O processo de geração de ideias
No dia 31 de maio de 1858, nascia em Monkwearmouth, no Reino Unido, Graham Wallas. Pouco conhecido pela maioria de nós, Wallas foi um psicólogo e pensador social que, junto com figuras ilustres da sua época, como Sidney Webb, Beatrice Webb e George Bernard Shaw, fundou a London School of Economics, uma renomada universidade britânica, apontada por diversos rankings como uma das melhores do mundo em sua área.
Entre as suas obras estão “Natureza Humana na Política”, de 1908, que analisa os impactos da Revolução Industrial na sociedade da época. Aprofundando-se na análise da sociedade também estão outras obras como “Grande Sociedade” de 1914 e “Nosso Patrimônio Social”, de 1921.
Por esta breve apresentação, nota-se que Wallas foi uma figura respeitável no meio científico, com amplo conhecimento da psicologia, observador dos comportamentos individuais e sociais e, ainda, que debatia as suas ideias com grandes autores de outras áreas do pensamento.
Neste contexto, em 1926, Graham Wallas lançou um livro particularmente interessante chamado “A Arte do Pensamento”. Neste livro, o autor apresentou uma teoria para o processo criativo que viria a se tornar uma referência até a atualidade, quase um século depois.
De acordo com Wallas, o processo criativo está baseado em quatro estágios: 1. Preparação; 2. Incubação; 3. Iluminação e 4. Verificação. Todos nós, necessariamente, passamos por estes quatro estágios para que possamos solucionar um problema.
Na Preparação, o primeiro estágio do processo criativo, nós nos deparamos com uma necessidade, um problema ou um obstáculo e percebemos a necessidade de superá-lo. Neste estágio, precisamos conhecer todos os aspectos do problema e nos esforçamos para compreendê-lo em sua plenitude.
Quais foram as causas deste problema? Quais serão as consequências se nada for feito para resolvê-lo? Quais são as variáveis envolvidas? Ele exige uma solução urgente? A quem posso recorrer? E, neste sentido, dezenas de outras perguntas poderiam ser formuladas para uma melhor compreensão do obstáculo.
A Preparação é, portanto, um esforço consciente, de dentro para fora, em que nós vamos em busca das informações necessárias para que possamos resolver a questão que nos foi imposta.
Logo após a compreensão do problema, é provável que você ainda não saiba como resolvê-lo. Mesmo com todo o esforço para conhecer as variáveis envolvidas, a sensação ainda pode ser de inércia. Afinal, como resolvê-lo? Ainda não sei o que fazer.
Neste momento, já estamos no segundo estágio do processo criativo proposto por Wallas, conhecido como Incubação. Ao contrário da Preparação, que envolvia um esforço consciente para buscar informações, a Incubação é um processo inconsciente.
Ainda não sabemos o que fazer, mas o cérebro já está em plena atividade na busca de soluções para aquele problema que nos esforçamos para conhecer. O período deste estágio pode variar muito, a depender do problema e das circunstâncias. Talvez dure alguns segundos ou talvez algumas semanas.
É justamente aqui, na Incubação, que as pessoas geralmente desistem e passam a considerar a si mesmas como não criativas. Afinal, já compreendi o problema e nada me vem à mente para solucioná-lo. A tentação da desistência é intensa neste momento. O processo criativo, porém, necessita deste estágio. É importante perceber que, apesar da sensação de dúvida, o processo criativo está em seu curso natural.
O estágio posterior é a Iluminação. O nome já indica que é neste estágio que as ideias acontecem. É comum ouvir das pessoas relatos de ideias que teriam surgido “do nada” diante de uma certa situação problemática. Esta impressão vem pelo fato da Incubação ser um processo inconsciente e a Iluminação ser marcada pelo início do fluxo de ideias.
Na iluminação temos o momento de surgimento da ideia, representado por expressões diferentes ao longo do tempo e do contexto, como “eureca” ou o “insight”. Na teoria Gestalt, por exemplo, que considera os fenômenos psicológicos como totalidades organizadas e articulados, o termo insight representa uma organização imediata de elementos que estavam desorganizados e desconectados.
No entanto, nem toda ideia obtida deve necessariamente ser a melhor solução para o referido problema. Apesar de não se configurar como uma regra, normalmente a primeira ideia não deve ser a melhor, na medida que poderá ser aprimorada.
Assim, o último estágio do processo criativo apontado por Wallas é o da Verificação. Neste estágio, a ideia é testada. Ela realmente resolve o problema?
Caso a ideia seja eficaz na solução do problema, o processo criativo se encerra. Se a ideia não resolve, certamente é porque alguma variável que caracteriza o problema não foi atendida.
Neste caso, a percepção de uma variável até então não percebida leva o indivíduo de volta ao estágio de Preparação, na medida em que o problema continua sendo compreendido. Porém, é esperado que o fluxo do processo criativo passe a ser mais rápido.
O modelo de quatro estágios é fundamental para que nós tenhamos consciência do fluxo do processo criativo. A falta de uma ideia indica que ainda precisamos avançar no processo, mas não indica incapacidade. Assim, todos nós somos criativos.
Além disso, o fato de ter sido apresentado por um expoente da ciência da época, como Graham Wallas, reforça a tese de que o processo de geração de ideias não depende de um dom ou de herança genética, mas, ao contrário, pode ser aprendido, treinado e constantemente aprimorado por qualquer pessoa.