, 1995).

Symone Augusto

Elaine Assolini

 

¹ Designamos por Aparelhos Ideológicos de Estado um certo número de realidades que se apresentam ao observador imediato sob a forma de instituições distintas e especializadas. (ALTHUSSER, 1970, p.43)

 

Referências

ALTHUSSER, L. Ideologia e Aparelhos ideológicos de estado. Lisboa: Presença 1970.

COELHO, A. (Escola Superior de Educação de Coimbra, Portugal). Repensar o campo da educação de infância. Revista Iberoamericana de Educación. ISSN: 1681-5653 n.º 44/3 – 25 out. 2007.

NASCIMENTO, C. T. (UFSM). BRANCHER, V. R. (UFSM). OLIVEIRA. F. de O. (UFSM). A construção social do conceito de infância: Uma tentativa de reconstrução historiográfica. Revista Linhas, Florianópolis, v. 9, n. 1, p. 04-18, jan. / jun. 2008.  Disponível em: <https://www.periodicos.udesc.br/index.php/index/search/search>. Acesso em 20 de março de 2017.

ROSSEAU, J. J. Emílio; ou, Da educação. MILLIET, Sérgio (tradução) - 3ª edição.  Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.

Compartilhar: