As casas estão no chão

As casas estão no chão

É difícil que qualquer desculpa, agora, dê resultado. É quase impossível que qualquer nota oficial, neste momento, convença editores de jornais, assim como não se imagina ser fácil convencer leitores a acreditar em justificativas que venham do Palácio Rio Branco ou da Câmara de Vereadores. As casas estão no chão. Depois que a poeira da Operação Sevandija baixar, não deverá sobrar muita coisa, já que os principais políticos da cidade estão sendo investigados por sérios desvios de conduta. Talvez eles sejam inocentes, mas será muito difícil convencer a Justiça e os eleitores — principalmente os eleitores, já desconfiados até das sombras dos políticos. Verdade seja dita: quem acompanha o dia a dia da Câmara e da Prefeitura não tem provas, mas sabe de todos os indícios, por isso, ninguém ficou surpreso. Apenas algum nome ou fato causou espanto. Agora, fica claro que a votação das contas da prefeita Dárcy Vera estava sendo negociada, enquanto o prazo estabelecido pela Lei Orgânica do Município (LOM) — com a devida cobrança da imprensa e de alguns vereadores — já está vencido há mais de um mês. As gravações de ligações telefônicas dão conta de que a prefeita nunca teve os 15 votos necessários para derrubar o parecer do Tribunal de Contas do Estado (TCE), contrário à aprovação das contas de 2012 e 2013. As ligações apontam que o governo, a duras penas, conseguiu 14 votos. A justificativa de ampla defesa da prefeita, divulgada oficialmente pelo presidente da Câmara, Walter Gomes (PTB), no mês passado, soa agora como uma inverdade. A credibilidade do legislativo despenca. Mesmo que fosse assim, o prazo já está vencido. É natural. Fica difícil acreditar em um Legislativo que prefere descumprir a Lei Orgânica a permitir uma derrota à chefe do Executivo. Demonstra que não são fiscalizadores. São aliados incondicionais. Por isso, as casas estão no chão. Porque o tráfico de influência parece ter sido utilizado por grande parte dos vereadores e pelo Executivo, que insinua a “compra” de votos em ligações gravadas nas investigações. Nesse momento, não dá para falar em sacudir a poeira e dar a volta por cima. Não há mais poeira. Há muita lama sob os escombros. Que os políticos consigam aprender alguma lição. Que os eleitores abram os olhos antes de apertar a tecla verde.

QUE FALE 

Depois que a prefeita Dárcy Vera (PSD) disse que se ela abrir a boca apenas dois vereadores da base aliada se reelegem, muitos candidatos de primeira viagem estão rezando para que ela fale. É a chance que eles têm de conquistar uma cadeira na Câmara. Tem muito eleitor também rezando para que ela fale em um microfone bem forte.

COMPANHIA

Dárcy disse que não aguenta mais os vereadores de Ribeirão Preto. Ela está bem acompanhada. Tem muita gente que não aguenta mais nem olhar para o prédio da avenida Jerônimo Gonçalves, 1200, tal é a situação de desgaste do Legislativo. Parte dos vereadores só pensa em aprovar homenagens, nomes de próprios municipais e defender o Executivo.

QUASE SEM QUÓRUM 

Enquanto nove vereadores continuam afastados de suas funções públicas, as sessões seguem com apenas nove vereadores em plenário, número insuficiente para votar vários projetos que exigem quórum qualificado de dois terços da Casa, ou seja, de 15 vereadores.

ENTRE ASPAS

“Enquanto os corruptos e corruptores trabalhavam em benefício próprio, nós trabalhávamos para detectar estes desvios”. Élcio Neto, promotor de Justiça de Ribeirão Preto, a respeito das investigações da Operação Sevendija, deflagrada na semana passada

Foto: Julio Sian

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