A Experiência de não ser

A Experiência de não ser

A experiência de não ser

 Um lugar confortável, sem agressões físicas, bom assento, temperatura agradável, sem ruídos, calmo, cenário minimalista, acolhimento cálido de quem se oferece amigo.

O poeta entronizado na poltrona- relíquia, de verde único,  e um belo texto, conteúdo íntimo tão bem escrito, dito no tom exato , onde as palavras se tornam públicas, desadonadas, coletivas, de todos.

Uma bela mulher, em trajes claros de renda,  em promessa cumprida de encantamento. Sacerdotisa da arte musical na escolha dos temas queridos , temas desconhecidos, outros agradavelmente reencontrados, casados em perfeita comunhão com as palavras do poeta, entoados com o coração.

Um homem-menino e o seu brinquedo, instrumento de cordas, veículo de transporte para o não ser, onde poeta e cantora pegam carona no primeiro banco e, sedutores e tão seguros, nos convidam para o passeio.

Daí, convite aceito, começa a experiência.

Não sabemos como mas, a princípio, já não estamos. Não estamos ali. Fomos transportados para um não sei onde , onde tudo faz um sentido inexplicável e estamos temporariamente a  salvo.

Acreditamos em todas as palavras ouvidas e as sentimos nossas.

Sorrimos por cada canção entoada que acaricia a memória.

Vibramos nas cordas que marcam o caminho.

Não fosse por algum arrepio de corpo, ou pelos olhos molhados, nem mais nos sentiríamos sendo. Mas já que , de alguma forma, ainda somos, que sejamos pela emoção.

A viagem é rápida, mas sem pressa, talvez menos que uma hora. Uma preciosa e terapêutica hora.

 E, assim, tão suavemente como fomos para a viagem do não ser, somos convidados a voltar e aplaudir, com alegria represada ( sim, ali só se aplaude no fim), nossos fabulosos guias.

Abrimos a boca com cuidado para que a primeira fala não espante o encanto do momento, e assim vamos voltando à realidade do ser, de ter que ir embora, de voltar para a vida que temos.

Quanto custa a viagem?  Bem, desta vez foi de graça. Mas há preços para todos os bolsos.

Onde acontece? Esta aconteceu na Oficina Cultural Cândido Portinari, ali no edifício Padre Euclides, no centro de Ribeirão, numa terça feira à noite,  mas pode acontecer em qualquer lugar onde a arte se manifesta.

Quem pode participar? Todos que estiverem dispostos a uma entrega. Não há contra-indicações. Há , sim, pequenos efeitos colaterais como aumento da alegria e da capacidade de lidar com a realidade,  algum crescimento intelectual e acréscimo de saber.

Para quem quiser experimentar um pouquinho desta viagem, deixo o endereço da Oficina, que completa 25 anos de existência e atividade de excelência em favor da arte e da cultura de Ribeirão Preto, e a programação, ainda em curso, com destaque para a belíssima exposição sobre Cândido Portinari, o Portinari que escreve.

Rua Visconde de Inhaúma, 490, Primeiro andar, Edifício Padre Euclides, centro , Ribeirão Preto, fone: 36256161

https://www.oficinasculturais.org.br/programacao/ver.php?idoficina=10

Deixo também o nome dos responsáveis pela viagem que fiz, Fatu Antunes, dirigente da Oficina, Alfredo Rossetti, o leitor dos incríveis textos de Portinari, Carla Portinari, a encantadora cantora, e Eduardo Tarlá, o mestre musical, aos quais sou grata.

A todos,desejo boas viagens!!

Eliane Ratier-sem vontade de voltar

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