Inflação e Reduflação

Inflação e Reduflação

O brasileiro tem sofrido com a inflação e, com isso, tem visto seu poder de compra cair consideravelmente. Vamos analisar alguns números do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é o índice de inflação usado no sistema de metas de inflação do Banco Central. Em 2021 o centro da meta de inflação era 3,75%, mas o IPCA atingiu 10,06%. Em 2022 a meta é de 3,5%, mas o IPCA, de janeiro a maio deste ano, já atingiu 4,78%.  Nestes cinco meses, o IPCA referente a alimentos e bebidas é ainda maior, 7,56%. Sem dúvida, esses números indicam que o poder de compra do consumidor caiu.

Diante dessa constatação, o que resta ao consumidor? Intensificar a procura por preços melhores, substituir produtos de qualidade superior por produtos de qualidade inferior, deixar de comprar certos produtos ou pelo menos reduzir a quantidade comprada desses. No caso específico da alimentação, mais trabalhadores tem se tornado adeptos das marmitas, deixando de fazer refeições em restaurantes durante a semana de trabalho. 

A inflação elevada se deve a vários fatores e, em certos casos, está ligada a falta de produtos. Com a pandemia da covid-19, houve um gargalo nas cadeias produtivas que se tornou nítido após o momento mais agudo dessa pandemia. Com a reabertura das economias, houve aumento da demanda de produtos e ficou evidente a escassez de insumos e produtos importados. O comprador encarou, ao mesmo tempo, preços mais elevados e filas de espera.

Outro fator mais recente é a guerra da Rússia contra a Ucrânia, que tem elevado o preço do petróleo. Isto tem um efeito nos custos de produção dos bens e serviços da economia que, em alguma medida, afeta os preços finais. Essa guerra também tem efeito direto sobre itens de alimentação, pois a Rússia e Ucrânia são importantes produtores de trigo. A produção agrícola interna também sofreu quedas seja com o excesso de chuva em certas regiões, seja com a seca em outras.

Não bastasse a aceleração dos preços, temos observado outro fenômeno, a chamada reduflação, que ocorre quando a quantidade do produto diminui, mas o preço continua o mesmo (ou pelo menos não cai tanto quanto a quantidade). Por exemplo, se você pagava 5 reais por 1 unidade de 500 gramas de um produto e agora paga 5 reais por 1 unidade de 400 gramas do mesmo produto, você está pagando mais caro.

Um consumidor desatento pode não perceber no momento da compra que houve uma mudança na quantidade do produto. Neste caso, ele não notará que está pagando mais caro. No entanto, após a compra ele perceberá que o produto está sendo consumido mais rapidamente e terá que voltar mais cedo ao supermercado! De todo modo, mesmo que o consumidor note no momento da compra que a quantidade sofreu uma redução, não há alternativa além das já usadas para lidar com o aumento de preços. Intensificar as pesquisas de preço, procurar bens substitutos mais baratos, ou mesmo deixar de comprar.

E quais sãos as perspectivas futuras? A inflação no Brasil se deve a fatores externos, sobre os quais não temos controle, como a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Nesse sentido, é difícil prever quando as pressões inflacionárias causadas por essa guerra cessarão. Do lado interno, temos visto uma queda no preço dos combustíveis por causa da redução na alíquota do ICMS. No entanto, também temos visto uma ampliação dos gastos públicos e o uso de expedientes para furar o teto de gastos. Uma política fiscal que não pode ser sustentada pela arrecadação do governo gera pressões inflacionárias que seriam eliminadas ou com aumento da arrecadação ou com a própria redução dos gastos. A primeira alternativa é inviável, dada a altíssima carga tributária do Brasil. A segunda alternativa é improvável às vésperas das eleições. Sobra ao Banco Central o recurso de aumentar a taxa de juros, como temos observado nos últimos meses. Portanto, há em curso fatores que alimentam a inflação e fatores que buscam combater a inflação, sendo difícil prever quando haverá uma desaceleração dos preços.

(Imagem do Pexels)

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