
SOBRE MENINOS E CELULARES
O drama "Sobre meninos e lobos", dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Sean Penn – vencedor do Oscar em 2004 -, traz como mensagem edificante a ideia de que o bem e o mal podem ser relativos, e a instrumentalização da vida pode seguir um desses dois caminhos, entre bons usos e intenções e manipulações maléficas de situações e de pessoas. Sob esse viés, a proibição do uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos pelos alunos nas unidades escolares da rede pública e privada de ensino causa polêmica, dividindo opiniões. Contudo, duas situações devem ser observadas com maior cautela: como ocupar os jovens fora da sala de aula, durante os intervalos, e como validar o uso verdadeiramente pedagógico dos celulares.
Em primeira perspectiva, deve-se pensar na ocupação pedagógica dos alunos nos intervalos, visto que não haverá acesso aos aparelhos. Segundo o Projeto de Lei nº 293, de 2024, não será possível manusear "quaisquer equipamentos que possuam acesso à internet, tais como celulares, tablets, relógios inteligentes e outros dispositivos similares", ou seja, as atividades não poderão ser, diretamente, tecnológicas. Nesse sentido, pode-se ressaltar um termo cunhado pelo sociólogo italiano Domenico De Masi: o "Ócio Criativo" e refletir sobre como serão esses momentos do recreio, sem os celulares. Dessa feita, há de se projetar as atividades de interação social, educacional, humana naqueles minutos do lanche.
Ademais, os possíveis momentos de uso positivo dos aparelhos eletrônicos na classe não podem ser desprezados. Com certeza, a atenção dos alunos fica prejudicada durante a aula quando o celular fica à disposição e, por isso a proibição em escolas alemãs, francesas, finlandesas, holandesas, no intuito de promover um ambiente de aprendizado mais eficaz. Além disso, o Relatório de Monitoramento Global da Educação, produzido pela UNESCO, sob o título" Tecnologia na Educação: uma ferramenta a serviço de quem?" afirma que "os aspectos negativos e prejudiciais do uso da tecnologia digital na educação e na sociedade incluem o risco de distração e a falta de interação humana", o que demonstra que a instrumentalização de aparelhos deve ser regulamentada. Diante desse cenário caótico, cabem diretrizes educacionais de apoio ao corpo docente.
Portanto, medidas são passíveis de serem adotadas para estimular o aprendizado de forma mais interativa e engajadora. Por isso, as escolas públicas e particulares devem oferecer atividades práticas nos intervalos como pequenos experimentos de Ciências, discussões sobre temas sociais relevantes, trabalhos manuais – artesanatos, desenhos, pinturas -, batalhas de poemas, disputas esportivas, jogos educativos, por meio de monitoramento realizado por grupos de jovens estudantes, a fim de despertar interesses diferenciados entre os alunos. Em paralelo a isso, as Secretarias de Educação dos 5.570 municípios brasileiros devem promover a alfabetização midiática dos professores, por meio de treinamentos online e presenciais, com o intuito de tornar o aprendizado mais adequado às necessidades tecnológicas de impacto educacional. Mediante o exposto, as meninas e os meninos tornar-se-ão estudantes prontos a usar o intelecto e a tecnologia para o bem comum da sociedade.