A reação ao diferente

A reação ao diferente

O ambiente esportivo costuma exercer um fascínio muito interessante sobre as pessoas. Quando ocorre um evento esportivo em nível mundial, como as Olimpíadas ou a Copa do Mundo, esse fascínio é muito maior e muito mais evidente. Mesmo quem não costuma acompanhar os campeonatos locais, o desempenho dos atletas e dos clubes se envolve, de alguma forma, com o ambiente que o evento esportivo em escala global proporciona.

 

Assim, naturalmente, ao nos envolvermos com a clima de campeonato, acabamos nos tornamos expectadores, torcedores, comentaristas e, acima de tudo, críticos. Neste contexto, se torna notório o quanto nós criamos expectativas e, justamente por criarmos expectativas, também fica evidente o quanto situações fora do previsível causam grande surpresa.

 

 Nesta Copa do Mundo no Catar tivemos novamente a oportunidade de observar como as pessoas lidam com situações diferentes das esperadas. O “diferente”, ou seja, o que está fora das expectativas, causa admiração. Foi comum encontrar comentários como, por exemplo, “a seleção do Marrocos surpreende porque joga diferente”, “Messi e Mbappé são jogadores diferenciados” ou “a seleção brasileira deveria ter jogado diferente contra a seleção da Croácia”.

 

Evidentemente, a estratégia de surpreender o adversário é inerente a qualquer estratégia competitiva. Se o esquema tático do time adversário fosse totalmente previsível, seria relativamente mais fácil organizar uma estratégia de jogo para neutralizar o adversário e alcançar a vitória. A busca pela diferenciação é constante.

 

Ao fazer um paralelo com o mundo corporativo, surpreender o concorrente é um passo importante para ganhos competitivos de mercado. Mesmo do ponto de vista do consumidor, ser bem tratado(a), de forma diferenciada, pelo vendedor causa uma boa experiência de compra e fidelizar o cliente.

 

Podemos, neste sentido, associar o “diferente” como o “inovador”. A inovação, tanto nas competições esportivas quanto na concorrência empresarial vem no sentido de provocar surpresa, admiração e uma boa experiência. A busca pela inovação deve ser, portanto, constante.

 

Entretanto, é justamente aqui que podemos perceber o grande dilema de quem busca inovação. Ao tentar fazer algo diferente, não temos a menor garantia que a ação será, de fato, um sucesso. A inovação envolve riscos. Mas, o referido fascínio que o “diferente” provoca só ocorre quando foi exitoso.

 

Quando o “diferente” não é bem-sucedido, a reação é de repulsa e não de fascínio. “Se a seleção brasileira tivesse jogado como o de costume, não teria sido eliminada da Copa do Mundo” ou ainda, “se a empresa tivesse feito o que todas as outras já fazem não teria cometido esses erros”. Afinal, para quê “inventar a moda”? (Quem nunca ouviu isso, pelo menos uma vez?)

 

É compreensível quando muitos empresários preferem adotar soluções tradicionais ao invés de algo diferente. Ao adotar ações já conhecidas e amplamente praticadas, a empesa reduz o risco. Soluções tradicionais, por já serem conhecidas, tendem a trazer resultados previsíveis.

 

Reduzir o risco não é ruim. Porém, ao fazer isso sempre, a empresa deixa sistematicamente de inovar. A inovação impõe este desafio. É necessário assumir riscos. E poucos estão dispostos a isso.

 

Desta forma, estamos propensos a valorizar muito quem inova. Mas, acima de tudo, devemos valorizar muito quem tenta fazer o diferente e, mesmo tendo fracassado, não se deixa abater pela avalanche de críticas e continua buscando a inovação.

 

O bom planejamento reduz as chances de fracasso. Mas o aprendizado a cada tentativa de fazer diferente leva ao encantamento.

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