Poesia para fechar o mês
Andei agitada este julho, esperançosa , indignada.
São as arritmias deste tempo.
Mas prometo decantar tudo e recolher a sobrenadante poesia.
Escolho, para findar o mês, o poetinha mor desta terra, Vinícius de Moraes ,que faz suas artes entre os querubins e serafins desde que nos deixou, em 9 de julho de 1980.
Neste poema satírico, a banalidade moderna do assunto ajustada à clássica métrica do soneto.
Simplesmente genial!
Eliane Ratier, enfeitando a vida neste final de mês.
Não Comerei da Alface a Verde Pétala
Vinicius de Moraes
Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem maior aprouver fazer dieta.
Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.
Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro: dêem-me feijão com arroz
E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.