SER PROFESSOR DE IDIOMA ESTRANGEIRO: Alguns desafios

SER PROFESSOR DE IDIOMA ESTRANGEIRO: Alguns desafios

 

Prof. Luciana Galeani Boldorini

Prof. Dra. Elaine Assolini

Segundo o British Council, (uma organização do Reino Unido para relações culturais no Brasil que promove cooperação na área de idiomas, artes, esportes e educação) 5% da população brasileira conseguem se comunicar em inglês e estima-se que apenas 1% tenha algum grau de fluência no idioma.

Mas, por que estes números? Os desafios da educação, de uma forma geral, já os conhecemos bem. Mas, ensinar um outro idioma requer a superação de muitos outros.

Hoje em dia, as pessoas procuram um instituto de idioma (escola particular de inglês) ou professor de inglês com propósitos variados. Um adolescente está em uma escola especializada pois, em geral, os pais veem a necessidade dos filhos de terem uma formação mais completa visando o futuro dele no mercado de trabalho. Porém, o adolescente só terá ciência da necessidade, quando surgir a hora do exame do ENEM ou vestibular. A necessidade aí seria de uma ferramenta para o sucesso em um exame e não a fluência no idioma.

Mais e mais os pais procuram colocar seus filhos em escolas bilingues desde o ensino fundamental, pois a necessidade emergente do mercado sentida por eles mesmos, já lhes causa preocupação. Por isso, há essa explosão no número de escolas que se adequaram para serem chamadas de bilingues em busca de apaziguar essa ânsia do mercado.

“Neste contexto, surgem as escolas bilíngues, que se propõem, inicialmente, a unir as duas competências: a da escola regular, voltada para educação e formação do indivíduo; e do instituto de idiomas, voltado para o ensino do idioma, com enfoque no desenvolvimento linguístico. Há, entretanto, uma diferença essencial na abordagem do ensino do idioma, ao se comparar o ensino de inglês nos dois contextos. Na escola bilíngue, a língua inglesa é um veículo, o meio através do qual a criança também se desenvolve, adquire e constrói conhecimento e interage e age sobre o meio. A escola bilíngue deveria ser sempre vista essencialmente como uma escola, com objetivos de uma escola, focada na educação, não como um instituto de idiomas aumentado” (Marcelino,2009).

Já o adulto, procura aprender do segundo idioma por outros motivos. Há aquele que ingressará nos programas de mestrado ou doutorado de universidades públicas onde há a necessidade de uma certificação de proficiência no idioma. Há aquele que busca uma ascensão no mercado de trabalho. Há o que vai viajar para o exterior, visitar amigos, buscar novas experiências, realizar um doutorado sanduíche (onde o aluno pode cumprir parte do programa em universidades em outros países) e, certamente, o inglês abre portas para a comunicação global.

As motivações dos alunos divergem, porém, os desafios na formação do professor de idioma são sempre as mesmas.

O primeiro ponto que podemos ver é a formação acadêmica. Os cursos superiores, em especial os cursos de Letras, não preparam o aluno universitário para ser falante fluente do idioma.  Há forte concentração na gramática, literatura, fonética, mas a prática da conversação é totalmente negligenciada. O estudante que almeja se tornar um dia professor de um instituto de idiomas deve procurar especialização com colegas professores ou escolas particulares, intercâmbios, cursos específicos ou falantes nativos.

Dessa forma:  “os institutos de idioma são, na essência, o lugar onde se ensina a língua como objetivo principal. O enfoque é o desenvolvimento linguístico, com um horário fixo e vertentes metodológicas pouco suscetíveis a alterações e adaptações. Há normalmente um número especificado de dias designado para cada unidade, e o aluno é testado com frequência para avaliação da retenção de estruturas novas apresentadas.” (Marcelino,2009)

O assim feito professor deve ainda buscar diversos recursos além do livro para motivar os seus alunos, chamar sua atenção para as aulas e promover um aprendizado mais dinâmico e atrativo. A era digital trouxe muitas vantagens em relação à disponibilidade de material online, porém trouxe algumas desvantagens como a dispersão da atenção e do interesse do aluno. Cada vez mais os exercícios de fixação têm que ser interativos, digitais e com cores vivas e vídeos que chamem atenção para a prática da leitura, da conversação e de tudo o que diz respeito ao aprendizado. Os velhos exercícios das gramáticas no papel estão cada vez mais sendo substituídos pelos exercícios realizados online e nas lousas eletrônicas.

Aquela imagem a professora com o “aparelho portátil de cd e cópias de livros de gramática na mão” já está bem ultrapassada. Hoje os alunos recebem suas atividades via e-mail ou whatsapp com os áudios em mp3 (tipo de extensão de arquivo de áudio digital), que lhes permitem praticar o idioma no conforto de suas casas, de seus sofás.

Há centenas de Youtubers (pessoas que têm canais de vídeo no site Youtube.com) ministrando aulas gratuitas, palestrando sobre dicas de pronúncia e vendendo cursos online enquanto se navega na internet. Explodem podcasts (canais de áudio digital que podem ser ouvidos quando quiser) sobre conversação, rádios estrangeiras e audiobooks (livros gravados para ouvir) gratuitos para a prática.

“Em 1999, um pesquisador norte-americano investigou as respostas a um questionário enviadas pela Internet por pré-adolescentes e adolescentes que estão crescendo com acesso ao mundo da informática. Dom Tappscot concluiu que este tipo de professor “sabe-tudo”, aquele que fornece todas as informações aos alunos está com seus dias contados. Isto mesmo. Nas análises e conclusões publicadas no livro Geração Digital (1999), Tapscott constatou uma forte rejeição ao “jeito velho de aprender”, rejeição que se mostrou de várias maneiras, principalmente, quando os alunos começam a buscar outras fontes de informação, não se limitando mais ao professor ou ao livro didático. (...). Os dados coletados por Tapscott indicam que têm sido bastante significativas a nova prática de aprendizagem e seu teor teórico daqueles que têm utilizado o computador conectado à Internet como ferramenta pedagógica. Segundo Tapscott, a geração que tem crescido na rede de computadores tende a desenvolver habilidades como:  independência e autonomia na aprendizagem; abertura emocional e intelectual; preocupação pelos acontecimentos globais; liberdade de expressão e convicções firmes; curiosidade e faro investigativo; imediatismo e instantaneidade na busca de soluções; responsabilidade social; senso de contestação; tolerância ao diferente; (...)” (Xavier, 2002)

O professor, então, deve estar atualizado em práticas pedagógicas e em mídias digitais das mais diversas naturezas. O exigente aluno contemporâneo não tem tempo e quanto mais fácil e rápido o acesso, mais há chances de um melhor aproveitamento.

Ser professor no Brasil, certamente já é um desafio, mas ser professor de idiomas requer estar a par de todos os últimos lançamentos tecnológicos para a capacitação de si e de seus alunos, conscientizá-los de que o aprendizado de um idioma, como aprender qualquer outra disciplina, demanda tempo e dedicação, exigindo persistência para alcançar a compreensão e a fluência.

Talvez, com esforços conjuntos, mudando a educação de base e a própria formação dos professores de línguas estrangeiras, criando ainda a conscientização dos estudantes sobre o compromisso em aprender, consigamos mudar os baixíssimos índices de aprendizado do idioma inglês e ter mais êxito no futuro. Afinal, a inserção e a participação no mundo contemporâneo exigem conhecimento de outro (s) idioma (s).

BRITISH COUNCIL. Disponível em <https://www.britishcouncil.org.br/> Acesso em: 07 de Mai de 2019.

Marcelino, Marcello. Bilinguismo no Brasil: significado e expectativas. Revista Intercâmbio, volume XIX: 1-22 2009. São Paulo: LAEL/PUC-SP. ISSN 1806-275x TERRA. Notícias. Disponível em <https://www.terra.com.br/noticias/dino/95-da-populacao-brasileira-nao-fala-ingles,9f848f68ed451de99742216570b7ccf9gc7gj8du.html >. Acesso em: 02 de Mai de 2019.

XAVIER, Antonio C. S. LETRAMENTO DIGITAL E ENSINO. Tese de Doutorado, Unicamp: NÚCLEO DE ESTUDOS DE HIPERTEXTO E TECNOLOGIA EDUCACIONAL, 2002.

 

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