
Ainda dá tempo de mudar?
A senadora Marta Suplicy (PT-SP) espantou petistas e agradou tucanos com uma bombástica entrevista no domingo, publicada em O Estado de S. Paulo. Na entrevista, a senadora não poupou críticas ao PT e ao governo Dilma Rousseff (PT).
Parecia mais um adversário falando. Não uma das fundadoras do PT, partido que se firmou no cenário brasileiro pregando a ética com todas as suas forças, mas que hoje tem filiados alvos de denúncias de corrupção e até alguns condenados.
Marta Suplicy não economizou nas palavras. Disse que cada dia que abre os jornais fica mais indignada com os escândalos noticiados. Mas a pá de cal foi a frase: “Ou o PT muda ou acaba”. Pesado, mas com a credibilidade de quem passou décadas no partido e por ele foi eleita várias vezes.
É claro que os analistas de plantão já cuidaram de dizer que a senadora quer deixar o partido de olho na disputa para a Prefeitura de São Paulo, no próximo ano. Que no PT não teria espaço, já que o prefeito petista Fernando Haddad deve ser candidato à reeleição.
Faz sentido. Mas não é apenas isso. Marta Suplicy, anos depois de Marina Silva, se descobriu incomodada em um partido onde muitos já se incomodaram. E é justo dizer que esta não é prerrogativa petista. Praticamente todos os partidos sofrem defecções muitas vezes barulhentas.
A principal pergunta, extraída da fala da senadora e ex-ministra é a seguinte: Dá, ainda, tempo de mudar o PT? Aparentemente o partido perdeu o timing para fazer isso. Assim como ocorreu com outros partidos que foram se alterando ao longo do tempo.
Quem conheceu o MDB e, depois, o PMDB que combateu a ditadura, capitaneou a campanha das Diretas Já e articulou a eleição indireta de Tancredo Neves sabe que hoje restam apenas sombras daquele partido.
Isso porque a maioria daqueles peemedebistas buscou outros caminhos, notadamente o PSDB, fundado por dissidentes do PMDB. E quem viu a legenda dos tucanos nascer sabe que muito dos ideais foram deixados pelo caminho.
Isso pra ficar apenas em duas legendas. Outras trocaram de nomes, siglas e números. Se refizeram, mas seguem o tortuoso caminho de pouca ideologia e muito interesse.
E se mostram tão iguais que na hora do voto se juntam. A polarização é mínima porque o objetivo é sempre chegar ao poder. Para isso vale atropelar nomes e currículos. Sonhos e ideais.
Por isso os partidos estão onde chegaram. Abusaram tanto dos meios que chegam ao fim desgastados, puídos, podres. E isso vale para quem ocupa o poder ou apenas se serve da sombra oferecida.