O Natal
Pouco antes da chegada do inverno, eles se puseram a caminho.
Ela, jovem, com uma gravidez avançada.
Ele, mais velho, paciencioso e ciente do futuro, dos compromissos e riscos.
Tinham que ir à capital para o censo requisitado por um governante alheio à nação. Questão delicada, já que o poder não possuía os mesmos costumes e entendimentos do povo que governava. Então, melhor não afrontar,melhor obedecer.
Aproveitaria e reveria a cidade, os parentes e conhecidos.
Por serventia, levaram o burrinho, para carregar as trouxas das necessidades, para dar conforto e assento para a quase mãe em viagem.
Viajaram dias e noites, pousando aqui e ali em pequenas estalagens, hospitaleiras ao viajante.
Ao chegarem próximo à cidade, a criança deu sinal de seu nascimento.
Era uma noite azul, muito clara, a lua cheia, um mar de estrelas, e muito fria também.
Por conta das queixas da jovem mãe, atrasaram-se, perderam-se do grupo. Já não havia ninguém por perto, nenhuma casa ou albergue. Havia, no campo aberto, a manjedoura, comedouro dos animais.
Ele não teve dúvida e arriscou, pedindo a proteção divina, o único abrigo possível.
Afofou a palha, descarregou as trouxas , dispôs uns panos, acomodou sua mulher, e saiu em busca de água. Deixou o burrinho de guarda, não iria longe.
De repente uma luz forte e cegante cruzou o céu estrelado. Pensou numa estrela cadente. Pediu aos céus pelo filho que nasceria, louvou a Deus pela beleza que ao mundo oferecia .
Achou um regato, serviu-se do líquido da vida, encheu o pote e retornou para junto da mulher.
A distância era curta, mas o coração disparado pressentia.
Algo muito estranho acontecia, podia ser uma visão, um mistério, uma magia, mas a luz da estrela, a estrela guia, brilhava sobre a manjedoura.
Apressou o passo, ofegava.
Os animais haviam acordado com o clarão que transformou a noite em dia e rodeavam o pequeno abrigo, amistosos e calmos, deitando-se na relva.
Vacas, bezerros , cabras e ovelhas, até as galinhas, sem entender, e sem questionar.
Animais sabem que a natureza age sem explicar.
O homem não entendeu, também não questionou. Ele também era da natureza e tinha fé, acreditava em Deus e estava pronto para enfrentar os Seus desígnios.
Foi quando, por entre as vozes dos animais, levantou-se uma voz humana, na forma que lhe era possível, um choro de recém-nascido.
A mulher estava bem, não havia sofrido, seu rosto corado sorria para o Menino.
O Menino era rosado e sadio e dizia com seu choro, que tinha fome e sede e sono e frio, coisas próprias de um humano no Deus menino.
A mãe confortou a criança em seu seio, deu-lhe calor e alimento.
José tirou o manto que o envolvia e embrulhou mãe e Menino, não sentia mais frio, nem fome, nem sede, nem medo. José tinha uma família. José tinha um filho.
Maria sorriu para ele, plena de gratidão e disse baixinho:
- José, este é Jesus, o filho que Deus nos confiou.
Ventou, a estrela brilhou mais forte, e os três sabiam que estavam vivendo o mistério, cumprindo profecias, sendo um milagre.
Deus desceu sobre eles seu véu protetor e a noite mágica se fez em paz.
Todos sabem a estória e a revivem , e comemoram todos os anos.
Está chegando a hora...
É Natal!!!
Eu lhes desejo um Natal mágico, milagroso, iluminado, caloroso, com fé, esperança, sonhos e ação.
Eliane Ratier- recontando uma estória em livre adaptação e acreditando no milagre da vida