Reflexões sobre o combate ao COVID-19

Reflexões sobre o combate ao COVID-19

As medidas adotadas pelos governantes para conter o avanço da pandemia do coronavírus tem despertado as mais diversas reações. Alguns consideram tais medidas apropriadas, outros não. Os que discordam de tais medidas argumentam que são exageradas e que causarão um impacto muito prejudicial à economia. Com o tempo, poderemos avaliar melhor tais impactos. Porém, alguns pontos já podem ser discutidos.

Em primeiro lugar, é importante deixar claro que o objetivo das medidas é reduzir a transmissão do vírus com vistas a preservar as vidas. E, o que a experiência de outros países tem mostrado é que devemos evitar aglomeração de pessoas. Esta é a medida que tem potencial para evitar a epidemia em qualquer região. Não por acaso, há suspensão de aulas nas escolas e cancelamentos de eventos esportivos e culturais nos mais diversos países. Neste sentido, os que alegam que há exageros por parte dos governantes no Brasil, para ser coerentes, deveriam também criticar outros países. Além disso, cabe perguntar: estariam tantos governos enganados? Creio que todos nós estamos sujeitos a cometer erros, mas devemos fazer o melhor que podemos com as informações que temos a nossa disposição. E, o que sabemos hoje é que esse vírus se dissemina muito rapidamente.

É importante dizer que quanto mais rápido o vírus se espalhar, maior será o impacto no nosso sistema de saúde. Não estamos preparados para internar muitas pessoas ao mesmo tempo. Mesmo na rede privada, não haverá leitos suficientes no caso de uma epidemia. Assim, mesmo aqueles que têm melhores condições financeiras sofrerão caso o número de infectados cresça exponencialmente. De fato, mesmo os que conseguirem leitos não necessariamente receberão o tratamento ideal. Recentemente a China doou respiradores mecânicos para a Itália, pois o número de contaminados que demandam tal equipamento é maior do que a disponibilidade do mesmo. Se isso ocorre na Itália, o que devemos esperar no caso brasileiro se não tomarmos as devidas medidas para evitar a rápida e elevada disseminação do vírus?

Devemos evitar o extremo de agir como se nada estivesse acontecendo. Portanto, evite locais onde há concentração de pessoas, tome medidas preventivas, fique atento aos sintomas e caso eles se manifestem procure o sistema de saúde.

Naturalmente, as medidas para conter o avanço do coronavírus têm importantes impactos sobre a economia. As quedas recentes do Ibovespa, ainda que relacionadas também ao mercado do petróleo, deixam isso claro. Para citar um exemplo, restrições ao deslocamento das pessoas tem enorme impacto sobre o setor de aviação.  Muitos têm se preocupado com a economia e, até certo ponto, essa preocupação é absolutamente justificada pois uma recessão também traz malefícios para a população e, em última instância, acarreta perda de vidas. No entanto, devemos evitar a posição extremista de que não se deve combater o vírus porque isso causará uma recessão. 

Devemos evitar o extremo de avaliar as medidas tomadas pelos governantes apenas com base no impacto sobre a economia. O que se quer com tais medidas é evitar a epidemia. Até porque, evitar a epidemia tem efeitos negativos sobre a economia no curto prazo, mas o descaso teria impactos muito mais nocivos, pois uma profunda e longa epidemia acarretaria consequências ainda piores para a economia. Neste sentido, há inclusive um falso debate.

A pergunta a ser respondida, então, é a seguinte. Como combater o coronavírus e, ao mesmo tempo, minimizar os impactos de curto prazo sobre a economia? É esse o questionamento posto para a equipe econômica do atual governo e que deve ser respondido mesmo em meio a uma crise fiscal. É oportuno dizer que, quando economistas defendem austeridade na condução da política fiscal, o que se quer é justamente dar ao governo ferramentas para atuar nos momentos de crise como o atual.

 

Créditos da imagem: Centers for Disease Control and Prevention (CDC), do Unplash.

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