O perigo do "não vou me indispor"!

O perigo do "não vou me indispor"!

O comportamento humano com traços de melindre e pouca ou quase nula compreensão sobre o viver de forma coletiva e, principalmente, sobre a importância da adoção de atitudes responsáveis e com aceitação das regras e convenções está levando a população a uma decadência financeira e moral, já que o convívio e a interação social estão acontecendo baseados na prevalência da escolha por não colocar limites, a fim de preservar relações pessoais e econômicas.

E o que isso quer dizer? Por que a escolha por “deixar para lá” ao invés de colocar limites está causando uma permissão para atitudes desrespeitosas que lesionam emocional e financeiramente pessoas e instituições? Qual a proporção do melindre para o desenvolvimento da sociedade na qual todas as pessoas fazem parte?  Por que limites e sinalizações são muito importantes para uma vida responsavelmente social?

Ser melindroso, em uma definição possível, é ser magoável e ressentido. Por isso, quando existe uma atitude de melindre perante uma situação que exige a colocação de limites e a adoção de práticas que seguem as convenções sociais e pessoais, é possível observar que por não querer que haja uma mágoa ou ressentimento, pessoas adotam o “deixa pra lá” ou “não vou me indispor”, a fim de preservarem relações.

Dessa forma, essa postura evita um desgaste social. E o perigo de ter que “pisar em ovos” para colocar limites é, justamente, o fato de se aceitar qualquer comportamento abusivo ou que cause alguma lesão em troca de fidelização de, por exemplo, clientes, amigos, parceiros afetivos, enfim, de todas as pessoas que convivem social e pessoalmente umas com as outras e estabelecem  trocas de questões e necessidades sociais.

Um fato que exemplifica bem essa questão é o modelo de gestão de um supermercado localizado em bairro de classe média que permite “indiretamente” a saída dos seus carrinhos de compras para além do limite físico da loja, por clientes que os levam até a entrada de suas casas e condomínios, nos quais residem, para não carregarem as sacolas nas mãos. Essa atitude dos consumidores causa um prejuízo em torno de R$ 600 (seiscentos reais) por carrinho ao supermercado. Mas esse, por sua vez, prefere adotar a política da não abordagem de clientes na saída do supermercado para proibir que levem os carrinhos, pois tem medo de colocar limites para proteger um objeto que é seu e acabar se indispondo com clientes, perdendo a fidelização e o retorno destes para novas compras.

Outro ponto bom para elucidar essa questão do “não limitar” é o que vem acontecendo nas academias em relação ao uso de máscara pelos frequentadores, como alunos e os próprios professores. Considerando que as academias ficaram fechadas durante um tempo considerável pela Pandemia, é explicável que gestores e equipe estejam receosos quanto ao movimento e retorno de alunos, principalmente, pela questão financeira. Manter um aluno fidelizado é um motivo adotado por gestores acadêmicos. Mas não é aceitável como razão para a adoção do “não vou me indispor para não perder” a não exigência do cumprimento do uso adequado de máscaras e adoção de hábitos de higienizaçã. O entendimento de todos deve ser que em primeiro lugar, o uso de máscaras é uma medida protetiva, e, em segundo lugar, uma condição para que estabelecimentos não sejam multados em valores como R$ 5 mil e não sejam interditados, podendo permanecer fechados novamente, tirando de todos os outros frequentadores, o direito a estarem nesse ambiente em busca de saúde mental e física.

Sendo assim, é bastante importante o entendimento de que quem ama, educa; e quem respeita o que é seu, limita e cuida. A atitude de sinalizar, pedir, fazer colocações sobre cuidados pessoais e coletivos é extremamente importante ao bom convívio entre seres humanos e fundamental ao desenvolvimento da sociedade.

O que é do outro não se pode controlar. No entanto, é possível controlar as próprias atitudes respeitando tudo aquilo que é importante para o outro e para que a interação com o outro aconteça da forma mais saudável possível.

Por isso, a troca entre saber falar e saber ouvir demonstrando empatia e agindo em uma postura de conscientização sobre zelar por si mesmo e pelo outro é bastante válida e necessária para que todos sigam na marcha da evolução humana de maneira responsável e madura. Saber ouvir os limites do outro sem adotar atitudes agressivas ou esbravejadoras demonstra um amadurecimento incrível.

Imagem destaque baixada por Download gratuito do site Pinterest em 08/09/2021 através do link: https://br.pinterest.com/pin/834291899724910733/

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