VINTE DICAS PARA PROFESSORES INICIANTES

VINTE DICAS PARA PROFESSORES INICIANTES

1ª) Ensine com amor

Pode parecer singela, mas é uma dica relevante, pois quando o professor demonstra amor pelo objeto de conhecimento, por sua profissão, pelos estudantes que estão sob sua responsabilidade e pela escola pode se envolver mais fortemente e realizar sua docência de maneira que lhe faça sentido.

2ª) Demonstre entusiasmo

O entusiasmo pelo objeto do conhecimento, pela ação de ensinar e de aprender, pelas curiosidades, perguntas e inquietações dos alunos contribui significativamente para que a relação professor-aluno, as práticas pedagógicas e as situações educacionais do dia a dia ganhem vida e sentido a partir do entusiasmo do professor. O entusiasmo é contagiante. Dificilmente o estudante conseguirá aprender com um professor desanimado, desencantado, desenxabido. O brilho nos olhos do professor é imprescindível na escola e na sala de aula.

3ª) Planeje suas ações

O planejamento dá segurança para o professor, no sentido de ele ter em mente os objetivos da aula, a seleção dos conteúdos, as estratégias a serem utilizadas, os exercícios e atividades a serem indicados e as formas de avaliação. Além disso, o planejamento contribui para a observação do tempo, das situações de ensino, das tarefas, do intervalo, da organização para a próxima aula. O professor, quando constrói um planejamento exequível, ou seja, possível de ser executado, pode melhor observar o desenvolvimento de seus alunos, se o conteúdo proposto foi por eles aprendido ou não e se está alcançando o que foi pensado. É aconselhável o planejamento para o ano letivo, mas também o semanal e o diário. O professor não pode e não deve entrar na sala de aula sem ter em mente o que ali irá fazer, pois a ação educativa é sempre intencional.

4ª) Tenha sempre um “plano B”

Ter um “plano B” significa ter muitas aulas preparadas, muitos outros recursos disponíveis e capacidade para acioná-los ao perceber-se que, por mais bem preparada que tenha sido a aula, a atividade, o exercício ou a brincadeira podem não estar afetando os alunos, os quais podem demonstrar desinteresse, tédio, cansaço, permanecendo desatentos. É relevante que o professor sinta, perceba e identifique quando o que planejou e preparou não afeta a sala de maneira ampla. Essa tarefa não é fácil, pois, na maioria das vezes, o professor prepara suas aulas com amor e dedicação. Dispor de um “plano B” permitirá ao professor alterar o curso da aula, reorganizar as atividades e oferecer novas condições de produção para que a aula de fato seja instigante e produtiva. Assim, ao preparar suas aulas, o professor deve também planejar muitos outros conteúdos, como atividades, tarefas, jogos, brincadeiras e exercícios, que possam ser mobilizados, caso não haja como trabalhar com o que inicialmente havia sido preparado.

5ª) Pense nos alunos que terminam depois

Alunos que, por diferentes motivos, terminam depois que toda a classe concluiu as atividades precisam de atenção especial. Para tanto, é fundamental que o professor conheça-os e busque entender os motivos pelos quais sempre terminam após todos os outros já terem encerrado os seus afazeres. Críticas e exclusões devem estar fora de cogitação, pois em nada irão colaborar com esses alunos. O ideal é que o professor se mostre disponível, ofereça ajuda no sentido de explicar novamente os conceitos ou tarefas e respeite o ritmo do aluno. Apressá-lo também de nada irá adiantar. Mas, por outro lado, o professor pode motivá-lo, incentivá-lo e levá-lo a perceber que existem consequências quando não se consegue terminar a atividade.

6ª) Conheça os seus alunos

É imprescindível que o professor conheça seus alunos, começando pelos nomes e sobrenomes. É inconcebível que um professor não conheça os nomes de seus alunos, sobretudo se atuar na educação infantil ou no ensino fundamental I, pois, nesses casos, o professor está diariamente com os alunos. No caso do ensino fundamental II e do ensino médio, o professor deve se dedicar a aprender os nomes dos alunos pelos quais é responsável, o que, nesses exemplos, pode levar um pouco mais de tempo, pois geralmente os professores que ministram aulas nesses níveis de ensino são responsáveis por muitas salas de aula e, consequentemente, por muitos alunos. Na medida do possível, é recomendável que o professor conheça um pouco sobre a história escolar de seus alunos – isto é, como foi o desempenho de seus alunos em anos anteriores, em que disciplinas se destacaram, onde encontraram dificuldades –, assim como conhecer suas preferências de leitura e atividades escolares também pode ajudar o professor no planejamento das aulas.

7ª) Conheça a comunidade escolar

Outra dica importante para o professor iniciante que acaba de assumir aulas em uma determinada escola, situada em certo bairro, é relativa a um conhecimento do qual ele não pode prescindir: quais as características do bairro e da comunidade? Como funcionam? Como se relacionam com a escola e com os professores? O que esperam da escola, dos professores e do ensino, de maneira ampla? A comunidade é amiga da escola ou sua adversária? Conhecer a comunidade escolar é relevante para o professor, pois as características e o modo de funcionamento da comunidade irão impactar na escola e na sala de aula. O conhecimento da comunidade é importante também para que o professor possa situar-se em relação às possibilidades de diálogo e objetivos em comum.

8ª) Conheça os pais ou os responsáveis pela criança

Os pais ou responsáveis podem ser grandes aliados do professor, no que se refere ao desenvolvimento intelectual, cognitivo, emocional e afetivo dos alunos. Quando os pais ou responsáveis são parceiros da escola, eles buscam saber o que acontece na sala de aula, como os alunos estão se comportando, como vai seu desempenho escolar, seus avanços, dificuldades, amizades, além de saber a respeito de datas comemorativas, atividades festivas e culturais. Essa, porém, não é a realidade comum em muitas escolas. Assim, mesmo sabendo que não pode contar com os pais ou responsáveis para a realização de uma tarefa ou estudo específico, por exemplo, ou incentivo em relação à vida escolar, o professor deve procurar conhecer os pais e responsáveis, cuidando de atraí-los para as reuniões e atividades propostas pela escola. Os professores devem sempre procurar colocar os pais ou responsáveis a par da vida escolar de seus filhos. Caso os genitores ou aqueles que respondam pela criança eximam-se de saber o que se passa dentro da escola, o professor deve cuidar de deixar registradas as ausências e as tentativas de comunicação com os adultos responsáveis.

9ª) Esteja sempre disposto a contribuir com a escola

Isso significa não recusar convites para fazer cursos extras, desenvolver projetos diferenciados, substituir e ajudar um colega, mobilizar e partilhar seus recursos para ajudar um colega ou a direção da escola, atentar-se à escola e às suas necessidades de maneira ampla. Pensa de maneira rasa e equivocada o professor que entende que a escola resume-se à sala de aula, não se inteirando do que acontece fora daquele espaço.

10ª) Lembre-se de que você não está inventando a roda

Em alguns casos, professores iniciantes, muito entusiasmados com sua recente inserção no magistério e na sala de aula, entendem ilusória e equivocadamente que certas tarefas, atividades e situações pedagógicas são apenas por ele conhecidas, sendo novidades para os seus colegas. É preciso tomar cuidado, pois o que pode aparentar ser algo diferente e inovador para o professor iniciante, pode já ser tradicional para seus colegas, ou seja, de conhecimento de muitos, que já acumularam experiências com aquela tarefa, atividade ou situação de ensino. Se desejar anunciar algo “novo” cuide de pesquisar com dedicação e afinco o que está sendo por você chamado de “novo”. Lembre-se de que, ao chegar à escola onde estará alocado, você não deve desprezar a história que ela traz, bem como as histórias, memórias e feitos daqueles que por ali já passaram.

11ª) Torne-se conhecido

É relevante que os secretários da escola, agentes administrativos e funcionários de maneira geral o(a) conheçam, saibam seu nome, a turma ou turmas pelas quais é responsável e os seus horários de trabalho. Nada é mais desagradável do que aquele professor cujo nome é desconhecido pelos funcionários, colegas de trabalho, pais de alunos e comunidade de maneira geral. Mostre-se! Apresente-se! Diga a que veio já na primeira semana de aula.

12ª) Aprenda a escutar

Além de demonstrar humildade e boa educação, a capacidade de escutar sensível e argutamente lhe ajudará a melhor observar e perceber as mais distintas situações. Escutar atentamente lhe permitirá conhecer aspectos que podem passar despercebidos por aqueles que não sabem escutar. Conhecer detalhes e minúcias poderá lhe ajudar a melhor relacionar-se com colegas de trabalho, alunos e funcionários. A escuta sensível exige que nos entreguemos ao outro, ao nosso semelhante no sentido de valorizar o que ele diz, o que ele fala. Por meio dessa escuta é possível perceber a criança, o que ela traz, suas necessidades, suas angústias, além dos atravessamentos discursivos – ou seja, quando, na voz do sujeito, outras vozes se falam. Quantas vezes já não dissemos: “Quem diz isso é a mãe dessa criança”? Ela, a criança, pode reproduzir em seus dizeres discursos de outros, sem perceber, sem se dar conta, inconscientemente.

13ª) Não reclame, busque soluções

Há aqueles que chegam à escola e, já no primeiro dia, despejam suas críticas, querendo mudar de imediato o funcionamento da escola, as dinâmicas já instaladas que são sua marca. Mudanças são bem-vindas e necessárias, mas precisam acontecer paulatinamente, aos poucos. Assim, não se dedique às reclamações que não levam a nada, afastam os colegas e o tornam uma pessoa desagradável. Ao invés de reclamar, busque soluções criativas e alternativas diferenciadas.

14ª) Conheça e respeite os professores experientes

Certamente, você encontrará professores experientes, com muitos anos de carreira e saberes acumulados. Respeite-os mesmo que não concorde ou admire suas práticas escolares. Entretanto, se você encontrar aqueles que admira, torne-os referência, sua fonte, aprenda com eles, saboreie o que têm a dizer e a ensinar. Aproxime-se, tente escutar o que podem – e, muitas vezes, desejam – ensinar. Lembre-se de que aqueles com os quais não concorda ou admira também merecem suas considerações e seu respeito.

15ª) Construa laços de amizade

É imprescindível relacionar-se com colegas de trabalho, funcionários, gestores, coordenadores pedagógicos e comunidade de maneira geral. Não se isole, pois o isolamento poderá fazer com que você construa a imagem de uma pessoa antipática, antissocial, incapaz de estabelecer vínculos afetivos. O dia a dia da sala de aula é desafiador, complexo, árido e, muitas vezes, o abraço de um colega, um conselho, uma escuta ou a troca de experiências pode transformar o seu dia e incentivá-lo, entusiasmá-lo.

16ª) Conheça o estatuto e o regimento da escola

O professor deve ler, estudar e conhecer o estatuto do magistério da rede em que estiver inserido, bem como o regimento da escola onde estiver alocado. Esse conhecimento específico irá ajudá-lo a adaptar-se à escola, respeitando a sua história e memória. Além disso, com base no que já foi produzido, nas ações já realizadas, nas experiências recentes, o professor poderá propor mudanças, alterações, ressignificações.

17ª) Seja justo e coerente nas avaliações

Avaliações exigem retornos, feedbacks. Assim, dê devolutivas aos alunos a respeito das avaliações que realizaram. Comente-as, refaça-as; evite qualquer tipo de exposição ou brincadeira que possa ofender ou colocar em destaque tanto os alunos que obtiveram as melhores notas quanto aqueles que não alcançaram as notas esperadas. Mostre que as notas atribuídas nasceram de critérios, de regras colocadas e divulgadas antecipadamente. Seja o mais transparente possível em relação aos critérios utilizados e às regras que nortearam os cálculos, os porquês de determinada tarefa ter esse ou aquele peso. Os alunos têm o direito de saber. É recomendável, também, que as avaliações sejam apreciadas e analisadas pelo coordenador pedagógico. Na ausência desse profissional, um colega de trabalho poderá ler e ajudá-lo a pensar sobre o que foi preparado. É sempre bom trocar experiências, escutar o ponto de vista de um colega, repensar se aquilo que nos parece claro e óbvio o é também para nossos alunos.

18ª) Participe das formações continuadas

Formações continuadas, cursos, palestras e oficinas, por exemplo, constituem oportunidades valiosas de aprendizado, troca de experiências, enriquecimento cultural, aperfeiçoamento profissional etc. É desejável que o professor participe espontaneamente, sobretudo se for em horário de trabalho, sabendo que, mesmo sendo um professor iniciante, poderá contribuir. Mas de que forma? Fazendo perguntas, contando sobre o dia a dia na sala de aula, trazendo outras e recentes experiências de leitura, partilhando, inclusive, suas dores, angústias, medos e receios.

19ª) Você não é obrigado a saber tudo

Lembre-se de que a linguagem é incompleta, assim como o sujeito e o sentido. Nenhum de nós jamais conseguirá saber “tudo” no contexto de uma determinada área de conhecimento. Podemos e devemos ter saberes específicos diferenciados, mas saber “tudo” é impossível, pois a cada hora novos conhecimentos são produzidos, inovações são partilhadas, formulações são ressignificadas. E, além disso, somos sujeitos constituídos pela falta, nós nunca conseguiremos preenchê-la totalmente, pois algo sempre nos faltará. Assim também é a questão do conhecimento. Por melhor que sejam as nossas aulas, por mais bem preparadas que tenham sido, nunca conseguiremos “dar tudo”, ministrar plenamente toda a matéria, posto que também não sabemos o que e como o outro – no caso, o aluno – escutou o que dissemos, o que explanamos. Soma-se a isso o fato de que nunca poderemos mensurar com exatidão os saberes de nossos alunos. As provas, as avaliações diagnósticas, as avaliações e exames que acontecem em escala nacional e mundial, por exemplo, medem parte do que os estudantes sabem. Apenas uma parte.

20ª) Pratique a autoanálise e a autoavaliação

São tarefas difíceis, certamente. Mas dedicar-se a pensar e analisar as próprias práticas pedagógicas escolares, desenvolvidas em sala de aula, a relação que estabelece com os alunos e com o conhecimento, os avanços, as dificuldades, os receios, os medos e as alegrias contribuem significativamente para o desenvolvimento profissional. Autoanalisar-se exige coragem e humildade para livrar-se das velhas amarras dos velhos e ultrapassados conceitos, definições, princípios e práticas. Coragem e ousadia para pensar diferentemente, a partir de outras posições e novos argumentos, para olhar-se do avesso, buscando conhecer outros princípios, outros sentidos. A autoanálise e a autoavaliação dos saberes, das práticas pedagógicas e das experiências integram os estudos da epistemologia da prática docente, que é fundamental para as reflexões do professor. Conhecer a si mesmo, como se relaciona com o saber e como se dá a concretização do seu magistério são aspectos essenciais para o exercício responsável da docência.

Profa. Dra. Elaine Assolini

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