Vestibulandos LaLaLand
Há aproximadamente uma década, estudos realizados pela UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro identificava uma geração denominada “Nem-Nem”, jovens entre 18 e 25 anos que nem trabalhavam, nem estudavam. Essas pessoas não queriam estudar porque não se sentiam atraídos pelos estudos e também não conseguiam emprego devido à falta de qualificação profissional.
Na semana passada, Michael Rotondo, um estadunidense de 30 anos, foi processado pelos pais porque não queria deixar a casa deles. Segundo os pais de Rotondo, ele estava desempregado e não ajudava nem financeiramente para manutenção da casa, nem nas tarefas domésticas. Assim, Christina e Mark Rotondo resolveram despejar o próprio filho. Esse episódio tragicômico norte-americano me lembra a letra de “Brainstorm” da banda inglesa Arctic Monkeys: “Top marks for not trying; So kind of you to bless us with your effortlessness” *
E quando se trata de vestibulandos? Acredito que não podemos chamá-los de estudantes “Nem-nem”. Primeiro, porque – teoricamente – estudam; depois, porque estão em época de investir o tempo, desde que seja financeiramente possível, nos estudos e não na busca ou desenvolvimento de trabalho assalariado. Então, poderíamos denominar os estudantes que efetivamente não se preocupam com a evolução dos estudos, mas que estão matriculados em cursinhos pré-vestibulares de “Vestibulandos La La Land”.
Sim, é uma referência ao filme do diretor Damien Sayre Chazelle, “La La Land: Cantando Estações” que conquistou sete prêmios no Globo de Ouro 2017. Além disso, ganhou também o Oscar 2017 na categoria “melhor diretor”, sendo Chazelle o vencedor mais novo da história. O termo “Lalaland” significa “estar em um outro mundo, alheio à realidade”.
E assim são – infelizmente - alguns estudantes que estão no Cursinho como se fosse um Pós-Terceiro Ano do Ensino Médio. São pessoas que não querem, na verdade, estudar e que também não estão no mercado de trabalho, muitas vezes porque os pais acham que os estudos devem continuar. O Vestibulando La La Land simplesmente continua seus estudos em um Pré-Vestibular porque é omisso em suas obrigações como filho, como estudante, como cidadão e, simplesmente porque não há reprovação, a não ser pelos exames vestibulares, que são implacáveis.
O Vestibulando La La Land não tem vergonha em não estudar, em não resolver exercícios, em não fazer simulados, em não se esforçar. Ele simplesmente está lá, escorando-se em máximas reflexivas da incapacidade: “eu não consigo”, “eu não tenho tempo”, “estou com sono”, “não sei a matéria”, entre outras.
Se cabe ao professor ajudá-lo? Óbvio que sim. Mas aí projeto uma outra máxima: “Só se ajuda aquele que quer ser ajudado”.
* Altas marcas por não tentar; Tão gentil da sua parte nos abençoar com sua falta de esforço