SOMOS LEITORES DESDE SEMPRE

SOMOS LEITORES DESDE SEMPRE

Quando se toca no assunto Leitura, quase que automaticamente pensa-se em leitura formal, ou seja, aquela que é exigida na escola e, mais ainda, em alfabetização (aprender a ler e a escrever). Dessa forma, relaciona-se leitura ao sentido de escolarização formal, talvez o sentido mais forte e divulgado socialmente.

Entretanto, se pensarmos leitura como interpretação e, portanto, como produção de sentidos, podemos considerar que, independentemente da escolarização, todos leem, posto que produzem sentidos, tanto na oralidade quanto na escrita.

Lemos desde que fomos imersos na sociedade, ou seja desde que nascemos. Lemos desenhos, lemos rostos, sorrisos, gestos. A leitura é tecida, atravessada pelos legados de outras leituras, fazendo com esse movimento o retecer de outras e novas leituras. Nessa direção, ler não é entendido como sinônimo de decodificação e reprodução passiva um texto, mas sim, como possiblidade de desfazê-lo, desconstruí-lo.

Para tanto, é preciso que consigamos assumir a posição de sujeitos capazes de (re)criar, (res)significar e (re)formular os sentidos de um texto, sujeitos que se posicionam, criticamente, sujeitos que promovem deslocamentos de sentidos, de zonas de sentido e de significação.

De acordo com Assolini (2003, 2013, 2015, 2018), é a partir da posição de Intérprete-historicizado, que tais recriações e deslocamentos são produzidos. Assumir a posição de intérprete-historicizado requer o rompimento do silêncio dos sentidos, ao qual muitas vezes somos submetidos, bem como com os sentidos literais, que se nos apresentam como óbvios.  Requer ainda que as condições de produção do discurso sejam consideradas pelo sujeito intérprete-historicizado, pois os sentidos nascem no bojo das condições de produções. Assim, o contexto sócio-histórico cultural e ideológico, o interdiscurso, a memória do dizer e dos sentidos, a posição discursiva ocupada pelos interlocutores são levados em conta pelo sujeito intérprete.

 Espera-se que o intérprete-historicizado realize um movimento de contra-leitura, não no sentido do “contra”, mas sim daquele que questiona, que desconstrói e reconstrói os sentidos, a partir de sua memória discursiva e das condições de produção em que os dizeres ocorrem.

Dessa forma, a escola e o professor têm papel importante, pois podem ensinar o sujeito a “ desler o mundo”, como propõe Manoel de Barros, e, portanto, o seu diz a dia, suas experiências e vivências pessoais, como também ensiná-lo a realizar leituras críticas, ou seja, leituras que não se subordinam, que não são reféns de sentidos institucionalizados.

Entendemos que a posição intérprete-historicizado pode contribuir com os estudantes, no sentido de lhes mostrar que também podem produzir sentidos outros que não somente aqueles legitimados e permitidos pela escola.

 Ler e desler, a partir dessa posição, pode permitir ao sujeito compreender para além do que está posto, condição fundamental para que seja autor de sua própria história.

 

JOSIANE A. DE P. BARTHOLOMEU

ELAINE ASSOLINI

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