TDAH ADULTO

TDAH ADULTO

Joster Lopes

 

Segundo Silva (2014) o TDAH se caracteriza por três sintomas básicos: desatenção, impulsividade, hiperatividade física e mental. Costuma se manifestar na infância e em cerca de 70% dos casos, continua na vida adulta.

Já Rohde (et. al. 2019,) define o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) como sendo um transtorno do neurodesenvolvimento que atinge 5% das crianças e adolescentes ao redor do mundo. Embora, haja uma redução dos sintomas com o passar dos anos, até 65% dos afetados experimentam remissão parcial, apenas 15% das crianças com TDAH apresentam remissão completa em termos de sintomas, como de prejuízo funcional no início da vida adulta, o que o caracteriza como um transtorno crônico. Investigações em adultos sugerem taxa de prevalência em torno de 2,5% a 3%.

Além disso, muitos adultos têm TDAH, porém, não sabem. Em muitos casos são tidos como: desatentos, distraídos, preguiçosos e até mesmo incapazes de realizar muitas atividades. Esses adultos estão nos cursos superiores e no mercado de trabalho e, por vezes, são demitidos ou reprovados, por falta dos seus gestores ou professores desconhecerem o que é o TDAH.

Segundo Rohde (et. al., 2019), o TDAH é um transtorno altamente oneroso, que traz grandes prejuízos funcionais, problemas sociais e de vida familiar, baixa escolaridade ou abandono escolar, baixa autoestima, prejuízo no desenvolvimento emocional, problemas ocupacionais e divórcio. Ele está também associado a uma série de outras comorbidades psiquiátricas, como: o transtorno de oposição desafiante (TOD), o transtorno de ansiedade, dificuldades de aprendizagem e o transtorno de ansiedade e de humor.

No texto “o menino da janela”, eu conto a minha história enquanto estudante. Na sétima série, eu estudava em um Colégio onde havia uma grande janela que dava para rua e o jardim da escola. Repetidas vezes, pegava-me distraído observando as pessoas que passavam pela rua ou o jardineiro que cuidava do jardim. Os professores faziam perguntas, que eu não conseguia responder, pois, não sabia o que eles estavam dizendo e explicando.

Em muitos casos, falta a compreensão de que precisamos ser desafiados. A escola, por vezes, com uma metodologia altamente expositiva, sem desafios e problematizações, contribui para que o aluno com TDAH não tenha nenhum interesse pelo que está sendo abordado ou apresentando. Além disso, muitas vezes, esses alunos, ainda, são tidos como: desatentos, apáticos, desinteressados ou sem comprometimento.

É comum, no supermercado, por exemplo, quando me dirijo a um determinado setor, ser distraído por algo. O resultado é que, com certeza, vou para casa sem a mercadoria. A pessoa com TDAH, está muita exposta a distrações em diferentes situações.

Para Silva (2014), quando se pensa em TDAH, logo vem à mente a imagem de um cérebro em estado de caos, que ocasiona na vida de seus portadores uma existência marcada por distrações, bombardeio constante de estímulos vindo de todas as direções, incapacidade de distinguir fatos relevantes dos irrelevantes, inquietação intensa e impulsividade. Diante, de tal visão restrita, pode-se ter a ideia errônea de que todo TDAH estaria fadado ao fracasso e ao insucesso na vida, principalmente nas áreas social e profissional.

O meu diagnóstico da TDAH veio depois de uma forte crise de ansiedade, gerada por um momento difícil que passava na empresa onde atuava. O recebimento desse diagnóstico foi libertador, pois pude compreender com clareza as dificuldades que havia passado no trabalho, nos relacionamentos e na vida estudantil.

Existem erros quando se fala em TDAH, principalmente o adulto. Só temos condições de realmente saber se temos o TDAH depois de um diagnóstico realizado por profissionais de áreas específicas. Muitas vezes o TDAH é mal compreendido, banalizado e menosprezado.

Para (Rohde et. al, 2019), o neurotransmissor dopamina está envolvido na regulação da atividade motora e das funções límbicas, mas também desempenha um papel na atenção e na cognição, sobretudo nas funções executivas superiores. A função da dopamina se encaixa bem com os sinais e sintomas observados em pessoas com TDAH, a disfunção do circuito dopaminérgico foi implicado no transtorno com base em diferentes evidências.

É comum a falsa ideia de que pessoas com TDAH tenham falta de criatividade e incapacidade para realizar diversas tarefas, sendo incapazes de assumir responsabilidades, principalmente, no mercado de trabalho. Porém, Silva (2014) mostra-nos que gênios como Mozart, Einstein, Henry Ford, Leonardo da Vinci e muitos outros apresentavam comportamentos típicos de TDAH, pois tal forma de funcionamento cerebral favorece o exercício da criatividade.  

Durante toda minha infância, adolescência e idade adulta convivi com: distração, problema de memória, falta de coordenação motora, dificuldade de relacionamentos, mas também hiperfoco e uma criatividade alta para buscar soluções e para criar coisas novas.

Atualmente, coordeno um curso de MBA em Universidade, sou CEO de um ecossistema educacional que fundei, presto consultoria para redes públicas e privadas de ensino, sou docente e desenvolvo pesquisa. Nota-se, então, que o TDAH não me incapacitou de assumir grandes responsabilidades, e construir soluções inovadoras.

É claro que é preciso sempre estar lidando com alguns sintomas. O esquecimento, por exemplo, para o TDAH, se dá pela excessiva quantidade de pensamentos ao mesmo tempo. Quando estou preocupado com relatórios que devo enviar, muito provavelmente não estarei atento sobre aonde deixei a chave do carro. Contudo, o exercício de concentração, e principalmente o autoconhecimento ajudam muito na concentração e na gestão de situações do dia a dia.

É comum também dificuldades no sono, não conseguir parar quieto quando sentado, ansiedade, mas esses sintomas são amenizados com: tratamento adequado, atividade física, não consumo de bebida alcoólica e meditação. São mudanças de hábitos que ajudam muito. E que não são benéficos somente para quem tem o TDAH, como também para as pessoas que convivem com quem têm o TDAH.

De tal maneira, é preciso que cada pessoa descubra um caminho para conviver com o TDAH. O meu caminho foi a prática de atividade física, na qual lido com a superação e desafios, necessários ao TDAH. Também tenho acompanhamento médico e psicológico. O TDAH não me incapacita realizar nenhuma atividade. Todo o tratamento e a atividade física me garantem: foco, criatividade e resiliência. Contudo, ter uma rede apoio, mudanças de hábitos, informações fidedignas e autoconhecimento, também, foram fundamentais para lidar com o TDAH.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes inquietas: TDAH, desatenção, hiperatividade e impulsividade. Ed. Principium, Rio de Janeiro, 2014.

ROHDE, Luis Augusto, et. al Guia para compreensão e manejo do TDAH: da World Federation of ADHD. Editora Artmed, Porto Alegre, 2019. 

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