Avaliação de desempenho: sabemos fazê-la?

Avaliação de desempenho: sabemos fazê-la?

Imagine que pela manhã você observa que o céu está nublado, repleto de nuvens escuras; consulta a previsão do tempo e verifica que a probabilidade de chover é alta. Por causa de tudo isso você toma a decisão de ir para o trabalho carregando o incômodo, mas provavelmente útil, guarda-chuva. Ao final do dia você regressa para sua residência e, por não ter caído uma gota sequer, alguém lhe diz: “Carregou o guarda-chuva à toa”. É como se essa pessoa estivesse fazendo uma avaliação negativa de sua decisão. Este exemplo ilustra duas importantes lições sobre o processo de avaliação de desempenho. Primeiro, existem variáveis incertas, que simplesmente não controlamos, e que afetam os resultados de nossas decisões. Se tivesse chovido, a pessoa do nosso exemplo teria ouvido: “Que bom que você levou o guarda-chuva”. Perceba que ela teria praticado a mesma ação, levar o guarda-chuva, mas porque algo que ela não controla ocorreu, a chuva, ela teria sido parabenizada.

A segunda lição é que é muito mais fácil avaliar decisões com mais informações disponíveis. Pela manhã a pessoa tinha que decidir se levava ou não o guarda-chuva tendo informações que indicavam que provavelmente choveria. Ao final do dia, sabendo que não choveu, ou seja, tendo mais informações, alguém fez uma avaliação negativa da decisão tomada mais cedo pelo outro. Ora, não faz sentido avaliar o desempenho de alguém como se essa pessoa tivesse informações que ela simplesmente não tinha no momento da decisão.

Como devemos, então, fazer avaliações de desempenho? Devemos levar em conta que existem incertezas (fatores que não controlamos) e que nem todas as informações de interesse estão disponíveis no momento da decisão. Em outras palavras, não devemos ser como “engenheiros de obra pronta” que chegam ao final da construção, momento quando é fácil ver os problemas, e simplesmente avaliam a todos negativamente.

Quando uma decisão se mostra ruim é necessário ouvir os envolvidos com o intuito de entender sob quais condições a decisão foi tomada. Isto nos dá a oportunidade de identificar quais eram as informações disponíveis e quais eram os fatores que fugiam ao controle da equipe e que afetam os resultados da decisão tomada. Claro, sem que essa dose de compreensão seja exagerada, caso contrário vamos para outro extremo indesejável, no qual ninguém é responsável pelas próprias decisões.

No ambiente de trabalho, se não tivermos esses cuidados em nossas avaliações de desempenho, corremos o risco de ter uma equipe desestimulada. A pessoa que tomou a decisão acredita que fez o melhor com as informações que tinha e se sente injustiçada. Afinal, se está nublado e a previsão é de chuva, o que você faria? Nessas circunstâncias, uma avaliação negativa transmite a pessoa a seguinte mensagem: não adianta se esforçar, pois a avaliação não é feita de forma coerente. É como se fosse melhor tentar aprender uma suposta dança da chuva, do que se esforçar observando o céu e consultando a previsão do tempo!

Outro ponto importante é que ninguém é azarado todos os dias. O que isso significa? Se há uma indicação de chuva ao longo de toda semana e você leva o guarda-chuva todos os dias para o trabalho, muito provavelmente você o usará em pelo menos alguns dias da semana. É muito improvável que você tenha tanto azar e que carregue o guarda-chuva todos os dias à toa.

Portanto, não avalie o desempenho de uma pessoa com base em um período curto. Talvez em um dia de trabalho um vendedor dê azar, atendendo pessoas que só foram “dar uma olhadinha” e não tinham a intenção de comprar. Se você o avaliar só com base nesse dia concluirá, precipitadamente, que ele é um vendedor ruim. No entanto, se a avaliação for feita ao longo de meses, por exemplo, você conseguirá extrair melhor a capacidade de venda dele, pois em um período longo ele vivenciará dias de “azar” e de “sorte” que se balancearão.

Por fim, ressalto que a intenção desta reflexão não é transmitir a ideia de que decisões ruins não são tomadas. De fato, observo decisões que são equivalentes a portar guarda-chuvas em dias ensolarados sem qualquer previsão de chuva. A questão central aqui é que um processo ruim de avaliação implica que pessoas que tomaram boas decisões não serão reconhecidas, o que é contrário ao interesse de qualquer organização de ter ótimos e motivados colaboradores.

 

Publicado originalmente pelo autor no Jornal da USP.
Créditos da imagem: Nik Macmillan, do Unsplash.

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