A paciência perfeita
Há cerca de um século, um itinerante iluminado, o iogue tibetano Paltrul Rinpoche, estava vagando por aqui e ali como um anônimo mendicante, conforme era seu costume, quando ouviu falar de um renomado eremita que há muito vivia solitário em reclusão.
Paltrul Rinpoche resolveu visita-lo.
Entrou sem se anunciar na caverna à meia luz do monge e olhou à sua volta com um sorriso sardônico no rosto vivido e experiênte.
- De onde vens? - perguntou o eremita - E para onde vais?
- Vim de onde minhas costas apontam e vou para a direção a que estou voltado. Respondeu Paltrul.
O eremita desconcertou-se um pouco, mas prosseguiu:
- Onde naceste?
- Na Terra. Respondeu Paltrul
O eremita já começava a se agitar.
- Qual é o teu nome? Exigiu ele.
- Iogue Além da Ação. Respondeu o hóspede inesperado.
Paltrul Rinpoche indagou então porque o eremita viera viver numa parte tão erma e tão remota do país.
Essa era uma pergunta que o eremita estava preparado para responder.
- Medito aqui há vinte anos. No momento, estou meditando sobre a Perfeição da Paciência. Explicou, não sem uma pitada de orgulho.
- Essa é boa! Retrucou o anônimo visitante.
E, inclinando-se para frente como se fosse confidenciar algo, Paltrul Rinpoche sussurrou:
- Dois farsantes como nós jamais conseguiremos tal coisa.
O eremita levantou-se abruptamente, cheio de raiva.
- Seu saco de mentiras! - explodiu.
- Quem tú pensas que és, perturbando meu retiro assim? O que te fez vir até aqui, afinal? Porque não deixas um humilde praticante como eu meditar em paz?
- Meu caro amigo - respondeu Paltrul Rinpoche serenamente - Onde está tua paciência perfeita?