
Uma escola assim é que eu quero para mim
Davi Del Ciampo da Silva
Filomena Elaine Paiva Assolini
A escola, enquanto instituição, possui papel fundamental na sociedade em que vivemos, de maneira a formar efetivamente cidadãos emancipados e autônomos. Entretanto, no Brasil a realidade observada é, geralmente, distante da adequada. É possível perceber que essa instituição não tem sido efetiva em seu compromisso, dessa forma, dificultando ou até mesmo impedindo a verdadeira conquista de direitos por grande parte dos indivíduos que ela frequentam, além da constante reprodução de desigualdades em um sistema que desvaloriza camadas com capital cultural diferente do esperado no ambiente escolar.
Entretanto, apesar de todos os entraves e dificuldades na escola, ainda é por meio dela que um indivíduo pode emancipar-se em um ambiente tão desigual. Por esse motivo, há de se imaginar e trabalhar para tornarmos a escola um ambiente um pouco mais próximo do adequado.
A escola que quero para mim teria, em seu espaço físico, ambientes ricos em expressões artísticas e culturais. Suas paredes seriam pintadas e desenhadas, por alunos, funcionários e toda a comunidade que dela faz parte. Sua entrada, os corredores, o pátio e as salas seriam convidativas, agradáveis e cada canto diria algo sobre as pessoas que trabalharam para torná-la no que é.
Haveria rampas e adaptações para acessibilidade de pessoas com quaisquer dificuldades de locomoção. Ambientes, para além dos já conhecidos, voltados com um olhar especial ao desenvolvimento de atividades de pessoas com deficiências. Um lugar acolhedor e que possibilite efetivas práticas inclusivas de forma que a comunidade de pessoas com necessidades especiais não somente tenha a possibilidade de desenvolvê-las, mas sinta-se à vontade quanto a isso e utilize diariamente cada espaço.
Haveria, também, neste espaço, salas multissensoriais, com luzes coloridas, texturas diferentes, aromaterapia, de forma que alunos com dificuldades e/ou deficiências motoras, ou cognitivas possam ter um aprendizado multissensorial, engajamento e estímulo. A biblioteca seria acessível, com livros em braile, audiolivros, e-books, equipamentos com software de leitura. Além disso, haveria um jardim sensorial com plantas aromáticas, os bancos seriam adaptados, as atividades de jardinagem seriam terapêuticas, com bastante educação ambiental.
Espaços para arte acessível e estúdio de música, com materiais adaptáveis, tornando-se um espaço em que todas as pessoas pudessem desenvolver suas aptidões e desejos de forma livre.
Quando se está na escola, o ambiente deve ser pensado de tal forma para que as atividades sejam convidativas, com ambientes para expressões culturais da própria comunidade, tão importantes para um dia a dia favorável ao desenvolvimento das atividades escolares. Assim sendo, outro espaço de fundamental importância nesse contexto é a sala de aula, que seria, além de acessível, temática para cada tipo de área do conhecimento, não se limitando, claro, ao currículo escolar, mas possibilitando a exploração de novos espaços.
Para além do espaço físico, há algo mais fundamental que compõe o que chamamos de Escola, que é a própria comunidade escolar, não se limitando a grupos distintos, mas todos interagindo para a criação de um espaço propício ao desenvolvimento dos processos de ensino-aprendizagem além do desenvolvimento subjetivo de cada ator dessa comunidade, sejam alunos, professores, inspetores, pais, familiares, outros funcionários e até mesmo a comunidade externa.
A relação professor-aluno se daria com base no respeito. As aulas e atividades promovidas pelos docentes seriam no sentido de instigar o protagonismo e autonomia dos alunos, de forma que o modelo de ensino clássico expositivo, que pressupõe os alunos como receptores e o professor como detentor do conhecimento, seria apenas uma das mais variadas formas de se trabalhar uma aula, afinal, há infinitas possibilidades dentro da área de ensino que podem ser exploradas para potencializar a abstração dos conteúdos e situações pelos estudantes.
Os materiais utilizados pelos professores não se limitariam ao quadro, aos gizes, às canetas, aos livros e às apostilas desatualizadas, pois os docentes teriam em sua disposição equipamentos tecnológicos, lúdicos, didáticos, acessíveis, como quadros interativos, computadores, tablets, projetor multimídia, equipamento de áudio, kits de experimentação científica, livros de variados gêneros, dispositivos de realidade aumentada, instrumentos musicais, equipamentos de som, jogos educativos, materiais para manipulação, entre outras infinitas possibilidades.
Outra condição de extrema importância nesse ambiente seria a disponibilidade de alimentação adequada e balanceada aos estudantes, afinal, se trata, para além de necessidade, da dignidade da pessoa humana e a instituição escolar ofereceria de acordo com padrões delineados por especialistas na área da saúde.
Como a escola precisa se apoiar em profissionais para proporcionar boas condições para sua comunidade, seria, ademais, necessária a presença de nutricionistas, dentistas, médicos, enfermeiros, terapeutas, psicólogos, entre outros especialistas para que compusessem o corpo escolar, para sanar as questões de todos os tipos que surgem no dia a dia escolar. Dessa forma, com a comunidade bem tratada, os papéis de todos dentro desse espaço se tornam cada vez mais efetivos.
A escola em seus moldes atuais se demonstra uma realidade à parte do mundo fora de seus muros, tendo isso em mente, é necessário que o ambiente escolar se encontre aberto também à comunidade externa, por meio de eventos culturais, científicos, esportivos, entre outros, a fim de proporcionar integração entre esses “dois mundos”, além de permitir que os pais e familiares dos estudantes tenham maior contato com as atividades que seus filhos e parentes produzem enquanto na escola.
Outro ponto interessante que já existe nas escolas, mas que é pouco desenvolvido, é o Projeto Político e Pedagógico que, atualmente, já se trata de um documento que, em teoria, é feito e executado por toda a comunidade escolar (familiares dos alunos inclusos). Entretanto, o que é possível de se observar é que em muitos casos esse documento, que é de grande importância para o bom funcionamento da escola, acaba por ser somente mais um monte de papel que produz pouco efeito no dia a dia
Sendo assim, o tratamento do Projeto Político e Pedagógico seria, na escola que quero para mim, efetivamente discutido, criado, aprimorado, adaptado, executado pela comunidade escolar, de forma que os planejamentos lá descritos fossem efetivados. Para mais, o documento seria de transparência ímpar, pois todos os envolvidos e comunidade externa poderiam ter acesso ao mesmo.
Enfim, pensar o ambiente escolar envolve diversos fatores e, na maioria, investimento pesado, não somente capital, mas recursos humanos bem qualificados, trabalho, esforço e criatividade.
Quando nos debruçamos nas questões escolares, vêm à luz diversas dificuldades inerentes a esse ambiente, entretanto, enquanto futuro professor, entendo que esse é um espaço no qual, caso não haja investimentos humano e material, as já observadas reproduções de desigualdades tendem a se repetir.
Portanto, tenho ciência de que o sistema pouco pode fazer e pouco fará por essa instituição. Assim sendo, a escola que quero para mim é a escola na qual eu possa me encontrar enquanto professor, desempenhar efetivamente meu papel, participar ativamente das atividades propostas e possibilitar a potencialização em cada aspecto que for possível dentro e fora dos muros da escola, afinal o espaço físico não pode nos limitar, mas se esse for o caso, que pelo menos eu possa utilizar o que estiver disponível para tornar a realidade vigente em algo um pouco melhor.