Agradar a todos: esta estratégia funciona?

Agradar a todos: esta estratégia funciona?

Qualquer líder deve levar em conta os seus liderados, mas não deve ter a expectativa ou pretensão de agradar a todos, por uma simples razão: existem opiniões que simplesmente não são reconciliáveis. Enquanto parte de uma empresa pode considerar um certo projeto prioritário, outra parte pode considerar outro projeto melhor. Ora, se a empresa não dispõe de recursos para ambos os projetos, o líder terá que escolher um deles, agradando parte dos funcionários e desagradando os demais. Decisões como essas são inevitáveis no exercício da liderança. A única forma de minimizar os impactos negativos é explicar o porquê da decisão, o que é possível quando nossas decisões são bem fundamentadas.

Pensando em nível de país, a mesma dificuldade está presente. Alguns desejam um governo mais intervencionista, outros preferem um governo mais liberal. Se o governo efetivamente fizer intervenções no mercado, ele agrada apenas o primeiro grupo. Sem tais intervenções, somente o segundo grupo ficaria satisfeito. A razão é simples: o governo não pode ser ao mesmo tempo intervencionista e liberal. Considerando a discussão atual, vale mencionar que parte da sociedade deseja um governo com menos gastos, enquanto outra parte deseja uma política fiscal expansionista. Ora, impossível agradar aos dois grupos, pois não se pode ter compromisso com o lado fiscal e, ao mesmo tempo, romper o teto dos gastos.

Bom, talvez você diga: “o governo só conseguirá agradar um grupo”. Este raciocínio está correto, mas nosso governo cada vez mais experimentará aquilo que líderes ingênuos conseguem: terminar mal com todos por tentar agradar a todos.  Ao se apresentar como um governo liberal, que enxugaria os gastos, o governo desagradou quem não compartilha dessa visão. E, ao não atuar de forma liberal, inclusive rompendo na prática o teto dos gastos, o governo desagradou àqueles que consideram a estabilidade fiscal importante.

Talvez você diga: “o governo não está mal com todos, ele ainda tem certa popularidade”. Sim. Ele tem o apoio daqueles que não enxergam (ou não querem enxergar) tantas incongruências. Ele tem o apoio de parte dos que são beneficiados por esses gastos excessivos que, como são apenas paliativos, precisam ser repetidos de tempos em tempos. O governo busca resolver o problema dele de popularidade às custas de prejudicar os fundamentos da, cada vez mais, endividada economia brasileira. O dólar e a inflação hão de recuperar a visão daqueles que não conseguem enxergar. Quanto aos que não querem enxergar, o problema não é de cegueira.

Créditos da imagem: Julien L, do Unplash.

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