A VALORIZAÇÃO DO PROFESSOR: alguns elementos

A VALORIZAÇÃO DO PROFESSOR: alguns elementos

António Nóvoa destaca que os professores vêm sendo tratados como profissionais cujo trabalho seria de questionável qualidade, como se o que realizam dentro e fora da sala de aula diariamente não tivesse valor social algum.

E, de fato, muitos professores se sentem desprezados e desconsiderados em sua profissão, pressupõem que os seus sentimentos, saberes, práticas, fazeres, enfim, o que têm para oferecer não afetam a sociedade de maneira ampla, nem os estudantes, de modo particular.

Entretanto, apesar de muitos professores vislumbrarem um cenário negativo, a profissão professor ainda continua ocupando um lugar social importante, também na sociedade contemporânea, de acordo com estudiosos como Nóvoa (2002) e Tardif (2005).

O professor ocupa um lugar social, reconhecido e legitimado, a partir do qual pode ensinar algo a alguém. A ação de ensinar, característica do ofício docente, não pode ser exercida por qualquer um, em qualquer lugar, em quaisquer condições de produção. O “algo” a ser ensinado é fruto de anos de estudos, discussões, reflexões e ressignificações, ou seja, o conhecimento a ser transmitido para o estudante foi, inicialmente, aprendido, incorporado, transformado pelo professor. Assim, quanto mais bem preparado no que diz respeito aos conhecimentos gerais e específicos de sua área de atuação, melhores chances terá de exercer competentemente o seu ofício. E, como já afirmei em outra ocasião, os estudantes percebem quando o professor domina ou não o conteúdo, quando consegue enriquecê-lo e ressignificá-lo, estabelecendo relações com outros conteúdos e linguagens.

O domínio dos conhecimentos atinentes à área de atuação constitui, pois, um dos eixos centrais para que o professor seja visto como alguém que pode ocupar a posição de quem ensina. A ele será outorgado ou não o poder de ensinar, dependendo dos saberes que acumula. Em outras palavras, defendo a tese de que o professor deve possuir erudição, no que respeita à sua área específica de atuação e aos conhecimentos basilares gerais. Em concordância com Henry Giroux (1997), defendo que os professores devem ocupar a posição de intelectuais transformadores, o que lhes possibilitaria investigar a sua condição profissional, saberes da docência, da experiência, processos identitários, subjetividade e perspectivas de trabalho.

Outra característica importante da docência está relacionada ao como -  como desenvolvê-la, como fazer para que o conteúdo a ser ensinado chegue ao educando, afetando-o, envolvendo-o e despertando-lhe o interesse.

Não vou me deter aqui em questões didáticas e metodológicas específicas, mas enfatizo que elas constituem um dos fatores que podem contribuir para que o ensino se efetive, assegurando que os estudantes aprendam e vejam significado no que lhes foi ensinado.

Entretanto, apesar de não serem determinantes, precisam ser pensadas e cuidadas, no sentido de que o professor esteja atento ao seu estilo de aula, aos modos como faz a sua aula acontecer, aos recursos de que se vale para tornar aquele conteúdo, aparentemente sem importância, em um conhecimento instigante, desafiador. Para tanto, ele, o professor, poderá se valer de recursos metodológicos, desde que eles sejam pensados e organizados de acordo com os objetivos da aula, os conteúdos a serem ensinados e as condições de produção nas quais se efetiva o ensino. Ou seja, de nada adianta o professor dizer que se vale de “metodologias ativas”, se essas não forem adequadas para a sala de aula que está sob a sua responsabilidade, e, especificamente, para os conhecimentos que se quer transmitir ou trabalhar para determinado grupo de alunos.

A meu ver, cada professor é capaz de avaliar, selecionar, escolher e usar o recurso metodológico que julgar pertinente para aquela aula. Avaliar, selecionar, escolher e usar um ou mais recursos não é pouca coisa. Essas ações exigem sensibilidade, atenção, análise e construção de raciocínio estratégico. Se conseguir lidar com todos esses critérios efetivá-los, o professor dirá, consciente ou inconscientemente aos seus alunos e à sociedade o quão responsável é pelo ensino, o quão preocupado está com a aprendizagem dos alunos, o quão interessado e zeloso pelo ensino ele é.

Nessas circunstâncias, como não valorizar o professor? Como não lhe atribuir elevado valor? Como não reconhecer o seu empenho? Dificilmente, um professor que domina o conteúdo e cuida para que seja apreendido e compreendido pelos estudantes não será valorizado, minimamente que seja.

Entendo que o professor pode dizer de seu valor, mostrando à sociedade que o seu ofício é específico e que demanda saberes e recursos singulares, ímpares. Uma forma de dizer é por meio da construção, do fazer e do oferecimento de boas aulas.

Certamente, muitos outros fatores contribuem para a valorização do professor. Discorrerei sobre eles em artigos futuros, destacando os outros elementos que, a meu ver, podem contribuir com esse processo.

Profa. Dra. Elaine Assolini

 

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